Ao menos dez pessoas morreram neste sábado (14) num ataque a tiros num supermercado de Buffalo, no estado de Nova York, informou a polícia local. O suspeito, um rapaz de 18 anos de fora da cidade, está sob custódia.
O ataque aconteceu num bairro predominantemente negro e está sendo investigado como um crime de ódio e também como um ato de extremismo violento motivado por raça, informaram o FBI e a polícia. Das 13 pessoas atingidas, 11 eram negras e duas, brancas. O atirador era branco.
Ele foi identificado no tribunal como Payton S. Gendron, e se disse inocente de ter cometido homicídio qualificado, crime pelo qual foi acusado. Não é possível pagar fiança e aguardar o julgamento em liberdade, neste caso. De acordo com a promotoria, o caso vai a júri, e novos desdobramentos legais devem ocorrer na quinta-feira (19).
Segundo o prefeito de Buffalo, Byron Brown, o suspeito viajou horas até a cidade. Ele vestia um colete à prova de balas, estava armado com um rifle de alta potência e aparentemente agiu sozinho, fazendo live streaming do ataque por uma câmera de vídeo afixada em seu capacete, informou a polícia.
Ao chegar ao estacionamento do supermercado, ele saiu de seu carro e atirou em quatro pessoas, matando três, disse a polícia. Em seguida, entrou na loja —uma filial da rede Tops Friendly Markets– e continuou atirando. Trocou tiros com um segurança, a quem matou, e depois atingiu vários clientes. Gendron finalmente foi detido por policiais depois de colocar a arma no próprio pescoço e ameaçar se matar.
“Isso foi pura maldade”, afirmou o xerife do condado de Erie, John Garcia, declarando que o crime foi motivado por racismo.
Brown, o prefeito, afirmou que o tiroteio destroçou a cidade, já que pessoas inocentes que seguiam suas rotinas tiveram suas “vidas exterminadas em um instante, sem motivo”. “Este é o pior pesadelo que qualquer comunidade pode enfrentar e estamos sofrendo agora como comunidade”, acrescentou.
O presidente Joe Biden foi informado sobre o ataque pouco depois e está rezando pelas vítimas, informou a Casa Branca. A governadora de Nova York, Kathy Hochul, disse no Twitter que estava monitorando o ataque e que havia oferecido assistência à polícia local. Ela também pediu que as pessoas evitassem a área.
Kathy Sautter, porta-voz da Tops Friendly Markets, disse que a empresa estava “chocada e profundamente entristecida por esse ato de violência sem sentido”. “Nossos pensamentos e orações estão com as vítimas e suas famílias.”
Nos minutos após o atentado, vídeos e imagens que pareciam ter sido capturados pelo atirador circularam nas redes sociais. Nas imagens, um insulto racial parece ter sido escrito no cano de sua arma. Ele transmitiu tudo ao vivo pelo Twitch, que tirou seu canal do ar em seguida e bloqueou o usuário.
O caso lembra o atentado a duas mesquitas em Christchurch, na Nova Zelândia, em 2019, que foi transmitido pelo atirador por 17 minutos. Na ocasião, 51 pessoas morreram.
Assim como no caso da Nova Zelândia, o atirador de Buffalo postou um manifesto online no qual delineava os planos para o ataque e suas motivações, segundo um oficial da polícia federal. Gendron escreveu que havia selecionado a área porque ela continha a maior porcentagem de residentes negros perto de sua casa, no sul do estado.
O manifesto continha posicionamentos racistas —ele argumentava que os americanos brancos correm o risco de serem substituídos por pessoas de cor. Dizia ainda que suas inspirações eram outros atiradores supremacistas brancos, como Dylan Roof, que matou nove religiosos negros na Carolina do Sul em 2015.
De modo geral, os escritos pintam um homem que fortaleceu suas visões racistas nos últimos anos, após começar a frequentar fóruns na internet como o 4chan, onde discursos de ódio anônimo são permitidos.
Ele estava “se preparando passivamente” para o ataque em Buffalo há vários anos, comprando munição e equipamentos, escreveu. Por volta de janeiro, os planos “realmente ficaram sérios”, disse no manifesto.
De acordo com a organização Gun Violence Archive, o atentado deste sábado foi o com o maior número de vítimas este ano nos EUA. O recorde anterior era de seis mortos, num ataque com armas de fogo em Sacramento, há pouco mais de um mês.
Fonte: Folhapress