O comerciante Ângela Aparecida Alves de Oliveira, 44, cobrou das administrações do estado e do município políticas públicas para o Centro de São Paulo. Ela teve sua loja de equipamentos eletrônicos, localizada na rua Santa Ifigênia, saqueada por frequentadores da região da “cracolândia” na quarta-feira (1º).
O que aconteceu
Ângela disse que teve um prejuízo de R$ 80 mil após a loja de equipamentos eletrônicos ter sido saqueada por frequentadores da ‘cracolândia’. Um grupo de pessoas arrombou a porta do comércio e atirou pedras no estabelecimento, segundo ela.
Ela disse que gostaria que os governos estadual e municipal planejassem uma política de segurança pública eficiente para o centro de São Paulo. “Tarcísio [de Freitas, do Republicanos] fala que diminuiu [número de furto e roubo], o prefeito [Ricardo Nunes, do MDB] também, mas só quem está lá e sente na pele, sabe. Eles não sabem. Só queria que fizessem alguma coisa pela segurança.”
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) disse que a recuperação da área central de São Paulo e o aumento da sensação de segurança de moradores e comerciantes “é uma prioridade”.
Essa não foi a primeira vez que Ângela teve a loja saqueada. Ela conta que em abril de 2020, frequentadores da região também invadiram a loja e levaram produtos. Na ocasião, o prejuízo foi de R$ 50 mil, segundo ela. Um grupo entrou na loja por volta das 4h para fazer o saque.
Ângela diz que pensou em sair da rua Santa Ifigênia da primeira vez em que foi furtada, mas não teve condições financeiras para alugar outro espaço. “Procurei outros lugares, mas como não tenho capital de giro, não tenho dinheiro de entrada, não consigo. Decidi continuar, mas sempre com medo.”
Ela conta que na quarta-feira (1º) recebeu uma ligação dos vizinhos para avisar sobre o saque. “Me ligaram e eu pedi ajuda, jogaram pedra, ameaçaram que estavam com armas. Eu disse que não tinha dinheiro pra consertar.”
“Com o tempo a Santa Ifigênia foi ‘ficando doente’. Hoje, a rua está na UTI. A gente sente medo todos os dias. Quando tem operação policial, a gente tem que sair fechando tudo, é uma correria.” Ângela Oliveira, comerciante
‘Não quero mais ficar em São Paulo’
Ângela afirma que trabalha na rua Santa Ifigênia desde 2013. “Sai de um shopping para ter meu próprio horário. Reformei a loja na pandemia, a gente trabalhava na calçada, conseguimos ampliar a loja”, lembra.
Ela afirma que passou a quinta-feira (2) na loja para acompanhar o conserto da porta arrombada. “A porta não serviu para nada, estava arrombada, comprei outra porta, vou pagar aos poucos.”
A comerciante vive com a filha em São Paulo. A renda na loja ajudava a pagar o aluguel do imóvel em que vive. “A loja era meu ganha pão, o sustento da minha filha. Ela a forma de eu pagar o aluguel da casa para sobreviver.”
A comerciante diz que nasceu na cidade de Riacho de Santana, na Bahia. Segundo ela, assim que pagar os fornecedores, vai voltar ao estado em que nasceu. “Pedi ajuda para o meu pai, preciso ressarcir meus clientes. Depois, quero ir embora.”
“Não quero mais São Paulo. O medo é constante para levar criança na escola, para trabalhar, não tenho com quem contar. Assim que acabarem as aulas, em dezembro, vou embora. Lá, pretendo tocar outra coisa.” Ângela Oliveira, comerciante
O que dizem o governo e a prefeitura
A SSP disse que o policiamento na região da Santa Ifigênia “segue reforçado desde quarta-feira (1º) a noite.” O UOL entrou em contato com a Prefeitura de São Paulo, mas foi informada que “questionamentos a respeito das políticas de segurança pública devem ser encaminhadas à Secretaria de Segurança do Estado de São Paulo (SSP).”
Em relação ao furto da loja, a secretaria disse que a Polícia Civil “está realizando diligências no local para colher subsídios que auxiliem no registro e identificação dos envolvidos.” Até o momento, a pasta informou que não foi localizado o boletim de ocorrência.
A pasta disse ainda que “monitora as cenas abertas de uso de entorpecente e, somente na última semana de análise (23 a 29 de outubro), foram 61 infratores presos em flagrante, além de 27 procurados da Justiça capturados.”
O monitoramento, segundo a secretaria, apontou quedas de 52% nos roubos e 36% nos furtos na comparação com a primeira semana de análise, iniciada em 3 de abril.
A região teve, segundo a secretaria, um aumento do efetivo na área — “com mais 120 PMs atuando na Operação Impacto-Centro, que também cobre a Cracolândia, além de mais de 1,5 mil vagas pela Atividade Delegada. A Polícia Civil desenvolve ações de inteligência e policiamento especializado visando à identificação de traficantes.”