Um áudio supostamente gravado por um ex-assessor do deputado federal André Janones (Avante-MG) revela que o parlamentar organizou um esquema de rachadinha, em que parte do salário de servidores seria utilizado para pagar despesas de campanha. A verba seria usada para cobrir um rombo de R$ 675 mil nas contas pessoais do político, que afirma ter precisado vender casa e carro e usado dinheiro de poupança e previdência para bancar a corrida eleitoral.
A gravação é de 5 de fevereiro de 2019 e foi feita pelo jornalista Cefas Luiz, ex-assessor de Janones, durante a primeira reunião após os funcionários tomarem posse. Cefas contou à reportagem que “o esquema rodou no gabinete e era mensal”. Ele afirmou, ainda, que iria levar o material para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e para a Comissão de Ética da Câmara.
No áudio, Janones diz que pagaria salários maiores a alguns servidores para que esses valores extras pudessem ser devolvidos ao deputado como forma de “ajudar a pagar as contas do que ficou da minha campanha de prefeito”. “Meu patrimônio foi todo dilapidado. Eu perdi uma casa de R$ 380 mil, um carro, uma poupança de R$ 200 mil e uma previdência de R$ 70 mil”, detalhou.
O deputado afirma que esse esquema seria “justo”, numa tentativa de afastar o caráter ilícito da rachadinha. Esse crime consiste na devolução, por parte de servidores públicos ou um funcionário terceirizado de governos federal, estadual ou municipal, de uma fração do salário ou da remuneração para políticos e assessores parlamentares.
Segundo Janones, “isso não é devolver salário”, porque, na justificativa dele, o dinheiro não seria usado para fazer o que ele quisesse, mas para repor gastos pessoais. “Acho justo que essas pessoas também participem comigo da reconstrução disso. Não considero isso uma corrupção”, afirmou.
Na conversa com a equipe, após declarar a intenção de obter parte do salário dos servidores para fins pessoais, Janones reafirma que não admitirá cargos-fantasma, em uma tentativa de legitimar o suposto esquema. Disse, ainda, não temer uma perda de mandato. “Se eu tiver que ser colocado contra a parede, não estou fazendo nenhuma questão desse mandato. Para mim, hoje, renunciar é uma coisa tão natural.”
Em resposta, Janones nega ter cometido rachadinha e afirma que a gravação foi “clandestina e criminosa” e se trata de “um áudio retirado de contexto e para tentar me imputar um crime que eu jamais cometi”. “Essas denuncias vazias nunca se tornaram uma ação penal ou qualquer processo, por não haver materialiade. Não são verdade, e sim escândalos fabricados”, completa.
Primeiro de tudo, eu quero dizer a vocês que eu estou quebrando a minha regra de não responder às fake news, como ensino no meu livro 'Janonismo Cultural' a não responder, por uma razão clara: RESPEITO a vocês. Hoje saiu uma matéria, que está sendo espalhada pela extrema-direita,…
— André Janones (@AndreJanonesAdv) November 27, 2023
Nas eleições presidenciais de 2022, Janones chegou a oficializar a candidatura para concorrer pelo Avante, mas desistiu para apoiar o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva. Durante o período eleitoral, Janones fez um grande movimento usando as redes sociais para disseminar informações contra o candidato da oposição e ex-presidente, Jair Bolsonaro. À época, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mandou Janones excluir diversas publicações das redes por divulgação de conteúdos inverídicos.
Mesmo com o forte apoio a Lula durante a campanha, Janones ficou de fora dos cargos do primeiro escalão do presidente eleito. O deputado chegou a integrar o grupo técnico de comunicação social da equipe de transição de governo, mas não entrou no rateio dos altos cargos.