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Regina Sousa é destaque em entrevista na Folha de São Paulo

A governadora do Piauí, Regina Sousa, inspira pela história de luta, força e determinação. Nesta semana ela deu uma entrevista para a Folha de São Paulo onde falou um pouco mais sobre a história de vida. Confira:

Ex-sem-terra que deu aula a Ciro Nogueira é 1ª mulher a governar PI e promete focar pobres

JOÃO PEDRO PITOMBO
SALVADOR, BA (FOLHAPRESS)

Primeira mulher a se tornar governadora do Piauí, Regina Sousa (PT), 71, chega ao cargo máximo em seu estado após enfrentar obstáculos em série.

Nascida na zona rural de União, cidade piauiense na divisa com o Maranhão, cresceu em uma família de agricultores sem-terra.

Na adolescência, foi quebradeira de coco babaçu. Do fruto eram extraídas as amêndoas que ajudavam no sustento da família e garantia o dinheiro para comprar livros e material escolar.

Formou-se em letras pela Universidade Federal do Piauí e se tornou professora. Mais tarde, virou bancária e entrou na política por meio do sindicalismo. Foi senadora e vice-governadora. Em 31 de março deste ano, assumiu o governo em definitivo após a renúncia do governador Wellington Dias (PT).

Em entrevista, ela defende a ocupação dos espaços de poder pelas mulheres e diz que não pleiteou a reeleição ao Governo do Piauí por questões de saúde.
Criticou o governo Jair Bolsonaro (PL) e a forma de atuação política de Ciro Nogueira (PP), ministro da Casa Civil e adversário no Piauí, de quem foi professora quando este tinha apenas dez anos. Em seu mandato de oito meses, diz querer deixar como marca a prioridade à população mais pobre.

PERGUNTA – A senhora tem uma origem humilde: nasceu na zona rural, foi quebradeira de coco, professora e sindicalista. Qual é o simbolismo de chegar ao cargo máximo do seu estado?
REGINA SOUSA – É importante cada vez que uma mulher conquista um espaço, que reafirma a posição da mulher nos espaços públicos. Isso faz com que outras mulheres se encorajem e pensem: “Se ela pode, eu também posso”.
Eu vim da roça. Sei plantar, sei colher e não perdi as minhas origens: a minha família ainda mora no mesmo lugar. No dia da posse, em meu primeiro ato como governadora, fiz um gesto simbólico e entreguei títulos de terra para quebradeiras de coco babaçu. Foram 1.219 hectares para uma comunidade de 90 famílias.
Quero fazer esse trabalho porque sei que isso muda a vida das pessoas. Se isso é grande ou pequeno? Tudo é grande quando a gente faz qualquer coisa pelos mais pobres.

O PT escolheu como candidato a governador o ex-secretário Rafael Fonteles, que é homem, empresário e filho de político. É um perfil que, ao contrário da senhora, não representa uma quebra de paradigma do ponto de vista da diversidade. Por que a senhora não pleiteou a reeleição?

RS – Foram questões bem pessoais, razões de ordem de saúde. Se eu tivesse pleiteado [a candidatura], com certeza o partido teria aprovado. Era o natural até.
Com o Rafael [Fonteles], é o partido, a militância e a base que vão moldar a candidatura a partir da construção do programa de governo, que está sendo feito de forma discutida desde o ano passado. Ele é filho de Nazareno Fonteles, um grande militante nosso que foi deputado estadual e deputado federal. É uma pessoa que cresceu no meio da gente, carreguei ele no braço, no colo, em nossas caminhadas. Então, ele tem uma vivência, embora ela tenha seguido essa carreira mais pragmática.

O PT no Piauí foi, durante muito tempo, aliado de Ciro Nogueira. Hoje, ele é ministro de Bolsonaro e se tornou um adversário ferrenho. O que a senhora acha que motivou essa mudança?
RS – É difícil explicar. Não teve motivo para rompimento, não teve briga. Em 2018, ele [Ciro Nogueira] dizia que Wellington [Dias] era o melhor governador que o Piauí já teve, que Lula era o maior presidente que o Brasil já teve. Mas tem gente que não sabe viver sem o poder. Ainda mais empoderado do jeito que ele foi por Bolsonaro, que execrava a velha política e agora está junto com ela. É lamentável que a política tenha tomado esse rumo.

