Pesquisador: Sr. Francisco Silvino Mendes, conhecido com seu Simão, eu queria saber o nome completo, a sua idade e depois eu queria saber como é que o senhor achou a primeira opala em Pedro II.
Sr. Simão: Meu nome é Francisco Silvino Mendes, né? Minha idade é 83 anos. Eu nasci em 1924. No dia 20 de dezembro de 24.
Pesquisador: Certo. Então, um dias desses eu estava lendo sobre a opala em Pedro II num livro da professora Tangneth Galvão, e lá vi o seu nome. E aqui agora falando com o seu Sitõe ele falou “Não, o seu Simão é ainda uma pessoa viva e mora ali no bairro, se quiser pode conversar com ele”. Eu fiquei muito emocionado porque realmente é interessante falar com o senhor.
Sr. Simão: O Sitõe é o que mora aqui, bem aqui?
Pesquisador: Exatamente.
Sr. Simão: É até desses Mendes …
Pesquisador: Exatamente isso.
Sr. Simão: Sobrinho do Miguel Mendes…
Pesquisador: Isso mesmo. É que eu queria que o senhor contasse sua história. Como é que o senhor encontrou a opala?
Sr. Simão (risos) Eu vou contar agora. É o seguinte: eu estava trabalhando, limpando o mato, né? Quando encontrei a opala. A pedra de opala, que eu nunca tinha visto. Eu achei a pedra muito bonita, peguei pra casa e botei lá no caritó. Passou, passou aí depois os meninos derrubaram a pedra lá do caritó e minha mãe levou no cisco pro mato. Lá pro lascador de lenha.
Aí um dia, eu fui cortar um pau de lenha pra fazer um café meio dia, vi uma coisa esquisita no chão, né? Aí eu olhei, aí eu digo: ah, minha pedra que tá aqui. Aí tornei guardar. Aí eu conversando com o Cazuza Pequeno, que era o rapaz que trabalhava com capitão Lauro [Cordeiro], ele disse: “Rapaz, o capitão Lauro anda atrás de quem tem pedra preciosa, deixa eu olhar essa tua pedra. Aí quando olhou, se espantou: “Rapaz, isso daqui é opala!”. Eu me espantei (risos). Digo “Rapaz, isso aí é uma opala?”. Porque eu já tinha ouvido falar em opala também, né?
Pesquisador: Ah, quer dizer que o senhor já tinha visto falar em opala?
Sr. Simão: Eu já tinha visto falar.
Pesquisador: Tá certo.
Sr. Simão: É. Aí, aí .. “Rapaz, agora você faz questão para eu apresentar ao capitão Lauro? Porque ele anda atrás de pedra preciosa em uma trilha aí em qualquer lugar…”, disse o Cazuza Pequeno. Eu disse: “Não, eu faço questão não”. A pedra pesava bem uma quarta [250 g]. Pedra bonita! (risos). Tá ciscando fogo, né? . Aí ele trouxe a pedra, né? Aí quando o capitão Lauro [Cordeiro] viu a pedra disse: “Isso aqui é opala !”. Aí Que ele fez? Arrumou, ajeitou logo uma dúzia de homens, né? No outro dia chegou o cangaço, lápara explorar aonde eu tinha achado a pedra. Aí continuou.
Pesquisador: Como era o nome do lugar?
Sr. Simão: Aquilo é Boi Morto, hoje tá por Boi Morto. Mas o nome era Crispim. Mas depois da mina de opala. Mudaram o nome para Boi morto. Por que o senhor já ouviu falar, né? A mina do Boi Morto.
Pesquisador: É, eu estive lá agora.
Sr. Simão: Aí, moço, como é o seu nome, é Ernâni?
Pesquisador: Ernâni.
Sr. Simão: Aí encontraram muita pedra! (eufórico). O capitão Lauro arrancou uns oitos surrões de opala. Você acredita nisso?
Pesquisador: Acredito (sorridente)
Sr. Simão: Aí ele ficou guardando essa opala, quando um senhor do … da Alemanha, Dr. Zé João Ferreira soube não sei por onde, veio bater aí. Aí propôs negócio pra comprar opala. Capitão Lauro disse: “Eu vendo, tem é pra vender, o dinheiro que eu to gastando aí com meus trabalhadores…”. Aí negociou não sei quantos quilos de opala. Por pressuposto, que ele escolheu só a … de primeira classe, né?
Aí despejaram a opala no chão. Que ele escolhesse todinha a opala boa, né? Aí ele comprou essa opala boa, sabe a como? A vinte mil reis. Naquele tempo era o reis, né? A vinte mil reis o quilo, espia! Aí, rapaz, carregou essa opala, e eu acho que morreu podre de rico, lá (risos) porque.. (risos) por que a motel [grande quantidade de opala] não vale, né? É. E aí então eu fic .. eu fiquei caladinho escutando para ver se a opala volta, nunca voltou … Ele nunca mandou. Aí quando ele entrou lá … “Francisco, o que eu vou fazer contigo é o seguinte: eu vou ficar lá com a pedra, ma eu vou te pagar bem pra tu ficar trabalhando aqui no garimpo”. Aí “tá tudo bem”. Aí nesse tempo era dois mil e quinhentos. Daqueles tempos era .. era mil reis…Eu vou te paga cinco mil reis. Ficou o dobro. Nesse tempo era dois mil e quinhentos, ele disse que ficava me pagando a cinco mil reis. Aí eu fiquei trabalhando na turma a cinco mil reis, né? Aí eu morto de alegre… Imaginando que ia ficar rico (gargalhada). [continua]
(A entrevista foi realizada por mim em outubro de 2007).
ERNÂNI GETIRANA (@ernanigetirana) é professor, poeta e escritor. Escreve às quintas-feiras para essa coluna.