O arquiteto e urbanista Jaime Lerner, ex-governador do Paraná e ex-prefeito de Curitiba, morreu na manhã de hoje de complicações renais aos 83 anos. A notícia foi confirmada pelo Hospital Universitário Evangélico Mackenzie ao UOL.
Lerner estava internado desde a semana passada com um quadro de febre. Segundo o boletim do hospital, ele morreu às 5h10 (de Brasília) em decorrência de uma doença renal crônica.
Jaime Lerner foi governador do Paraná de 1995 a 2002, e eleito prefeito de Curitiba por três vezes (1971, 1979 e 1989). Ele estava afastado da política paranaense desde 2003, quando deixou o cargo no Palácio Iguaçu, sede do Governo do Estado.
Lerner era viúvo desde 2009. Ele era casado com Fani Lerner, que na década de 70 se tornou uma das mais novas primeiras-damas do Brasil, com 24 anos. O casal teve duas filhas.
O velório será realizado hoje na Capela Mortuária Israelita Água Verde e o enterro está previsto para as 15h, no cemitério Santa Cândida, em Curitiba.
Em março deste ano, Jaime Lerner foi diagnosticado com covid-19. Na ocasião, ele apresentou somente sintomas leves da doença.
Transporte coletivo de Curitiba virou referência internacional
Lerner se formou em 1964 na Escola de Arquitetura da Universidade Federal do Paraná.
No ano seguinte, participou da criação do IPPUC (Instituto de Planejamento Urbano de Curitiba), responsável pelo Plano Diretor de Curitiba.
Ele era filiado à Arena e foi nomeado prefeito da capital paranaense pelos militares em 1971 e em 1979. Lerner voltou à prefeitura em 1989, desta vez eleito, pelo PDT, partido ao qual era filiado desde 1983.
Depois, foi governador do Paraná por duas gestões, a partir de 1995. Em 1997, ele deixou o PDT e se filiou ao antigo PFL, atual DEM.
Lerner ganhou notoriedade internacional por seu projeto de planejamento urbano e da transformação do transporte público da capital paranaense. De acordo com o arquiteto, o sistema de transporte de Curitiba foi replicado em aproximadamente 250 cidades do mundo inteiro.
Durante a sua carreira, uma das convicções mais controversas é de que sempre foi contra o sistema de metrô, por causa do alto custo. Para ele, as canaletas exclusivas para o transporte coletivo, embarque rápido e intervalos curtos entre os veículos, como foram feitos em Curitiba, são soluções para cidades de qualquer porte.
Desde que deixou a política, em 2003, ele tinha uma empresa que já desenvolveu planos e projetos para cidades brasileiras como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Salvador e também para o Panamá, México e Angola.
Lerner foi consultor em assuntos urbanos para as Nações Unidas. Em também foi premiado no Concurso Nacional de Projetos pelo edifício-sede da Polícia Federal, em Brasília, e em 2007 recebeu da XI Bienal Internacional de Arquitetura de Buenos Aires o prêmio conjunto pela urbanização Pedra Branca.
Em 2018, o curitibano também foi eleito o segundo urbanista mais influente do mundo nos últimos tempos, de acordo com a revista norte-americana de planejamento urbano Planetizen.
Governo Lerner
O escândalo financeiro do Banco do Estado do Paraná, o Banestado, foi uma das principais polêmicas do então governador Jaime Lerner.
Em 2000, o banco foi vendido ao Itaú via Leilão, pelo valor de R$ 1,6 bilhão. A privatização foi uma reação de Lerner à ameaça de intervenção do Banco Central, do governo de Fernando Henrique Cardoso.
Dois anos depois, o Itaú fechou várias agências consideradas deficitárias do Banestado e chegou a demitir, em média, 10 a 15 funcionários por dia.
Três anos antes da venda, Lerner emprestou R$ 5,6 bilhões da União para evitar a falência da instituição.
A dívida permanece até hoje e o valor de amortização, juros e da dívida ainda deve ser pago pelo governo paranaense até 2048.
Repercussão
O governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD-PR), manifestou pesar pela morte e decretou luto oficial de três dias.
Fonte: Folhapress