Origem
A palavra ‘biblioteca’ vem da língua grega ‘bibliotheke, que chegou a nós pela palavra ‘biblioteca’, derivada dos radicais latinos BIBLIO (livro) e TECA (depósito). Nas últimas duas décadas do século XXI a ideia de biblioteca adquiriu outras categorias espaciais além do espaço físico, e chega ao espaço eletrônico, ao espaço digital e ao espaço virtual.
As bibliotecas expressam a vontade dos seres humanos em documentar os fatos mais importantes de suas comunidades, de seus clãs. As primeiras bibliotecas, para alguns historiadores remontam há 2.500 anos antes de Cristo. O acervo das bibliotecas já foi, por assim dizer, mineral (mensagens escritas em pedras, tijolos, etc.), depois tornou-se vegetal (papiro e livros físicos) e chega ao formato binário (pares de informação codifica em zeros e uns, os bites). Povos africanos como o Iorubá têm uma ‘biblioteca oral’ gigantesca. A cultura é passada ‘boca a ouvido’.
No Brasil
Em se tratando de Brasil, a primeira biblioteca só chegaria, literalmente, em 1808, com a vinda da família real portuguesa. Em 1910 é criada, por decreto, a Fundação da Biblioteca Real do Rio de Janeiro. Pouquíssimos tinham acesso às bibliotecas, já que o analfabetismo era galopante. Em 1889 nossa população era de 13,7 milhões, com 85% de analfabetos. No exame PISA (Programa Internacional de Avaliação de Aluno) 2023, o Brasil está com 73% dos alunos abaixo do nível em Matemática e 65% deles com sérios problemas em leitura.
A sociedade brasileira, como sabemos, foi organizada em torno da produção de produtos tropicais para abastecer os mercados metropolitanos. Durante séculos todo o sentido da vida social no Brasil só será encontrado nessa forma de ligação com o mundo Europeu. Era o Mercantilismo mantido a todo custo pela escravidão de indígenas e africanos.
A criação, pois, de uma biblioteca no Brasil ainda hoje é um fato inusitado e ousado. Um ato de resistência à ignorância que massacra e domina. Porém, há muitos exemplos de criação de pequenas bibliotecas ocorrendo pelos rincões desse País. Pois é chegada a hora da criação de mais uma biblioteca comunitária e que leva o nome de uma mãe de santo, mãe Ana.
‘A Biblioteca Comunitária Casa da Mãe Ana’, por nós proposta, seria uma dádiva à cidade de Pedro II, Piauí. E funcionaria mais precisamente no Centro de Umbanda Pedro de Alcântara, também conhecido por “Terreiro de Mãe Ana”. A senhora em questão chamava-se Ana Maria do Nascimento, nascida em 26/07/1932 e falecida em 10/04/2011.
Era casada com o senhor Francisco Pereira Filho, com quem teve cinco filhos. Mas o povo de Pedro II a chamava de “Mãe Ana” e é assim que em sua homenagem a bibliotequinha será batizada.
O acervo medular da ‘Bliblioteca Comunitária Casa da Mãe Ana’ é a cultura afro-brasileira, a memória dos povos originários, dos povos de terreiros, dos afrodescendentes, dos povos indígenas e de suas respectivas histórias por estas bandas do Piauí. Por enquanto funcionará nas dependências do próprio terreiro, num cantinho, do jeito que Mãe Ana gostava de receber seus ancestrais e benzer os filhos e filhas de fé e assoprar em seus corações lufadas de esperança e de vontade de viver. A semente está lançada! Axé!
ERNÂNI GETIRANA (@ernanigetirana) é professor, poeta e escritor. É autor dentre outros livros de “Debaixo da Figueira do Meu Avô”. É membro da APLA, ALVAL e do IHGPI. Escreve às quintas-feiras para essa coluna.