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Dona de clínica onde mulheres foram gravadas nuas relata ameaça e extorsão

A dona da clínica de estética em Fortaleza onde mulheres foram gravadas nuas e tiveram a imagem exposta na internet diz ter sido vítima de um golpe virtual.

O que aconteceu

Extorsão e ameaças. Em entrevista ao UOL, Valdineide da Silva Silveira, 31 anos, disse que foi vítima de extorsão por três meses por uma quadrilha especializada em crime virtual e exploração sexual.

Ela estava vivendo um relacionamento amoroso pela internet, há seis meses, com um homem que se apresentava como empresário paulista.

Ataque em primeiro encontro. Ao marcar o primeiro encontro presencial, Valdineide diz que teve R$ 10.000 extorquidos, dois celulares roubados e os maquinários da clínica furtados pelo grupo.

De acordo com a dona da clínica, ela foi pressionada a enviar imagens dela e das clientes nuas.

Valdineide registrou um boletim de ocorrência e afirmou que teve o perfil nas redes sociais invadido, informou a polícia.

Um vídeo da empresária explicando o caso circulou nas redes sociais. Nele, a mulher dizia que vai voltar à delegacia porque “só quero que resolva isso”. “Não fiz isso com ninguém, tá? Eu tenho minha versão da história. Tem muita coisa que já falei para a polícia que vocês não sabem, e que se eu falar também não vai resolver nada”, afirma.

“O pesadelo começou quando finalmente marcamos um encontro presencial, há um mês. Ao invés dele, apareceu uma mulher e um homem em um carro, me colocaram dentro do veículo e me sequestraram por algumas horas. Foi aí que eu tive a certeza que tinha caído num golpe. Estava apaixonada, fui burra, acreditei. Eles me liberaram, mas era só o começo das coisas horríveis que eles me obrigaram a fazer. Fui obrigada a me prostituir e enviar vídeos meus nua. A todo momento, eles diziam que iam me matar, matar meus filhos, minha família corria risco, tive medo de denunciar.” Valdineide da Silva Silveira, dona de clínica em Fortaleza, ao UOL

Chantagem após sequestro

Segundo a dona da clínica, depois do sequestro, ela começou a ser chantageada pelo grupo. “Sempre recebia uma ligação, por algum integrante, com o pedido para eu enviar vídeos meus nua. Eu fazia isso pra não morrer, não ganhei dinheiro com isso, pelo contrário, nesses meses todos ainda fui roubada em quase R$ 10.000, os Pix estão aí pra provar”, afirmou.

Dinheiro extorquido ia para empresa, diz Valdineide. “Se a polícia buscar o CNPJ da empresa que entrava o dinheiro, vai descobrir do que se trata. Eu pesquisei, eles deram baixa na empresa depois que a historia caiu na imprensa. Por que a polícia não investiga a fundo pra provar que se trata de algo perigoso e que eu também fui uma vítima?”, questionou.

Sobre as imagens das clientes postadas no perfil da clínica dela, Val acredita que o namorado virtual tenha sido o responsável pelas postagens. “Estava apaixonada e fiquei cega. No inicio do relacionamento, ele disse que poderia me ajudar a impulsionar as minhas contas profissionais nas redes sociais. Eu entreguei todas as senhas pra ele, e por alguns meses ele me ajudou muito a impulsionar minhas redes”, afirmou.

“Chegou um momento em que eles não se satisfaziam mais somente com as minhas imagens, aí eles me obrigaram a mandar imagens das clientes, também. Eles diziam que todas as pessoas ao meu redor corriam perigo. Eu não aguentava mais tanta pressão psicológica; tantas ameaças. Foi ai que eu dei um basta, disse que não faria mais isso, e que iria denunciar. Foi aí que eles fizeram isso comigo. Eu vou provar minha inocência.” Valdineide da Silva Silveira, dona de clínica em Fortaleza, ao UOL

Clientes acusaram dona de clínica

Um grupo de mulheres acusou a dona da clínica por gravar imagens das clientes nuas e sem consentimento.

