Começou a Era Dorival Júnior na seleção brasileira. A CBF apresentou o ex-São Paulo como novo treinador do Brasil nesta quinta-feira. Ele assinou contrato até dezembro de 2026 e comandará a equipe no ciclo até a próxima Copa do Mundo. A estreia será na segunda quinzena de março, nos amistosos contra Inglaterra e Espanha.
– Hoje estou aqui representando a seleção mais vencedora do planeta, a que inspira muitos no mundo inteiro. E tem obrigação de voltar a vencer. O futebol brasileiro é muito forte, se reinventa. Não pode passar pelo momento que está passando. Que sirva de lição para que possamos encontrar um novo caminho – disse o treinador.
O Brasil volta a campo pelas eliminatórias no início de setembro, contra o Equador, em casa, e visita o Paraguai em seguida. A Seleção é a sexta colocada, com sete pontos, oito a menos que a líder Argentina. Antes, a equipe brasileira tem a Copa América para disputar, entre junho e julho, nos Estados Unidos.
– Precisamos entregar uma seleção confiável, que passe credibilidade a todos nós. E, num segundo momento, tão importante quanto, convoco todos os profissionais que fazem parte do futebol, que estejam envolvidos com futebol. O futebol precisa de cada um de vocês – disse o novo técnico da Seleção.
“A partir de agora não é a Seleção do Dorival, é a Seleção do povo brasileiro”
Dorival relembrou sua trajetória e se disse emocionado com a oportunidade aos 61 anos de idade. Após passar por um câncer, ele treinou Ceará, Flamengo e São Paulo. Nas duas últimas temporadas, conquistou três títulos: duas Copas do Brasil e uma Libertadores.
– É uma satisfação, estou sinceramente emocionado, depois de tudo que eu vivi, de tudo que eu passei. E principalmente nos últimos seis, sete anos, conseguindo vencer dois momentos de muitas dificuldades dentro da minha casa, do meu lar. A minha esposa com um câncer muito agressivo, logo em seguida eu também fui diagnosticado. Isso me fortaleceu ainda mais e pude repensar pontos da minha carreira. São praticamente 54 anos em que o futebol vive dentro da minha casa.
Dorival Júnior
- Data e local de nascimento: 25 de abril de 1962, em Araraquara, São Paulo
- Clubes como técnico: Figueirense, Fortaleza, Criciúma, Juventude, Sport, Avaí, São Caetano, Cruzeiro, Coritiba, Vasco, Santos, Atlético-MG, Internacional, Flamengo, Fluminense, Palmeiras, São Paulo, Athletico-PR e Ceará
- Principais títulos: 1 Libertadores (2022), 3 Copas do Brasil (2010, 2022 e 2023), 1 Recopa Sul-Americana (2011), 2 Paulistas (2010 e 2016), 2 Paranaenses (2008 e 2020), 1 Gaúcho (2012), 1 Pernambucano (2006), 1 Catarinense (2004) e 1 Brasileiro Série B (2009)
Veja outras respostas na entrevista coletiva de apresentação:
Momento da Seleção
– Nosso momento é difícil. Mas nada que seja impossível de revertermos rapidamente. Quem tiver uma observação que possa nos ajudar, nós estaremos abertos. Para qualquer contato possível. Eu conto com todos vocês, para que o futebol brasileiro volte a estar num grande momento. Não tem culpados. Não tem interferências, não tem nada disso. O que nós precisamos a partir de agora é buscar soluções.
Saída do São Paulo
– Eu tinha meu contrato no São Paulo, todos os jogadores contratados foram com a concordância da diretoria. Nós montamos o São Paulo para que o treinador que chegar faça o que bem entender. São jogadores versáteis para termos elenco enxuto em condição de poder abastecer toda e qualquer situação.
Estilo de jogo
– Em todas as equipes, eu me adaptei à equipe. Nunca chego com sistema pré-estabelecido. Prefiro identificar o tenho à mão e depois empregar um sistema. Números para mim são relativos: 3-5-2, 4-3-3, para mim isso é balela. Quero defender com maior número possível e defender com o maior número possível de jogadores. Muito difícil falar agora entre os sistemas do Fernando, do Ancelotti, até porque eles estão em clubes. E dentro de uma seleção é um pouquinho diferente. Esse encaixe é fundamental, para que na prática as coisas deem encaixe.
Instabilidade política na CBF
– O contato com o presidente Ednaldo foi no final de semana. Um prazer a uma satisfação poder chegar neste momento da minha carreira à frente da seleção. Sobre instabilidade política é um assunto em que eu não entro. Tenho a confiança do presidente para fazer meu trabalho daqui para frente, preparar a equipe, ganhar jogos e chegar numa Copa do Mundo que será muito disputada. Vou trabalhar neste sentido, me preparei muito para estar aqui. Tenho uma convicção muito grande que a seleção brasileira vai alcançar seus objetivos.
Mudanças
– Eu acho que não é nem uma mudança de nomes, o que vem acontecendo de uma maneira gradativa em relação à Seleção que jogou a última Copa. É uma mudança emocional, postural. Uma mudança que o atleta tem que entender que está aqui vestindo uma camisa muito pesada, referência no mundo todo. Se nesse instante, não estamos em uma posição adequada em relação à nossa classificação para a próxima Copa, vamos tentar o máximo para reverter tudo isso.
– Primamos por ter um futebol vistoso, bem jogado, mas acima de tudo efetivo. Não podemos deixar essas características. Temos que tentar manter o máximo possível. Temos que voltar a fazer grandes jogos. Todos nós temos que entender um pouco mais o que representa essa Seleção. Acima de tudo, que cada um assuma um pouco mais a responsabilidade quando forem convocados.
