Faltavam cerca de quarenta segundos para que todo o combustível acabasse de vez, o computador de bordo sofrera uma pane e havia reiniciado, mas não estaria pronto antes desse tempo. Neil Armstrong, então, tomou a decisão de levar a nave no muque. Com o copiloto Buzz Aldrin passando os dados oralmente ao companheiro, as mãos de Armstrong, firmes no controle, conduziam o módulo lunar inicialmente na horizontal. Então, o piloto posicionando o veículo na vertical e com combustível para cerca de dez segundos de voo, finalmente pousava em algum ponto do Mar da Tranquilidade. Era o dia 20 de julho de 1969 e pela primeira vez na História da humanidade, o homem pousava no satélite natural do planeta Terra, a Lua. O astronauta, então comunicou ao pessoal da telemetria que se encontrava em Houston: “a águia pousou!”.
Neil Armstrong (1930 – 2012), Buzz Aldrin (1930 – ) e Michael Collins (1930 -2021), que ficou orbitando a Lua no módulo de comando, eram, naquele momento, os três seres humanos que mais longe haviam se afastado da Terra. Eles estavam a 340 mil quilômetros de distância de nós. Haviam saído de Houston, no Texas, Estados Unidos, três dias antes a bordo do foguete Saturno V (111 metros de altura), o mais possante mesmo para os dias de hoje. Estariam de volta ao Planeta Azul dali a três dias direto para os livros de História.
Eu era um menino e acompanhei o ‘pouso da águia’ pela rádio Voz da América. Na época não havia televisão em minha cidade. Mas como sempre gostei de astronomia e espaçonáutica, pelas duas próximas semanas tive que atender dezenas de pessoas que queriam entender como era que aquilo tudo tinha sido possível.
Na verdade a corrida espacial foi a denominação dada à disputa entre Rússia e Estados Unidos a partir dos espólios da Segunda Guerra Mundial. Wernher Von Braun (1912-1977), cientista alemão criador das bombas V-2 (bombas voadoras), fora sequestrado pelas forças aliadas juntamente com outras três dúzias de cientistas de primeira linha e que serviam ao Eixo. Von Braun deu início ao projeto Apollo. Mas quem conseguiria a verba necessária para bancar o projeto foi James Webb (1906 – 1992), primeiro administrador da NASA (Agência Nacional de Aeronáutica e Espaço), empresa encarregada de levar o homem à Lua.
Apesar de farta documentação em vídeo, telemetria, estudos físicos e químicos das pedras trazidas da Lua, 53 anos depois do pouso há pessoas que não acreditam. Geralmente isso se deve, avalio, a desconhecimento de fatos históricos e científicos, como as leis de Newton, por exemplo. Qualquer corpo acelerado a 11,2 km/s no sentido de baixo para cima, simplesmente se afasta do nosso planeta para sempre. É a tal da velocidade de escape. Durante a travessia entre a Terra e a Lua, a nave não usa motor algum, mas a Lei da Inércia: no espaço, longe da Terra, o que está parado, continua parado; o que está em movimento continua em movimento.
Um argumento bastante empregado por pessoas que desconhecem o básico das viagens espaciais é o de que “seria melhor aplicar o dinheiro gasto nessas coisas em algo mais concreto como acabar com a fome no mundo”. Bobagem. A fome no mundo é resultante dos sistemas políticos e econômicos excludentes. As viagens espaciais já geraram mais de 15 mil itens indispensáveis a nossas vidas cotidianas, tais como: câmeras digitais miniaturizadas, desfibriladores, conservas, medicamentos, telas de cristal líquido, ar-condicionado, led, roupas antitranspiração, wi fi, etc, etc..
Há pouco disse que foram três os homens que naquele 20 de julho de 1969 estavam na Lua, ao pé da letra. Mas confesso que havia um quarto, sim, havia um quarto astronauta naquela nave de quem jamais os livros de História mencionaram. O quarto astronauta era um menino.
Ernâni Getirana é professor, escritor, poeta. É autor, dentre outros livros, de “Debaixo da Figueira do Meu Avô”. Escreve às quintas-feiras para esta coluna. @ernanigetirana
