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quinta-feira, março 6, 2025
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A entrevista

Durante a Olimpíada Científica de Língua Portuguesa do Piauí- OCLIPI 2024– fui entrevistado por alunos e alunas da Escola Família Santa Ângela, de Pedro II. Como essa entrevista é do interesse de muitas pessoas, pois serve como fonte de pesquisa, resolvi publicá-la aqui. A temática da olimpíada foi “Narrativas tradicionais como representantes das características socioculturais de uma comunidade”.

 

  1. Qual foi sua motivação para fazer o registro das lendas?

Ernâni Getirana: O motivo foi o fato de algum tempo atrás, cerca de 25 anos, como professor, haver percebido que meus alunos não conheciam algumas histórias que eram comum no município de Pedro II até a década de 1970, antes da chegada do sinal de TV na cidade. 

 

  1. Como foi o processo de pesquisa para coletar essas lendas?

Ernâni Getirana: Escrevi algumas histórias que eu já conhecia, três histórias. Depois, como sabia que havia outras, procurei conversar com pessoas mais velhas da cidade, como minha mãe, amigas e amigos dela. Além disso pesquisei sobre folclores e narrativas originárias. 

 

  1. Quais dificuldades você encontrou durante o processo?

Ernâni Getirana: As dificuldade foram no tocante à falta de livro na cidade que tratassem do tema. Então me dei conta que eu era o primeiro a pesquisar aquelas histórias lendárias.

 

 

  1. Existem mais lendas além das registradas no livro? Se existem, como você decidiu quais registrar?

Ernâni Getirana: Eu detectei 9 lendas. Isso faz 25 anos, todos os anos desafio alunos e alunas a me trazerem outras narrativas, mas isso não acontece. Quando acontece eu mostro que elas são derivações das 9 lendas.

Contudo ultimamente há pequenas narrativas que classificaria como  ‘Lendas Urbanas”, que estou estudando/pesquisando no momento.

 

  1. Alguma lenda específica chamou mais sua atenção?

Ernâni Getirana: Sim, “Cama de Baleia”, porque descobri que há uma narrativa-eixo recontada em pelo menos 9 municípios piauienses. No caso de Pedro II, tem a ver com muito provavelmente com a extração de opala (como venho descobrindo só nos últimos anos).

 

  1. Como você fez para garantir a autenticidade das lendas que registrou? Houve algum critério específico para validar as histórias?

Ernâni Getirana: Após escrever, continuei minha pesquisa teoria. Mas a autenticidade está no fato de serem histórias de literatura oral (sobre a qual acabo de inserir num livro didático que conclui há pouco).

São narrativas que atravessaram o tempo de boca-em-boca, aí está sua autenticidade.

 

  1. Como registrar essas lendas impactou sua visão sobre a cultura e a história da região?

Ernâni Getirana: Elas me proporcionaram uma visão mais alargada sobre o povo de Pedro II, sua sabedoria ancestral, sua maneira de ressignificar a realidade dura do dia a dia.

Tanto assim que meu mestrado foi um aprofundamento dessas identidades sociais dessa gente, no caso os garimpeiros de opala.

 

  1. Na sua opinião, qual a importância de preservar essas narrativas tradicionais para as futuras gerações?

Ernâni Getirana: A importância deve-se ao fato de que essas lendas ajudam a nos entender, compreender como povo, com suas peculiaridades, vivências, crenças, etc. Como já há alguns trabalhos científicos que versam sobre essas lendas, as análises me dão essa certeza.

Além disso, elas ajudam a enriquecer a mente das crianças, além de ajudá-las no aprendizado da leitura, como já me disseram algumas professoras.

Finalmente as lendas me ajudaram a aprofundar meus estudos sobre o município de Pedro II, de forma que acabo de escrever um livro didático que se chama “História, Geografia e Literatura do Município de Pedro II”.

Além disso, as lendas ajudam a evidenciar o município através das entrevistas que tenho dado a TVs, rádios, feiras literárias, etc. Inclusive há um documentário que está sendo feito sobre aas lendas, além de uma peça de teatro pelo grupo Urutau.

 

  1. Como a comunidade local reagiu ao ver suas lendas registradas e publicadas?

Ernâni Getirana: Pelo que percebo as comunidade tem visto com bons olhos. Sou muito solicitado a dar palestras sobre as lendas, todos os anos sou convidado a assistir peças de teatro em escolas sobre as lendas.

 

  1. Você tem alguma lenda favorita entre as que registrou? Poderia compartilhar um pouco sobre ela?

Ernâni Getirana: Todas elas são importantes para mim. Mas a lenda da ‘Sereia do Pirapora’ é especialmente significativa. Diz-se de uma menina que se encanta após tentar pegar um pássaro  que cantava para ela todos as tardinhas no olho d’agua Pirapora. E ainda hoje em dia, em algumas noite de lua cheia ouve-se uma voz de mulher cantando no paredão do Piarapora .

 

  1. Você tem planos para registrar mais lendas no futuro? Quais regiões ou culturas você gostaria de explorar a seguir?

Ernâni Getirana: Sim, tenho. Estou pesquisando narrativas urbanas, assim também como narrativas antigas. Gostaria de estudar as culturas afro e ameríndia.

 

  1. Ao fim do nosso projeto, nós iremos produzir um livreto, que será disponibilizado para a biblioteca da escola, com algumas das histórias coletadas e um estudo sobre a importância das mesmas para a comunidade. Você permitiria que registrássemos algumas das lendas disponíveis no seu livro, dando a você todos os créditos referentes à propriedade dos registros?

Ernâni Getirana: Sim, claro. Obrigado. Será um prazer. Quero ir ao lançamento.

(*) Desenhos de Jackson Cristiano e Arimatéa Junior

 

 

ERNÂNI GETIRANA (@ernanigetirana) é professor, poeta e escritor. Membro da academia ALVAL e APLA (da qual é o atual presidente), pertence à UBE. Pesquisador e autor de vários livros, dentre eles ‘História, Geografia e Literatura de Pedro II, Piauí”, no prelo. Escreve  às quintas-feiras para a coluna de cultura do News Piauí.

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