Depois de uma apuração apertada para decidir os dois nomes que disputariam a Presidência do Peru no segundo turno, Keiko Fujimori e Pedro Castillo apareceram empatados na pesquisa de boca de urna divulgada logo após o fechamento das seções, neste domingo (6).

Segundo o instituto Ipsos, a direitista Keiko, 46, tem 50,3% dos votos, contra 49,7% do esquerdista Castillo, 51, que chegou à frente no primeiro turno. A margem de erro do levantamento é de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos.

Na madrugada, a apuração oficial, com 83,81% dos votos contabilizados, mostrou Keiko na liderança com 51% dos votos, contra 48,98% de Castillo. Apoiadores do candidato foram às ruas após o resultado em algumas cidades, o que o fez pedir calma. Pelo Twitter, convocou “o povo peruano de todos os rincões do país a ir em paz às ruas para estarem vigilantes em defesa da democracia”.

Com um megafone, ele se dirigiu a um grupo reunido na frente do comitê de sua campanha e disse que a boca de urna não é o resultado e que era preciso esperar os números oficiais —o órgão eleitoral previa a primeira divulgação parcial à 1h30 (horário de Brasília).

Keiko também pediu calma aos apoiadores. “Os resultados de boca de urna foram recebidos com alegria, mas como a margem é tão pequena é preciso ter prudência. Essa campanha já terminou, e será fundamental a partir de amanhã encontrar os pontos de diálogo com os diversos grupos políticos”, disse.

“Invoco a prudência, a paz; por isso, vamos esperar os resultados da ONPE [órgão eleitoral].”

Horas antes, a TV peruana mostrou imagens da candidata comemorando com familiares —inclusive com o irmão Kenji, de quem estava afastada desde uma disputa política que começou em 2016 envolvendo a negociação de um indulto ao pai deles, Alberto Fujimori, que governou o país entre 1990 e 2000.

O irmão mais novo se reaproximou da candidata recentemente, participando da campanha por meio das redes sociais e com vídeos no TikTok.

Em um longo dia de votação, com urnas abertas durante 12 horas e divisão dos eleitores em faixas de horário para evitar aglomerações devido à pandemia de coronavírus, os candidatos baixaram o tom dos ataques que vinham trocando até aqui. O discurso comedido destoou daquele visto na campanha eleitoral, em que houve troca de farpas e ameaças mútuas.

Keiko afirmava que Castillo significaria o caminho do Peru para se transformar na Venezuela, e Castillo dizia que a adversária seria uma continuação da gestão cheia de abusos de direitos humanos como foi a do pai dela. Como é tradição no país, ambos os candidatos realizaram os cafés da manhã eleitorais, em que se reúnem com apoiadores e familiares antes da jornada de votação. Keiko preferiu fazê-lo num dos bairros mais pobres de Lima, San Juan de Lurigancho, ao ar livre.

A direitista prometeu respeitar o resultado, diferentemente de outros anos, em que fez acusações de fraude. Ela já foi candidata em 2011 e em 2016, perdendo ambas as vezes no segundo turno. “Não sabemos qual será o resultado, mas, seja qual for, ratifico nosso compromisso de respeitar a vontade popular, de dizer que será a decisão que o nosso país definir, se tenho que servir como presidente do Peru ou como uma simples cidadã”, afirmou.

Já Castillo, numa mesa ao ar livre, diante de sua casa em Cajamarca, também repetiu que aceitará os resultados. “Vamos respeitar a democracia. Estamos aqui para nos apresentar para tentar oferecer uma solução para os problemas do Peru. Não apenas quero reafirmar que respeitarei resultados, mas também gostaria de pedir tranquilidade a todos”, afirmou.

Keiko votou no fim do dia, em Surco, enquanto Castillo o fez pela manhã, em Tacabamba.

Ainda sem números oficiais de comparecimento às urnas, emissoras locais de televisão afirmavam que muitas mesas de votação tiveram um público escasso. A pandemia e o fato de ambos os candidatos terem alta rejeição podem ser parte da explicação.

A expectativa é a de uma apuração dos votos acirrada —segundo a pesquisa mais recente, realizada pelo instituto Ipsos, Castillo somava 51,1% das intenções, e Keiko, 48,9%, um empate técnico, já que a margem de erro era de 2,5 pontos percentuais.

Houve poucos incidentes envolvendo figuras públicas neste domingo. O controverso líder do Peru Libre, partido de Castillo, Vladimir Cerrón, apareceu para votar com uma camiseta da legenda —branca, com gola e bolsos vermelhos—, coberta por uma jaqueta. O gesto fere a lei eleitoral e foi denunciado por militantes do fujimorismo. Cerrón é investigado por corrupção, assim como a própria Keiko.

O presidente peruano, o interino Francisco Sagasti —o quarto a ocupar o cargo no atual mandato—, votou cedo, às 8h, em Lima, e pediu calma durante a apuração dos resultados. O mandatário afirmou que até seu último dia do cargo irá cumprir a promessa de uma transição pacífica. Também pediu “respeito ao resultado eleitoral” por parte dos dois candidatos.

O vencedor do pleito assume em 28 de julho, dia do bicentenário da independência do país.

Fonte: Folhapress