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quinta-feira, novembro 7, 2024
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A Mulher de Branco (*)

Para as bandas da “Fortaleza dos Castro” que, na época deste acontecido, era a moradia de um certo coronel, havia uma mulher muito bonita. Com uma cabeleira comprida composta por fios da cor de cobre, sobrancelhas sempre feitas, lábios delicados e dona também de um belo corpo. A dita cuja costumava parar o trânsito, como se dizia, caminhando toda siripimponga pelas ruas de Pedro II, indo ao mercado, indo à farmácia, indo e vindo de um lado para o outro. Até o velho Bidoca Getirana que vivia com os olhos pregados nos livros lendo na porta de casa embalado em uma cadeira de balanço levantava os olhos cheios de letras para limpá-los na imagem da beldade passante. Pois a dita mulher vivia propriamente em uma casa de esquina que era, como as más línguas diziam, uma maneira que ele tinha para observar todos os homens que passavam pelas redondezas.

O que, segundo ainda as más línguas, tais fuxicos eram puro despeito das mulheres feias, pois a bela senhora herdara a casa dos pais na esquina e não podia empurrar a casa para outro lugar, ora essa, bradava dona Maricota de quem a bela era amiga. Uma das poucas. A bela dona era casada com um pinguço, um pé d’água, um borra-botas, um pé inchado que bebia que caía de costa. Durante muito tempo ela aguentou a desgraça do marido que nunca lhe dera ao menos um filho que fosse. Mas já estava que não aguentava mais. A vida em Pedro II corria como de costume.

As pessoas em seus afazeres domésticos, cuidando de suas vidas, plantando sua rocinha, buscando água no Bananeira ou no Pirapora, trazendo os moinhos de feijão da feira, conversando na boca da noite sentadas nas calçadas. Falando um pouquinho só da vida alheia, que ninguém era de ferro. Mas aí começaram a correr de boca em boca umas histórias esquisitas que não sei quem tinha dito que alguém tinha dito para alguém que escutara de alguém e coisa e tal. O certo é que a boataria dava conta de que estava aparecendo uma visagem para as bandas da tal Fortaleza dos Castro e que quem avistara a figura tinha metido o pé na carreira, largando as precatas pelo caminho para poder correr mais rápido.

Esse dito transeunte, certa vez passando por aquela região da cidade à noite, já depois da luz elétrica haver dado o sinal de apagamento, ia de cabeça baixa andando meio devagar, pois como tinha faltado querosene em casa, havia saído ainda cedinho para comprar na venda de seu Antonio Bela para alimentar a lamparina, senão teria que aguentar a escuridão de Véia Ofrásia a noite toda. Que no que ele passava exatamente em frente à Fortaleza de Seu Lauro Cordeiro, pois, (depois da meia noite havia de seu Antonio Bela saído para o bar do Zé do Doce piruar jogo de baralho) deu-se o ocorrido. Foi quando a coisa apareceu, a princípio, contou o desgraçado, ele ficara sem ação, os pés se pregaram no chão criando raízes, o coração veio parar quase na boca e ele só conseguiu começar a se mexer depois que deu o esturro: – Valei-me, minha Nossa Senhora da Conceição, livrai-me dessa mulher de branco!!!

Os berros do sujeito foram tão estridentes que a vizinhança quase toda acordou e veio para a rua ver do que se tratava aquele chafurdo todo. O coitado, depois, já recomposto do susto, sentado em uma cadeira na casa de um vizinho que o socorrera, e tomando garapa de açúcar, contou que era algo medonha o que havia visto: Uma mulher alta e esguia toda enrolada em um lençol branco esvoaçante, cabelos desgrenhados com um dos braços levantados sobre a cabeça cuja mão segurava uma lamparina. A coisa ria-se toda, dava gargalhadas que troavam pelos becos, berrava impropérios contra ele e vinha que vinha pra cima dele fungando e gargalhando, botando fumaça pelas ventas, parecendo uma Rosa Doida, só que muito pior.

Depois deste ocorrido, sucederam muitos outros parecidos, sempre a tal mulher de branco ameaçando os transeuntes. Até que começou a surgir uma história de que só podia ser a tal da viúva bonitona que ao se dirigir para a casa de um renomado médico da cidade afim de esquentarse da cruviana sob as cobertas do doutor, e para não ser reconhecida, emperiquitava-se toda e se metia por debaixo de um lençol ao sair no meio da rua fazendo medo o povo para não ser reconhecida

(*)Texto extraído do meu livro “Lendas da cidade de Pedro II). Ilustração: José de Arimatéa.

ERNÂNI GETIRANA (@ernanigetirana) escreve para esta coluna às quintas-feiras.

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