Juventude ou experiência
– Pode ser que tenha um treinador que tenha revelado mais jogadores, mas é muito difícil chegar ao número de atletas que dei oportunidade ao longo da carreira. Foi assim na minha primeira equipe, no Figueirense, exemplo é o Felipe Luís, como na minha última equipe, o São Paulo. Sempre contei com uma mescla saudável em qualquer sentido para que tenhamos competitividade da equipe mantida.
– Não vai ser diferente. Para mim não importa, se o Thiago (Silva) estiver bem, ele terá oportunidade. É grande jogador. Ciclos se encerram a partir de um momento que um outro esteja bem melhor. Temos que ter equilíbrio, consciência. Vou errar, de repente não convocando um ou outro, mas vou tentar trazer aqueles que estão em melhores condições.
“Feijão com arroz”?
– Eu fico muito tranquilo. Minha primeira equipe, o Figueirense, depois a quarta equipe, o Juventude, a décima equipe, que foi o Santos de 2010, a penúltima o Flamengo, a última o São Paulo. Todas jogavam de uma forma diferente. Então esse feijão com arroz tinha sempre um tempero diferente de cada estado. Eu ajudei a salvar seis equipes grandes do rebaixamento. E cheguei a decisões importantes de competição. Não voltei três vezes ao Flamengo, duas ao Santos, duas ao São Paulo por acaso. Foi porque deixei algo plantado. Se foi um feijão, ou se foi um arroz, eu acho que agradei. E retornar é muito difícil. Em algumas eu havia ganho campeonatos, em outras não.
Expectativa pela Seleção
– Em duas ou três oportunidades, meu nome foi ventilado e acabou não acontecendo. Quando surgiu dessa vez, da maneira como foi, também imaginei que fosse uma especulação natural de mercado pela saída do Fernando. De repente, se concretizou. Para mim, não criei expectativa, como havia criado anteriormente. Fato natural, você está envolvido. Mas procurei não criar expectativa e a partir do momento que recebi uma chamada, as coisas mudaram um pouco. Era sonho, era objetivo. Eu não saí do São Paulo. Eu não troquei o São Paulo. Estou vindo para uma Seleção. Não é um convite, é um chamado. Nenhum profissional em sã consciência deixaria de atender.
Problema com Neymar?
– O Brasil tem que aprender a jogar sem o Neymar. Porque agora ele tem uma lesão. Mas nós temos um dos três maiores jogadores do mundo, e depois vamos contar com ele. Não tenho problema nenhum com o Ney. A proporção que aquela situação tomou foi desproporcional. Após aquela partida nós já estávamos conversando. A diretoria do Santos tomou uma decisão e eu respeitei. Mas sempre que nos encontramos foi uma situação positiva. O futebol é muito dinâmico. O céu e o inferno estão a um palmo de distância.
Retomada da confiança
– A recuperação da confiança vai acontecer com treinamentos, com jogos, vitórias. Temos que trazer o torcedor para mais perto da seleção. É um trabalho de formiguinha, que queremos de todos vocês.
A nova comissão
– Não, não conversei ainda com o Fernando (Diniz). Com relação à comissão, venho conversando com o presidente. É um momento em que eu preciso ter ao meu lado pessoas que também confio, com quem já trabalhei. Algumas funções serão necessárias, dentro da liberdade que ele me deu, não que os que estão aqui dentro não sejam profissionais. Preciso ter pessoas ao meu lado com quem já tive momentos positivos e negativos. Algumas situações, com certeza, precisaremos intervir. Presidente me deu liberdade, mas com responsabilidade com os profissionais que aqui estão e com aqueles que poderão chegar.
Jogadores que atuam no Brasil
– Às vezes temos uma referência lá fora, que passa a ser muito melhor que o Campeonato Brasileiro, mas temos que repensar isso. Às vezes o nosso campeonato é muito mais difícil do que muitos lá fora. Se preparem, vou contar com muitos jogadores que estejam aqui dentro. Não tenho dúvidas, desde que tenham merecimento para uma convocação. Vou tentar fazer o máximo para que não erre, quer esteja na Inglaterra, Itália, Portugal e aqui dentro. Eles têm que saber que disputam um dos campeonatos mais difíceis e disputados do mundo.
Reaproximação com o torcedor
– Tite fez um dos trabalhos mais bonitos dos últimos anos em relação a uma seleção. Infelizmente, acabaram não acontecendo nas duas Copas. Mas foi trabalho de altíssimo nível, temos que enaltecer e muito. Acredito que ele tenha feito o máximo possível para encontrar um pouco mais essa aproximação com o torcedor. Conto muito com a presença e participação de vocês, com sugestões e ideias, para mudar um pouco esse contexto. Para fazer com que a Seleção seja realmente a Seleção do povo brasileiro. O camarada perdeu o carinho e amor pela seleção brasileira. Temos que mudar isso. Só vamos mudar quando parar de dividir, temos que somar esforços.
Convocação para a Copa América durante o Brasileirão
– Sofri bastante com tudo isso, mas nunca tirei a possiblidade de um profissional estar à frente do seu maior sonho. Em 2016, o Santos disputando a ponta do Campeonato Brasileiro. De repente, nas Olimpíadas perdemos o Gabigol, Zeca e Thiago Maia. Na sequência, Copa América, mais três jogadores do Santos convocados. Foi um problema muito sério, e o Santos ainda conseguiu um vice-campeonato daquela competição. Sei o quanto pesa a saída desses jogadores, mas o quanto são importantes na Seleção. Temos que ter equilíbrio entre necessidade e a vontade do seu clube. Mas não é fácil. Já vivi o outro lado e agora vou ter que pensar dessa forma e me colocar na situação do outro treinador, do lado oposto. Não são situações fáceis.