O Parlamento de Israel ratificou neste domingo (13) uma “coalizão de mudança”, formada por rivais ideológicos, que tirou Benjamin Netanyahu do poder após 12 anos. O ultradireitista Naftali Bennett, 49, é o novo premiê.
Uma coalizão heterogênea —envolvendo dois partidos de esquerda, dois de centro, três de direita e uma formação árabe— havia costurado a maioria necessária de 61 deputados em 120 parlamentares. Mas a votação, ocorrida antes das 21h no horário local, aprovou o chamado “governo de mudança” com 60 dos 120 legisladores a favor e 59 contra. Um parlamentar se absteve
A coalizão sem o partido conservador Likud, do qual Netanyahu faz parte, significa o fim de um imbróglio que levou Israel a quatro eleições em pouco mais de dois anos.
Depois das últimas legislativas em março, a oposição se uniu contra Bibi, como Netanyahu é conhecido, e surpreendeu ao conquistar o apoio do partido árabe israelense Raam, do islamista moderado Manssur Abbas.
O acordo ratificado hoje foi costurado semanas atrás por Yair Lapid, 57, líder da oposição por comandar o maior partido contrário ao antigo premiê, o Yesh Atid. Embora tenha liderado as negociações, Lapid cedeu o cargo de premiê a Bennet como garantia de que teria o apoio de seu partido para finalmente conseguir maioria e varrer Bibi do poder.
O acordo é que Bennet fique no cargo por 18 meses, quando, então, ocupará um ministério e cederá o posto a Lapid, um ex-apresentador de telejornal que começou sua vida política em 2012, quando fundou o partido que lidera.
A coalizão se comprometeu a realizar uma investigação sobre a debandada do Monte Merón (45 ortodoxos mortos), reduzir a criminalidade nas cidades árabes e defender os direitos da população LGBTQI+.
Mas também visa fortalecer a presença israelense na área C da Cisjordânia, ou seja, sobre a qual Israel tem total controle militar e civil e que representa cerca de 60% desse território palestino ocupado desde 1967.
Quem é o novo premiê?
Bennet é um filho de imigrantes americanos que entrou na política em 2006 no partido de Netanyahu, o Likud. Em 2008, porém, trocou de partido e foi para o Lar Judeu. Em 2012, foi eleito líder da legenda, renomeada Yamina em 2018.
O ultradireitista apoiava Bibi até recentemente, mas decidiu aderir à oposição após oferta de ficar com o cargo de líder do governo. Ele justifica, porém, que seus motivos para mudar de lado é a necessidade de trocar o premiê após tantas eleições frustradas.
Considerado um empreendedor de sucesso, Bennet é um dos maiores defensores das colônias israelense na Cisjordânia e não abre mão de controlar Jerusalém Oriental.
Bibi acusa Bennet de “falso direitista”
A reunião no Knesset, como é conhecido o parlamento israelense, que antecedeu a votação foi tensa. Partidários de Netanyahu tentaram bloquear as votações com críticas a Bennet e toda a oposição.
Netanyahu chegou a dizer no plenário que Bennet representa a “maior fraude desde a história de Israel”, ao afirmar que o líder de direita havia descartado um governo com Lapid antes da eleição.
“O público não vai esquecer essa fraude tremenda”, afirmou Netanyahu, segundo o Times of Israel. Segundo o antigo premiê, “Bennett e seus aliados são ‘direitistas falsos'”.
“Rei Bibi”
Netanyahu, de 71 anos, é o primeiro-ministro que mais tempo permaneceu no poder em Israel. Adorado por alguns e muito criticado por outros, apostou fortemente na carta da defesa do país.
Mas, depois de 12 anos ininterruptos no poder e manobras intermináveis para permanecer à frente do governo, perdeu suas funções para uma nova “coalizão de mudança”. Seus opositores o veem como um “ministro do crime”, e não um primeiro-ministro, fazendo alusão às acusações de corrupção, peculato e quebra de confiança que pesam sobre ele.
Seus partidários veem em “Bibi” a encarnação do novo “rei de Israel”, por sua defesa pétrea do país contra o Irã, o arqui-inimigo.
Netanyahu está sendo julgado há um ano por suposta corrupção. Os protestos pedindo sua renúncia continuam, o último deles na noite de sábado.
Em frente à sua residência oficial em Jerusalém, os manifestantes não esperaram a votação no Parlamento para celebrar a “queda” do “rei Bibi”, o apelido de Netanyahu, que foi chefe de governo de 1996 a 1999 e sem interrupção desde 2009.
“A única coisa que Netanyahu queria era nos dividir, uma parte da sociedade contra a outra, mas amanhã estaremos unidos, direita, esquerda, judeus, árabes”, disse Ofir Robinsky, um manifestante.
Desafios
Não faltarão desafios para o novo governo, como uma marcha planejada na terça-feira pela extrema-direita israelense em Jerusalém Oriental, um setor palestino ocupado por Israel.
O movimento islâmico Hamas, no poder em Gaza, um enclave palestino sob bloqueio israelense, ameaçou retaliar se essa marcha acontecer perto da Esplanada das Mesquitas, em um contexto de extrema tensão sobre a colonização israelense em Jerusalém.
Em 10 de maio, o Hamas disparou uma salva de foguetes contra Israel em “solidariedade” aos palestinos feridos em confrontos com a polícia israelense em Jerusalém, levando a um conflito de 11 dias com o exército israelense.
O conflito terminou graças a um cessar-fogo promovido pelo Egito, mas as negociações para chegar a uma trégua sustentável falharam. Resolvê-lo será outro desafio do executivo.
O primeiro-ministro cessante ficará exposto, segundo a imprensa local, a uma rejeição dentro do Likud, porque alguns dos seus deputados também querem virar a página para a era Netanyahu.
(Com AFP)