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quinta-feira, setembro 26, 2024
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O assassinato do banco da praça

Nas primeiras horas desta madrugada
Ocorreu nesta pacata cidade
De brilho raro
Mais um bárbaro assassinato

 

Todos os que conheciam a vítima,
Inclusive este que vos fala,
Só tecem histórias respeitosas
Relativas ao caráter da mesma.

Tratava-se de alguém pacífico
Tranquilo, calmo, incapaz de
Agredir a quem quer que fosse,
Ao contrário, dava a todos agasalho.

Muitos dirão que ele era frio como pedra
Mas eu direi que nele batia um coração
E que batia ainda mais alto ao ouvir declarações de amor
Alguma canção dos bares,
Ao vislumbrar a lua nas noites de frio cortante,
Ao inebriar-se com algum aroma de flor contrabandeado dos jardins.

E, no entanto, e agora,
Eis que o assassinaram.
Alguém o golpeou cruelmente
Decepando-lhes os braços
(as armações em ferro estão à mostra),
As costas abrem-se em largas falhas
(as costelas à mostra)

O banco da praça jaz
Abatido pela fúria mansa
De um louco indômito que agora dorme irresponsavelmente
O mais cândido dos sonos na casa de uma autoridade.

Doação de órgão

Vendo por preço módico
Um coração em bom estado
Bem instalado em meu peito
Que bate acelerado
Por qualquer suspeita de paixão
Vendo (também empresto!) um coração dependurado
Nas asas da imaginação
Estrategicamente camuflado
Para não ser detectado por qualquer outro
De simplória visão
Vendo, empresto (até mesmo doou!) um coração despudorado
Já meio cansado de anacrônicos embates com a razão
E cada vez, penso, mais propenso
A só agir com as cordas da emoção

 

Ernâni Getirana (@ernanigetirana) é professor, escritor e poeta. É autor, dentre outros livro, de ‘Debaixo da Fogueira do Meu Avô’ e “Lendas da Cidade de Pedro II’ (livraria Entrelivros, Teresina). Escreve às quintas-feiras para esta coluna.

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