Com Ciro Nogueira no governo Bolsonaro, o Piauí passou a ser inundado por verbas de emendas para prefeituras, inclusive das emendas do relator. Tem sido difícil enfrentar politicamente a máquina federal?
RS – É difícil. Se a gente não tivesse o trabalho do governador Wellington Dias de buscar recursos e crédito para obras de infraestrutura, estaríamos passando dificuldades.

A nossa bancada tem conseguido liberar emendas, apesar de algumas tentativas de segurar recursos. Mas é difícil enfrentar um pacto de dinheiro que não tem fundo. A gente não sabe exatamente quanto é, o que é que estão oferecendo, a gente só ouve falar.

É muita coisa que estão oferecendo para prefeitos. Uma hora isso vai ter que aparecer para a gente saber exatamente o quanto de recurso foi usado dessa forma clandestina, porque o orçamento secreto é clandestino. Mas a gente está sobrevivendo.

Ao longo do mandato, o presidente Bolsonaro teve um histórico de conflitos com governadores de estados do Nordeste. Como a senhora pretende lidar com o presidente?
RS – Será uma relação institucional, de buscar recursos para o Piauí. Para você ter uma ideia, Ciro Nogueira foi meu aluno quando ele tinha dez anos em uma escola particular. Então, não vou ter cerimônia de ir buscar os recursos para o estado. Mas sei que Bolsonaro é uma pessoa difícil, que tem dificuldade em se relacionar. Ele torna as pessoas inimigas, declara guerra e tem uma tendência a retaliar.

O presidente tem apostado no Auxílio Brasil como uma possibilidade de, se não vencer, reduzir a margem de votos no Nordeste. Acredita que a ampliação do benefício se reverterá em votos?
RS – É difícil reverter a rejeição dele [Bolsonaro] no Nordeste porque ele começou tratando o Nordeste como um inimigo, desdenhava. E as pessoas não esquecem.
Assim como não esquecem que Lula não foi só o Bolsa Família, Lula fez uma rede de proteção social para os mais pobres. Achar que o Auxílio Brasil enterra isso é um equívoco. Até porque, embora ele tenha aumentado o valor do benefício, não representa grande coisa diante dos preços que galoparam no governo deles. Ele [Bolsonaro] cresce um pouquinho por causa dos aliados, que tem voto, mas não acho que ele vai reverter.

Como a senhora avalia o movimento do ex-presidente Lula de buscar aliados mais ao centro, caso de líderes do MDB no Nordeste, incluindo Piauí?
RS – O MDB faz parte da nossa base, então não há nenhum óbice, temos uma boa relação. E coalizão é assim mesmo, ninguém ganha sozinho. É preciso de uma coalização para ganhar a eleição e para governar, mas sabendo que não estamos convivendo com iguais.

Então, é saber conviver e focar no que é importante: resgatar esse país para o povo e reconstruir o que foi destruído e trabalhar em benefício dos mais pobres. Até porque todo mundo percebe que o negócio desse governo atual não é pobre.

A senhora terá apenas oito meses à frente do governo do Piauí. Qual marca pretende deixar?
RS – Eu não tenho tempo para deixar marca. As pessoas consideram marcas grandes obras, aquilo que elas olham. Eu pretendo fazer algumas coisas mais significativas.

Na área de saúde quero fazer uma rede de saúde mental, que é uma das consequências da pandemia. Quero dar mais força ao nosso programa de alimentação saudável, que apoia a produção e garante a compra da produção da agricultura familiar.

Também pretendo fazer um trabalho mais consistente com as comunidades tradicionais, quilombolas e indígenas. Então, é basicamente esse trabalho de combate à pobreza. Se fizer, estou satisfeita. Será minha grande obra.

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