Duas jovens na flor da idade e com as preocupações próprias de sua geração. Postam em suas redes sociais fotos com os amigos e amigas, colegas de turma, festas e eventos sociais de que participam. Postam também fotos de viagem com todas as ‘caras e bocas’ das jovens de agora. Ambas estão ali na casa dos vinte e pouquíssimos anos, estudam e vislumbram um futuro profissional. Ainda pretendo escrever algo mais consistente não apenas sobre elas, mas sobre muitas meninas e meninas que se diferenciam pelo fato de que, assim como Juliana e Layla, praticarem algum tipo de Arte/esporte.
Layla Thuanny, além de fazer parte da bandinha de música de que seu pai, o professor Getulivan Perfeito, é o regente, ainda é bailarina e professora de balé. A Juliana Rodrigues (conhecida como ‘Garota do Lápis’) é uma exímia desenhista e artista gráfica. O fato de ambas serem tão apaixonadas pelo que fazem é acalentador para gente que, como eu, sabe bem como a arte nos marca profundamente e emociona as pessoas.
As meninas de quem falo nesse texto têm um público fiel. Layla está sempre se apresentando com a bandinha de música Mestre Alessandro (falecido militar regente de uma famosa banda de música dos anos 1940-1960). O fato de haver um grupo de pessoas que toca instrumento de forma harmônica, trazendo dobrados, valsas e canções populares de tempos em que nem os pais de Layla eram nascidos, isso por si só não tem preço.
O município piauiense de Pedro II é um dos poucos do país que pode se orgulhar de haver na vida de seus cidadãos e cidadãs uma banda de música a lhes tocar literalmente a alma. Não bastasse isso e nossa musicista ainda faz (e ensina) balé, coisa que muita gente acha um luxo para a cidadezinha de Pedro II. Por mim todas as meninas (e meninos que quisessem) fariam balé ou outra arte qualquer. Arte é artigo de primeira necessidade.
O traço de Juliana (a Menina do Lápis), por sua vez tem uma fecunda identidade. Ela já possui um estilo todo dela. Com a mesma desenvoltura e sensibilidade de seus lápis de onde brotam super-heróis e heroínas, retratos de pessoas que desejam ser eternizadas, animais dos mais variados, flores, objetos, enfim, o que for, ela domina a técnica do desenho. Sua arte insere-se entre as dos melhores artistas locais e olhem que somos famosos por termos bons pintores.
A Ju, porém, possui um universo pictórico, eu diria que inteiramente afeito ao contemporâneo, às imagens das redes sociais, das TVs. É quase como se essa artista traduzisse em tempo real imagens em alta circulação que tanto podem ser um anime, um(a) artista de TV (melhor dizer ‘séries no streaming’), ídolos da música ou uma composição visual com linhas, planos e cores que carregam uma estética da qual a moça domina a olhos vistos.
Mas tão importante quanto a gente ver jovens fazendo arte, é darmos apoio. Mesmo que muitas vezes só possamos fazer um elogio, fazer um comentário construtivo, isso já ajuda. É importante também cobrar dos poderes constituídos o apoio à cultura, às artes, como está na nossa Constituição de 1988 e que, no momento, parece estar tão ameaçada. Seja como for, a arte é sempre uma saída, uma possível solução para muitas questões da vida, do estar no mundo. A arte aponta para o melhor de cada um de nós. A Layla e a Juliana, aposto, já compreenderam isso muito bem.
Ernâni Getirana, é professor, escritor, poeta. É autor, dentre outros, do livro “Debaixo da Figueira do Meu Avô” e escreve para esta coluna às quintas-feiras.