O ciclo de mudanças do Senado Federal iniciado em 2018, quando a Casa teve a maior renovação da sua história, deve ter continuidade e se consolidar no próximo ano, quando um terço das cadeiras estarão em disputa.
Para 2022, o xadrez eleitoral que começa a se desenhar aponta para cenários adversos para a maior parte dos 27 senadores que estão em fim de mandato. Aparecem em situação de risco de reeleição nomes como Davi Alcolumbre, Simone Tebet, Kátia Abreu, Fernando Collor e Omar Aziz, esse último presidente da CPI da Covid.
Em 2018, foram eleitos 46 novos senadores para as 56 vagas em disputa naquele ano, uma renovação de 85% das cadeiras. Apenas um de cada quatro senadores que tentaram a reeleição conseguiram renovar o mandato.
Cinco dos senadores em fim de mandato já anunciaram que não vão disputar a reeleição, mas a lista tende a aumentar até o início da campanha do próximo ano.
Entre os que não devem renovar o mandato estão veteranos como o senador José Serra (PSDB), de São Paulo, e Tasso Jereissati (PSDB), do Ceará, além do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB), de Pernambuco.
Diagnosticado com Parkinson, Serra pediu licença temporária do cargo em agosto e deve concorrer a uma cadeira da Câmara no próximo ano. A eleição é considerada mais tranquila, pois não demanda tantas viagens quanto uma campanha majoritária.
Tasso vai se aposentar da política após 36 anos de trajetória e evitar um embate contra o governador Camilo Santana (PT), que deve deixar o governo com alta popularidade.
Três senadores na reta final dos mandatos se movimentam nos bastidores do Senado para assegurar uma possível vaga no TCU (Tribunal de Contas da União) que pode ser aberta em caso de antecipação da aposentadoria do ministro Raimundo Carrero.
Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), Antonio Anastasia (PSD-MG) e Kátia Abreu (PP-TO) almejam o posto. Em comum, os três são adversários dos governadores de seus estados e têm disputas pela reeleição difíceis pela frente.
Dos três, Bezerra foi o único que anunciou publicamente que não deve concorrer à reeleição –deve centrar as forças na tentativa de eleger o filho Miguel Coelho (DEM) para o Governo de Pernambuco.
Os demais senadores planejam concorrer à reeleição e se preparam para embates duros em 2022. Ex-presidente da República, Fernando Collor (Pros) tentará o seu terceiro mandato como senador.
Mas vai enfrentar um cenário distinto ao de 2014, quando foi companheiro de chapa do hoje governador Renan Filho (MDB).
Collor e Renan Filho romperam em 2018, quando o ex-presidente concorreu ao Governo de Alagoas, mas desistiu da candidatura no meio da campanha. Isolado politicamente em Alagoas, aproximou-se do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), de quem tornou-se um ardoroso defensor.
Mas Collor não terá uma missão fácil no próximo ano, já que deve enfrentar nas urnas Renan Filho, que deve se desincompatibilizar do cargo em abril para concorrer ao Senado.
Outro ex-chefe de poder que terá páreo duro é o senador Davi Alcolumbre (DEM), que comandou o Congresso Nacional entre 2019 e 2021.
Ele entrou em rota de colisão com o governo Bolsonaro por segurar a sabatina de André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal. Por isso, enfrenta desgaste entre líderes evangélicos do estado, que defendem a indicação de Mendonça, pastor presbiteriano.
Localmente, ficou desgastado politicamente após um apagão de 22 dias ter atingido parte do Amapá de 2020. Por causa disso, viu seu irmão, Josiel Alcolumbre (DEM), sair de favorito a derrotado na disputa pela Prefeitura de Macapá.
Também perdeu um importante aliado no Amapá: o senador Randolfe Rodrigues (Rede), um dos fiadores de sua campanha ao Senado em 2014 e ao governo em 2018. Randolfe deve ser candidato ao governo e apoiar o ex-governador João Capiberibe (PSB) para o Senado.
No Amazonas, o presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD), tentará a reeleição contra Arthur Virgílio Neto (PSDB), ex-prefeito de Manaus, e o Coronel Menezes (Patriota), aliado de Bolsonaro.
Aziz terá cenário diferente de 2014, quando foi eleito meses após deixar o Governo do Amazonas. Ele também tenta se recuperar da derrota de 2018, quando foi candidato a governador.
No Rio, o senador Romário (PL) tem feito acenos a Bolsonaro para ter o apoio do presidente em sua tentativa de reeleição. Em entrevista, fez críticas ao PT e disse que o país está melhor sob Bolsonaro.
Mas o campo bolsonarista está congestionado no estado, com outros quatro possíveis candidatos ao Senado: o vice-presidente Hamilton Mourão, o ex-ministro Eduardo Pazuello, o prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis (MDB), e o deputado federal Otoni de Paula (PSC).
Eleito em 2014 pelo PSB como uma novidade na política, Romário se filiou ao Podemos em 2017, por onde foi candidato a governador do Rio um ano depois. Ele acabou em quarto lugar.
O MDB terá sua posição de maior bancada no Senado ameaçada. O partido, atualmente com 15 senadores, terá seis parlamentares encerrando o mandato em 2023.
Sob os holofotes da CPI da Covid, onde teve atuação de destaque na inquirição de depoentes, Simone Tebet (MDB), de Mato Grosso do Sul, foi alçada à condição protagonista do partido e lançada pré-candidata à Presidência.
Em seu estado, contudo, o cenário é bem diferente. Em fim de mandato, ela terá uma missão difícil para tentar renovar o mandato no Senado, caso a candidatura ao Planalto não se concretize.
Crítica ao governo federal, Tebet terá como adversária justamente a ministra da Agricultura de Bolsonaro, Tereza Cristina (DEM), que negocia aliança com o PSDB do governador Reinaldo Azambuja.
Outra emedebista que pode ter dificuldades para a reeleição é Rose de Freitas, do Espírito Santo. No caso dela, os obstáculos começam dentro do MDB local, que rachou após a aliança da senadora com o governador Renato Casagrande (PSB), que também tentará a reeleição.
Ela terá um páreo duro na corrida pela vaga com o ex-senador Magno Malta (PL), que terá o apoio de Bolsonaro. Outro nome de peso que pode entrar na disputa pela vaga é o ex-governador Paulo Hartung, cortejado pelo PSD.
Em Santa Catarina, o senador Dario Berger (MDB) tem aumentado o tom das críticas ao governo Bolsonaro. A estratégia prevê a polarização do embate em 2022 com o bolsonarismo, que quer emplacar no Senado o empresário Luciano Hang.
Fonte: Folhapress