A SpaceX, do bilionário Elon Musk, quer alcançar uma nova etapa em sua empreitada no turismo espacial. A meta da empresa agora é realizar a primeira caminhada espacial da história em uma missão comercial, batizada de Polaris Dawn.
Neste caso será usada a nave Crew Dragon, e não a Starship, a maior do mundo. A missão poderá atingir outro feito: alcançar 1.400 km de altitude, o que será o ponto mais distante da Terra alcançado por humanos desde o programa Apollo, encerrado em 1972. A Estação Espacial Internacional (ISS), por exemplo, fica a 420 km da Terra.
O plano é levar quatro passageiros em um voo de cinco dias partindo do Kennedy Space Center, base da Nasa, na Flórida, Estados Unidos. O lançamento está previsto para as 4h38 (horário de Brasília) desta terça-feira (27), mas poderá ser adiado para o final da manhã ou para quarta-feira (28).
Esta será a primeira missão do programa Polaris, organizado pelo bilionário Jared Isaacman, um dos passageiros deste voo. Outros dois voos dentro dessa iniciativa são previstos pela SpaceX, incluindo um com a Starship, a maior nave espacial do mundo.
Como será o voo?
A expectativa é de que o voo tenha cinco dias de duração, com momentos-chave da missão logo após o lançamento. Segundo a SpaceX, os primeiros minutos após a decolagem devem seguir as etapas abaixo:
- 58 segundos após o lançamento: foguete Falcon 9 atinge o “Max Q”, como é conhecido o pico de estresse mecânico;
- 2min38: motores do 1º estágio (Falcon 9) são desligados;
- 2min42: 1º e 2º estágios do veículo espacial se separam;
- 2min51: motores do 2º estágio são ligados;
- 7min39: reentrada do 1º estágio na atmosfera;
- 8min59: motores do 2º estágio são desligados;
- 9min35: 1º estágio pousa em uma embarcação da SpaceX no Oceano Atlântico;
- 12min16: Crew Dragon, cápsula onde está a tripulação, se separa do 2º estágio e continua voo;
- 12min58: “nariz” da Crew Dragon, no topo da cápsula, começa a abrir.
Como será a caminhada espacial?
Flutuar no espaço exigirá uma preparação nas 45 horas anteriores, segundo a agência de notícias Reuters.
Os tripulantes passarão por um processo de “pré-respiração”, voltado para preencher a cabine da nave apenas com oxigênio. A ideia é evitar a presença de nitrogênio, que, se estiver na corrente sanguínea, pode bloquear o fluxo de sangue nos passageiros.
Antes da saída, a Crew Dragon é despressurizada e exposta ao vácuo do espaço. A caminhada espacial também exige trajes específicos, que foram desenvolvidos pela SpaceX para esta missão.
O uniforme batizado de traje para atividade extraveicular (EVA, na sigla em inglês) foi fabricado com materiais dos foguetes da empresa, um visor e uma câmera de última geração no capacete, além de tecidos térmicos e um design que promete dar mais mobilidade aos astronautas.
Representantes da SpaceX e os passageiros da Polaris Dawn dizem que planejaram vários cenários de contingência caso algo dê errado na missão, como vazamento de oxigênio ou falha para vedar novamente o domo da Crew Dragon.
Quem são os passageiros?
- Jared Isaacman (comandante), presidente-executivo do serviço de pagamentos americano Shift4. Em 2021, ele bancou e participou da missão Inspiration4, também da SpaceX, em que tripulantes civis ficaram na órbita da Terra durante três dias, sem a presença de astronautas profissionais, sum feito histórico no turismo espacial.
- Scott Poteet (piloto), tenente-coronel aposentado da Força Aérea americana.
- Sarah Gillis (especialista de missão), engenheira de operações espaciais da SpaceX, responsável pelo programa de treinamento da empresa para astronautas.
- Anna Menon (especialista de missão e médica), engenheira de operações espaciais da SpaceX e responsável por gerenciamento de missões.
Isaacman tem uma fortuna de quase US$ 2 bilhões (R$ 11 bilhões). Ele é o único da tripulação com experiência em voos espaciais – em 2021, ele financiou a Inspiration4, primeira missão espacial totalmente civil a orbitar a Terra.
Isaacman também está financiando o programa Polaris e, apesar dele ter se recusado a dizer quanto gastou, estima-se que o valor tenha chegado a US$ 100 milhões (R$ 550 milhões), segundo a Reuters.
Os passageiros estão se preparando há dois anos para a missão, período em que treinaram paraquedismo, pilotagem de aeronaves, voo em gravidade zero, entre outras técnicas.
Qual o objetivo da missão?
Além do turismo espacial, a missão servirá para realizar 36 experimentos científicos. Um deles envolve o uso de lentes de contato inteligentes para medir como uma altitude tão significativa altera o organismo, em especial a pressão intraocular.
O estudo realizado em parceria com a Universidade do Colorado em Boulder, nos EUA, busca obter mais informações sobre a chamada síndrome neuro-ocular associada a viagem espacial (SANS, na sigla em inglês).
A presença prolongada no espaço pode alterar a visão, já que os fluidos do corpo se deslocam para a cabeça, exercendo pressão sobre os olhos. A SANS pode alterar a capacidade de foco, em alguns casos de forma permanente.