Chegou em casa lá pelas duas da madrugada, arrasada depois de sete horas, (sete horas! Caralho!) presa naquele maldito engarrafamento. E depois de tudo ainda ter lido a mensagem dele na tela do seu celular: ‘não veio e nem precisa mais vir. Ela respostou: ‘presa aqui no engarrafamento, o que vc quer que eu faça? ”
E o pior não era nem ter recebido aquela mensagem dele a dispensando depois dela ter passado horas espremida na fila cavalar de carros. Isso sem falar da fome filha da puta que sentia. E as mil ligações do marido que tivera que atender e a cada vez ter que dizer que logo, logo, estaria livre do engarrafamento. Que ele não se preocupasse, que ela logo, logo estaria em casa. Tirara fotos e enviara ao marido para comprovar o que dizia, pois já dava a transa com o amante como perdida.
Quando ela girou a chave na porta com cuidado para não dar na vista, notou que havia uma luz baça zanzando pela sala do apartamento. A luz jorrava do aparelho de TV. O homem deitado no sofá, roncava. O celular sobre a mesinha de centro. Ela foi na ponta dos pés e com muito cuidado pinçou com as pontas dos dedos aquele saboroso pedaço de pizza e o devorou sem dó. Depois limpou os lábios com o dorso da mão e foi logo subindo para o quarto para tomar uma ducha. Mas antes passou pelo quarto dos filhos. Dormiam feitos anjos. Nada de beijinho na testa para não acordá-los.
Se desfez das roupas e seguiu para o chuveiro só de calcinha e sutiã até se livrar disso também. Totalmente nua deixou-se molhar totalmente por aquela água benfazeja. O cabelo na altura dos ombros como ela gostava, colava na pelo do pescoço, dos ombros por onde se despejavam os veios de água que desciam do chuveiro. Não estava nem fria, nem quente a água escorria pelo seios, barriga, coxas e daí até o chão para onde se encaminhava rumo ao ralo.
De olhos fechados ela sentiu aos poucos o cansaço se desgrudar se seu corpo e essa sensação a fez tocar-se e começou a fazer movimentos ritmados. Fechou os olhos para fazer de conta que era com ele ali debaixo do chuveiro. Gozou. Terminado o banho foi dormir.
Por Ernâni Getirana