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Um poema à Praça Velha

Andar por ti, palmilhar teu chão leve por entre canteiros,
Tocar as grossas cascas de tuas centenárias figueiras,
Sentar-se em um de teus bancos e, de olhos fechados,
Ouvir o doce badalar do sino na torre da igreja

Voltar no tempo e imaginar o que se viu
Quando criança, e antes disso, o que disseram de ti
A banda do maestro Alessandro,
As serestas dos seresteiros que foram se dependurar nas nuvens

As moças faceiras com seus vestidos largos de organdi
Os rapazes de terno e chapéu de palha espalhando loção
A vendedora de café com bolo e torresmo
O vendedor de pipoca, pirulito e algodão doce
Os mendigos e bêbados que tanto dormiram sobre ti

Doce era namorar na praça, trazer os rostos dos enamorados
Emoldurados pelas palmas das mãos, numa carícia sem fim,
Crianças andando de velocípedes
De vez em quando, uma quedinha, um choro e um afago: tá tudo bem, meu bem.

E os amores proibidos? E as fugidas da mãe? E as fofoqueiras de plantão queimando o bico
‘Tava na praça, que eu vi, dona Maria, sua filha tava na praça com o filho do seu Chico.
Eu vi, eu vi, juro por Deus’.
As fofoqueiras daquele tempo não tinham celular, já pensaram?????
Deus não dá mesmo asas a cobra. A vida cobra.

Cem anos se passaram, num piscar de olhos, estas figueiras ainda bem que não falam,
Se falassem, a cidade viria abaixo, acreditem!
Quantos planos feitos, quantas promessas juradas
Tanto no amor como na política etílica, e o tempo levou, tudo passa, virou tudo fumaça.

Mas ela, a Praça Velha, continua aqui um recanto, praça da independência,
Dos nossos corações aprisionados
Mais linda do que nunca, remoçada,
Canteiros floridos, sol beijando-a todas as tardes, lua alta e sonolenta nas suas madrugadas

Queira o bom Deus que a Praça Velha continue sendo de todos,
Acolha a todos com os braços estendidos de suas árvores
Nos dê morada em suas sombras, nos acalante na brisa que se espalha
Com o silêncio amigo do carinho filial,
E que mesmo em noites de breu vele por nós, pobres mortais, adormecidos a sonhá-la.


Pedro II, 07/09/2022, 100 da ‘Praça Velha’, Pedro II, PI.

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