Sacos de plástico ao vento, transparentes
No lugar do coração o logo de alguma multinacional
(fantasia de carnaval?)
No!
Homens de plástico desenhando no espaço
Etapas de um lento m.o.v.i.m.e.n.t.o.
Que parece não ter fim.
Sacos e homens patéticos
E o vento apocalíptico soooprando.
Vento morno des(em)pregando ex-homens metais
Homo-faber que mora no ABC e mal sabe ler.
Impasse, grave greve decretada. Paralização geral.
À mesa, feito água e azeite trocam palavras de bolha de sabão (irredutíveis patrões)
Fortes desejos expostos de importância CAPITAL.
Lá fora sacos de plástico vazios
Vazios os estômagos dos filhos de Adão.
Homens de plástico esmagados ao chão.
Seus filhos famintos entulhados em barracos.
Pares de olhos que desde cedo
Começam a ver um mundo imundo
Bocas fechadas ao protesto e à comida
Corpos esqueléticos, tentativas de vida
Em meio a um voo suicida
Involuntários kamikazes brasileiros.
Lavados pelas correntes de vento
Esboços de homens
Desfilam em c.â.m.a.r.a. l.e.n.t.a
Numa melancólica agonia.
(*) (poema vencedor do 1º lugar do concurso realizado pela UFPI, 1984)
ERNÂNI GETIRANA (ernanigetirana12@gmailcom) é professor, poeta e escritor. Membro das academias ALVAL e APLA (da qual é o atual presidente), pertence à UBE, IHGPI e aos coletivos literários Amigos da Literatura e Coletivo Literário de São Benedito, CE, é membro fundador do Coletivo P2. Autor de diversos livros, dentre eles “Lendas da Cidade de Pedro II” e (Livraria