Vou cometer uma indiscrição. Uma não, duas. Numa conversa informal dessas que costumava manter com o professor Cineas Santos a bordo da Oficina da Palavra para lançamento de livros, conversa vai, conversa vem e eu falei em alguns nomes de poetas, dentre esses nomes estavam os de Graça Vilhena e Climério Ferreira.
De Graça, Cineas me disse “A Gracinha não perde um (poema), não perde um!!!
De Climério, sentenciou o professor: “Velho babão, velho babão! Cada poema dele é uma acontecência!”.
NO ESCURINHO DO CINEMA
Poesia do século passado
Magia de luz e sombra numa sala escura
Tecendo filme a filme o sonho encantado
Erigiu um novo tipo de cultura
Lançando aos corações deusas e galãs
Na invenção de uma nova linguagem
Cheia de heróis, repleta de vilãs
No universo resultante da montagem
(Climério Ferreira)
ENVELHECER
não se envelhece
com o passar dos dias
e sim pela descoberta
de que as noites
só servem para dormir
(Graça Vilhena)
O TEMPO E OS IPÊS
O inverno no cerrado se aproxima
Eis o que o roxo do ipê já anuncia
Esse roxo quase lilás é obra-prima
Que o tempo todo ano cria
O tempo é pintor e saltimbanco
Que produz essa pintura primorosa
Ao fim da seca pinta o ipê de branco
Em lugar do amarelo e do rosa
(Climério Ferreira)
CENA FAMILIAR
o avô e a avó tossem
o pai viajou
a mãe talvez volte
o menino alheio ao perigo
brinca à sombra do relógio.
(Graça Vilhena)
ERNÂNI GETIRANA (@ernanigetirana) é professor, escritor e poeta. Membro da APLA, da ALVAL, do IHGPI. Em Pedro II possui o espaço cultural TOCA DAS LENDAS- Livraria Cruviana. É autor, dentre outros livros, de “Lendas da Cidade de Pedro II” e “Debaixo da Figueira do Meu Avô”. Escreve às quintas-feiras para esta coluna.