Hoje em dia milhares de piauienses já sabem que o “Dia do Piauí” ocorre a 19 de outubro. A data é levada em conta não porque seus corações estejam cheios de amor telúrico, mas por causa do feriado que vem amarrado à data, sejamos sinceros.
Seja como for, o 19 de outubro é uma data instituída a partir de projeto de lei de autoria do deputado José Auto de Abreu em homenagem ao levante ocorrido na Parnaíba nesse dia do mês de outubro no ano de 1822, quando Simplício Dias e João de Deus e Silva declararam aquela província piauiense libertada do jugo português, embora continuasse leal ao príncipe Dom Pedro, filho de Dom João VI.
Ora, Simplício Dias era um homem rico, dono de terras, possuidor de centenas de escravos. Já seu amigo, João de Deus e Silva, um juiz de Direito. Eles arregimentaram algumas forças policiais nessa sublevação.
Bastou, porém, o Governador das Armas do Piauí, João José da Cunha Fidié, ensaiar uma invasão da Parnaíba, como de fato o fez, os dois amigos e seu magote de policiais escafederam-se para a cidade de Granja no Ceará, deixando a província a descoberto. Dias e Deus haviam decretado a independência, mas não conseguiram mantê-la.
A 24 de janeiro de 1823, de novo em Parnaíba, o brigadeiro Manoel de Sousa Martins, Visconde da Parnaíba, se encheu de coragem que faltou em Dias e Deus e tomou o poder (aproveitando a ausência de Fidié). Tomou o poder e o exerceu.
A notícia correu feito rastro de pólvora até alcançar os ouvidos do Governador das Armas. Este ao tentar regressar à Parnaíba, foi obrigado a reter-se na região de Campo Maior. Isso mesmo: estamos falando da Batalha do Jenipapo, ocorrida em 13 de março de 1823, e na qual tombaram cerca de 400 homens quase todos eles caboclos, filhos do povo, armados de pás, enxadas, foices e facões. Não tiveram qualquer chance de vitória contra o destacamento militar de Fidié, mas esculpiram um ‘sentido de piauiensidade’.
Há análises históricas que discordam de narrativas que põem em evidência figuras supostamente de proa como responsáveis pelas mudanças político/históricas, em detrimento de grupos sociais, reais atores no panorama dos fatos. Evidenciar o papel de grupos populares (sempre escanteados dos livros de história) tem sido uma tendência. A Batalha do Jenipapo ganhou notoriedade com sua inclusão em livro de história do jornalista paulista Laurentino Gomes, que já tornou-se cidadão piauiense.
Essa abordagem que leva em conta os grupos populares, porém, tem escola pelo Piauí. Paulo Machado e Fonseca Neto bem que podem ser citados dentre alguns (e algumas) outros.
Que no próximo 19 de outubro nosso olhar se desloque para o que realmente ocorreu na província da Parnaíba sob uma ótica mais realista, pois tendo como cenário o povo. El pueblo !!!
Ernâni Getirana é professor, poeta e escritor. É autor, dentre outros livros, de “Debaixo da Figueira do Meu Avô”. Escreve às quintas-feiras para essa coluna.