Com a morte de Lygia Fagundes Telles, no último dia 3 de abril, perdemos a última das três damas do famoso trio de escritoras brasileiras. As outras duas ‘damas’ foram Rachel de Queiroz (1910-2003) e Lya Luft (1938-2021). Vocês me puxarão a orelha: e Clarice Lispector? Clarice nunca aceitaria essa titulação.
Nascida em São Paulo, em 19 de abril de 1923, Lygia Fagundes Telles formou-se em Direito, mas nunca exerceu a profissão. Seu primeiro marido, Goffredo da Silva Telles Júnior, foi seu professor, com quem teve um filho. Seu segundo marido foi o crítico literário Paulo Emílio Sales Gomes (ambos falecidos).
A escritora estreou na literatura em 1973 com o romance “As meninas”. O livro fez muito sucesso, chagando a ganhar os prêmios ‘Jabuti’, ‘Coelho Neto’ (da Academia Brasileira de Letras) e ‘Ficção’ (da Associação Paulista de Críticos de Arte).
Em 1987, tomou posse na Academia Brasileira de Letras ocupando a cadeira de número 16 (cujo patrono é Gregório de Matos). Como escritora, Lygia surfou com desenvoltura pelo conto (Porão e sobrado (1938), Antes do Baile Verde (1970), Seminário dos Ratos (1977), Mistérios (1981), Invenção e Memória (2000); pelo romance (Ciranda de Pedra (1954), Verão no Aquário (1964), As Meninas (1973) e As horas nuas (1989), e pela crônica. De sobra, adaptou diversos textos.
Em seu discurso de posse na ABL disse:[…] “Às vezes, a esperança. O homem vai sobreviver, e essa certeza me vem quando vejo o mar, um mar que talhou com tanta poluição, embora! mas resistindo. Contemplo as montanhas e fico maravilhada porque elas ainda estão vivas. Sei que é preciso apostar e de aposta em aposta cheguei a esta Casa para a harmoniosa convivência com aqueles que apostam na palavra”.
Enquanto mera mortal, a imortal LFT chegou a escrever: “Não acho maravilhoso envelhecer. A gente envelhece na marra, porque não há mesmo outro jeito, já fui a tantas estações de águas, já bebi de tantas fontes – onde a Fonte da Juventude, onde?”
Que a terceira e última ‘dama da literatura brasileira’ descanse em paz. Enquanto isso, leiamos seus livros e os livros das outras duas, pois essas eternas ‘meninas’ têm muito a nos dizer.
Ernâni Getirana (*)
(*) professor, poeta e escritor. Autor, dentre outros livros, de Debaixo da Figueira do Meu Avô. Escreve para esta coluna às quintas-feiras.