As imagens gravadas sem consentimento foram expostas. Na segunda-feira (11), os perfis da dona da clínica começaram a publicar diversas fotos, mostrando diferentes clientes.

Os registros foram postados com tarjas e as clientes foram convidadas a enviar mensagens para ter acesso a todo o conteúdo gravado delas. No perfil, o responsável pela exposição do caso se diz “mais uma vítima” da mulher.

A Secretaria da Segurança Pública do Ceará afirmou que investiga a denúncia de “crime contra a dignidade sexual, que teria sido praticado em ambiente virtual”. Segundo a Polícia Civil, boletins de ocorrência foram registrados na delegacia do 6° Distrito Policial, e transferidos para a Delegacia de Defesa da Mulher de Fortaleza.

Rodrigo Colares, advogado contratado por todas as vítimas, disse que “já tomou e está tomando todas as providências criminais e espera uma posição firme por parte da autoridade policial e do poder judiciário, pois é completamente inadmissível tudo o que aconteceu. Serão movidos todos os esforços para que a responsável ou os responsáveis por tamanha irresponsabilidade sejam punidos ao rigor da lei.”

Influencer filmada nua desabafa: ‘Era o meu momento de relaxar’

Beth Campêlo, uma das vítimas filmadas sem consentimento, contou que era cliente da clínica há 4 anos. Ela fez um desabafo sobre o caso nas redes sociais e afirmou nunca ter imaginado passar por isso.

“Era o meu momento de relaxar. Nunca imaginei que a Val [dona da clínica] faria isso, nunca mesmo, nunca imaginei. Teve um momento que eu meio que notei [que era filmada], e aí ela já justificou: ‘amiga, eu bati só uma foto para acompanhar teu resultado’. E eu falei ‘de boa’, porque nunca imaginei”, explicou.

A cliente disse que Val fingia que estava mandando áudio no celular para gravá-las: “No meu vídeo eu chego bem perto dela e falo: ‘Amiga, olha esse meu sinal’. Não tinha como a gente saber que ela estava gravando a gente”, garantiu.

Ainda segundo Beth, a pessoa que fez as publicações expondo as gravações a procurou e contou que, entre os conteúdos de clientes, havia vídeos também de familiares e até dos filhos de Val, que seriam crianças: “Tem vídeo dos filhos dela, ela gravava os próprios filhos. (…) Ela pede para a criança ficar pelada, a criança pede: ‘mamãe não grava’, e ela grava e mostra. Aí eu falei: ‘custe o que custar, eu não vou deixar isso passar, porque não é mais sobre mim, não é mais sobre uma pessoa, é sobre um monstro'”, disse Beth, explicando porque mudou de ideia e decidiu denunciar o caso à polícia.

Sobre vídeos gravados com os filhos, Val se defende: “tive meus dois celulares roubados por este grupo, evidente que teriam imagens minhas e da minha família em vídeos domésticos, foi isso que aconteceu”, afirmou.

A influencer contou também que foi incluída por Val em um grupo no WhatsApp junto a outras vítimas. “O nome do grupo é ‘Vou provar que sou inocente’. Ela criou uma fantasia tão grande, que foi o que me trouxe mais nojo. Ela mesma foi na delegacia fazer um BO (Boletim de Ocorrência) com uma história totalmente fantasiosa”, conta.

“Em um grande resumo, ela disse que tinha um cara na internet, com o codinome de Pedro Lucas, que é namorado virtual dela. E esse cara, um dia mandou sequestrar ela e instalou um aplicativo no celular dela, e esse cara tinha acesso 24 horas à câmera dela. E esse cara, lá de São Paulo, fez nossos vídeos para prejudicar a vida dela. Isso é o que ela diz.” Beth Campêlo, cliente da clínica

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