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Mulher presa por engano durante o Enem em Teresina conta o que passou

Invisível. Essa é a palavra que define como Maria da Penha dos Santos se sentiu no último domingo (21), dia em que foi presa por engano durante a aplicação da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em Teresina. O mandado cumprido pela polícia era contra outra pessoa que tem o mesmo nome da candidata.

“Eu fui passando a ser invisível assim, um erro após o outro. Aquela pessoa era eu. De repente você sente que alguém te zipou, te abriu da senhora de si, da pessoa que você é e te impõe outra pessoa. Naquele momento eu era outra pessoa, eu era tratada como outra pessoa. Eu era tratada como uma criminosa”, disse Maria da Penha.

De acordo com o G1a mulher se inscreveu no exame para conquistar uma vaga no curso de licenciatura em inglês em uma universidade pública do Piauí. Entretanto, esse sonho foi interrompido quando policiais entraram na sala onde ela respondia a prova e a levaram para a Central de Flagrantes.

“Eu tentei falar, tentei me expressar, tentei me explicar. Eu disse que não era eu, que o mandado não era contra mim, que eu nunca, em hipótese nenhuma, cometi um crime de nenhuma natureza ou gravidade. Quanto mais um que me levasse a ser retirada na frente do meu marido e da minha filha, e eles ficaram na sala, mas sem saber o que tinha acontecido, porque não pode sair”, comentou à TV Clube.

Na sala estava também o marido e a filha de 22 anos de Maria da Penha. “A partir do momento que ela saiu da sala de aula e a gente não teve retorno do que havia acontecido, isso me prejudicou porque eu não consegui ler as questões, não consegui assimilar nada e a dúvida de qual seria o motivo dela não estar fazendo a prova”, contou a filha da mulher, Yarla Santos.

O mandado de prisão foi expedido pelo Tribunal de Justiça do Ceará e tinha o nome da pessoa procurada, Maria da Penha dos Santos, o nome da mãe Antônia Pereira dos Santos e o nome do pai Raimundo Ferreira Modesto, mas não informava o Registro Geral, Cadastro de Pessoa Física (CPF) e nem a naturalidade da pessoa.

O delegado Wilame Moraes, responsável pela operação que prendeu Maria da Penha e outras duas pessoas durante o Enem, informou que o nome da mãe da candidata era o mesmo do nome da mãe da mulher que possui o mandado de prisão em aberto. Além disso, os CPFs coincidiam. A única divergência era em relação ao nome do pai.

“Nós, ao consultar o mandado de prisão da Maria da Penha, constava o nome dela, o nome do pai e mãe. Não constava mais nenhum outro dado de identificação. A polícia, então, abordou essa aluna, solicitou que ela mostrasse alguma identificação e ela mostrou uma carteira de identidade, que constava o nome da mãe, nome do pai, RG e o CPF. O CPF que constava na carteira de identidade era o mesmo encaminhado pela Polícia Federal. O único dado que não batia era o nome do pai, que era divergente”, explicou o delegado.

O advogado de Maria da Penha, Éfrem Cordão, tentou explicar aos policiais que não se tratava da mesma pessoa. Entretanto, o erro foi notado apenas na segunda-feira (22), na audiência de custódia.

“Eu comentei, ‘meu Deus, não é possível que a pessoa tendo se identificado, mostrando que o pai não era o mesmo pai e que não fosse ouvida’, isso porque não é minha filha, isso talvez seja pela cor da pele, por se tratar de uma mulher negra que tenham tratado ela dessa forma. De ter o cuidado de verificar o mandado, de ouvi-la”, destacou o advogado.

Maria da Penha ficou bastante abalada com o ocorrido e pretende deixar o sonho de fazer um curso de graduação em uma universidade pública para o próximo ano.

“Mulher, mãe solo, negra, pobre. É difícil. Já é um peso que você tem que carregar. Mas se ninguém quiser me ajudar, muito me basta que não me atrapalhe. Se ninguém quiser me impulsionar para frente, pelo menos não me puxa para trás, não puxa a mim, não puxa a minha filha, o meu marido. Eu já estou satisfeita”, declarou.

No Amapá, um jovem de 18 anos também foi preso por engano enquanto ao sair do local de prova do Enem no domingo (21). A Polícia Federal tinha objetivo de cumprir um mandado contra um foragido por furto qualificado que tinha os mesmo dados pessoais do candidato, que foi liberado após averiguação detalhada antes de ser colocado em cárcere.

Foto: Reprodução

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