Os dois anos de pandemia por COVID 19, admito, têm lá suas recompensas (se se pode dizer assim). Todas elas voltadas para o lado espiritual (não estritamente religioso) ou para o lado cultural, o que dá no mesmo. Isso provavelmente se deu por conta da encruzilhada na qual se meteu a nossa vida cotidiana à qual Aristóteles chamava de práxis. O confinamento de milhões de pessoas em suas casas por semanas impactou, de fato, suas vidas e, parece, uma das saídas possíveis foi (tem sido) a arte. E aqui já estamos no campo da poiesis, só para lembrar de novo Aristóteles.
Os seres humanos (Homo Sapiens) somos os únicos animais que sabidamente inseridos num cotidiano de tempo-espaço, estão também ‘vivendo’ num além e num acolá. Aliás, ninguém melhor do que um poeta para resumir magistralmente isso: “A arte existe porque a vida não basta” (Ferreira Gullar).
Ora, enquanto instituição social, uma academia de letras está inserida na práxis aristotélica, pois possui documentação junto ao leão do imposto de renda, lida com o CNPJ, emite e recebe ofícios e, a cada reunião, gesta uma ata que vai assinada por todos os imortais ainda presentes.
Pois o projeto ‘APLA: Aprendendo & Acontecendo’ trata-se de uma iniciativa da Academia Pedro-segundense de Letras e Artes cuja ideia foi trazida pela acadêmica Socorro Almeida. Com a aprovação por unanimidade dos demais acadêmicos e acadêmicas, realizou-se o vídeo com cerca de 45 minutos de duração e que homenageia a mulher Pedro-segundense e em especial aquelas que escrevem: Marina Campelo, Aldenira Martins, Nadia Lely, Nena Barros, Sérgia Antonia, Socorro Almeida, Marlene Rodrigues, Gerciane Lima, Lousinha Viana, Dayse Benício, Maria Luiza Leite, Lucimary Leite, Fátima Uchôa, Toinha Castro e Ana Galvão. Os poemas foram interpretados pela professora Jaqueline Oliveira.
O vídeo, apresentado pelos também acadêmicos Socorro Almeida e Pedro Barros (e filmado por Samuel Gravações), homenageia ainda duas fotógrafas amadoras (e sócias eméritas da APLA) Isabel Cruz e Zeneide Campelo cujos registros fotográficos retratam facetas da cidade de Pedro II.
O vídeo contou com a participação de Marlene Rodrigues (presidente da APLA e que falou em nome da instituição), Ernâni Getirana (vice-presidente que falou sobre o fazer poético) e Gilsiê Memória (que cantou uma canção do grande compositor Gilvan Santos). As filmagens aconteceram no espaço cultural ‘Toca das Lendas’ e sua divulgação em uma mídia local de grande alcance só foi possível devido ao esforço do deputado e acadêmico da APLA, Wilson Brandão.
O vídeo “APLA: Fazendo & Acontecendo 1ª edição”, tem tido boa aceitação junto ao público pedro-segundense, professores, alunos, admiradores de poesia e literatura. Nas palavras da presidente, Marlene Rodrigues, “Pessoal, vamos espalhar geral esse vídeo. Vamos compartilhar nas redes sociais”, percebemos um misto de dever cumprido e ansiedade em divulgar mais esse ousado projeto da Academia Pedro-segundense de Letras e Artes, criada pelos escritores Desembargador Tomaz Campelo e Herculano Moraes em 2004. Mas isso já é outra história.
Ernâni Getirana é poeta, escritor e professor. É autor, dentre outros livros, de ‘Debaixo da Figueira do Meu Avô’ e escreve para esta coluna às quintas-feiras.
