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Discurso proferido por conta do lançamento do livro ‘Genuínos meninos, cajuínas meninas’, de Cleomar Leite

Prezada professora e confreira Toinha Castro, em nome da qual saúdo a todo(a)s presentes na mesa de honra,

 

Confreiras e confrades da APLA – Academia Pedro-segundense de Letras e Artes

Familiares de Cleomar Leite, sua esposa Adriana, sua irmã Dordora

Em especial saúdo as memórias de seu pai Juraci Leite e de sua mãe Maria Luiza Leite

Demais pessoas que se fazem presentes

 

 

Senhoras e senhores

 

O lançamento de um livro é mais do que louvável e auspicioso. Dessa forma, não poderia deixar de prestigiar  esse significativo evento cultural.

 

Nosso amigo Cleomar Leite, não é propriamente um iniciante na arte de escrever.  O faz desde há muito tempo e quando a rede mundial de computadores se apresentou a todos nós, ele impôs nela a marca de sua escrita.

 

Seus textos navegam pela internet conquistando um secto de leitores e leitoras entre os quais me incluo.

 

Driblando a imponderabilidade, a brevidade, a languidez do mundo interneteiro, todo ele, de ponta a ponta domado pelos algoritmos, ei que os textos de Cleomar funcionam como que balizas, faróis, espaços de respiro, nos quais ele resgata lugares, nomes, situações quase engolfadas pelo tempo e que se perderiam para todo o sempre, e lhes dá um novo status e os faz chegar aos olhos das gerações mais novas.

 

Talvez sem o saber, Cleomar siga à risca a frase lapidar do professor e poeta de saudosa memória Francisco de Sousa Viana, o Vianinha, que em uma carta datada de 1989  a mim endereçada de São Paulo, após contar várias peripécias, escreveu um breve poema cujo mote é: ‘Não há melhor lugar no mundo que Pedro II’ .

 

A escrita de Cleomar Leite é quase que uma transcrição ips literis do cotidiano pedro-segundense desse e de outros tempos. Ela, a escrita, abraça e nos traz tanto Dr. Roberto Farias, Nogueira Filho e Tomaz Café, como Bodinho, Zacarias e Chico Valeriano. E tantos e tantas outros e outras personalidades desse torrão de Nossa Senhora da Conceição.

 

Suas frases de efeito podem tanto dobrar a esquina da Igreja Matriz, como se engalfinhar por entre os feirantes do Pé de Tamboril de outrora.

 

Seu parágrafo consegue puxar-nos para dentro do Bar do Poronga, nos conduzir pelas calçada de seu Alcides Mourão e de Dona Iracema, como nos convida a descer a ladeira do Pirapora ou torcer pelo belo gol que acabou de ser feito pelo Lino, Zé Nilton ou Balinha.

 

Eu poderia prosseguir numa sequência quase infinita de situações e personagens, mas paro por aqui.

 

Dizendo ainda que as reticências de sua escrita interneteira podem querer dizer aos leitores e leitoras  mais argutos “me ajudem a completar essa descrição, esse pensamento fio, como podem insinuar que a vida é grande demais para caber na tela de um celular ou de um computador.

 

Já bastante lido pelo que escreve em suas redes sociais, Cleomar sabe, como todos nós também sabemos  que é, contudo, no objeto livro, ‘biblios’ em latim, ‘libro’em espanhol, é nesse objeto que, efetivamente, as ideias ganham uma entrega total tanto por parte de quem as escreve quanto  de quem as lê.

 

Essa certeza já era proferida há séculos pelos latinos na famosa máxima: scripta manent verba volant, ou seja: ‘as palavras voam, os escritos permanecem”.

 

Senhoras e senhores, o aparecimento do livro é considerado uma revolução em si mesma. Por cerca de mais de cem mil anos a transmissão de informações só podia ser realizada mediante a proximidade física dos interlocutores.

 

Com o surgimento da escrita na Suméria e, posteriormente, com o surgimento do livro, as informações puderam então circular pelas cidades europeias, quando estas eram, de fato ainda, reinos. Claro que até início do século 20 apenas as classes privilegiadas tinham acesso ao objeto livro.

 

Com a necessidade de trabalhadores mais qualificados, o sistema capitalista foi obrigado a criar agências de ensino e aprendizagem para as massas. Dessa forma as  instituições escolares se tornaram imperiosas e o ensino de aritmética e o da leitura começaram a andar de mãos dadas.

 

Pois bem, eis que estamos diante de ‘Genuínos Meninos, Cajuínas Meninas”, esse seu livro de estreia e sobre o qual conversamos tempos atrás pelo Whats app e você me disse que estava com a versão do texto em mãos para os últimos acertos.

 

A partir de agora, prezado Cleomar, quando você nos dá a conhecer o que escreveu, o livro não é mais seu. Se até o presente você teve o controle sobre ele, agora não o terá mais. Cada leitor, cada leitora se apropriará dele e o digerirá à sua maneira e modo.

 

E em futuras conversas que virá a manter com os potenciais leitores, estes lhe trarão interpretações alguma das quais pensará de si para si, “eu quis dizer isso mesmo?”. Mas isso não importa.

 

O importante é que cristalizou suas ideias sobre a superfície de celulose e as oferece como quem oferece a convivas um banquete.

 

É assim e assim será. Nossos livros ganham vida própria, caminham com as próprias pernas.

 

Nesse ponto aproveito para lembrar que o livro não é uma mercadoria. Mercadoria é um quilo de arroz, um pacote de biscoito, um celular, um automóvel, um alfinete. Valem pelo que são, pela ação que realizam.

 

O livro é, antes de tudo um produto. É um objeto físico ou virtual portador de mensagens, de ideias. Mas é um produto que para existir depende de um circuito.

 

Por isso a importância da formação de leitores e leitoras competentes, abertos ao diálogo. Daí a importância de professores que sejam também, independentemente de sua área de formação bons leitores, boas leitoras de poesia, de prosa.

 

 

No circuito da leitura e livro é imprescindível a existência de espaços de leitura e não apenas de leitura técnica, dirigida,  como também da leitura fruitiva, da leitura literária.

 

Nesse contexto a existência, por exemplo do SALIP2 –Salão do Livro de Pedro II, tornado Lei na gestão da prefeita Elisabete Rodrigues de Oliveira, é um ponto alto da cultura em nosso município elogiado em público por professores da estatura de um Cineas Santos e de um Luis Romero, quando aqui estiveram recentemente para o II SALIP2.

 

Prezado Cleomar Leite, desejo em meu nome pessoal e em nome dos confrades e das confreiras que fazem a APLA – Academia Pedro-segundense de Letras e Artes de Pedro II, vida longa ao seu “Genuínos Meninos, Cajuínas Meninas”, que ele esteja sempre em boas mãos sendo aberto, folheado, lido. Que seja o primeiro de muitos outros que virão.

 

Já finalizando minhas palavras, gostaria de trazer aos presentes o seguinte acontecimento:

 

O compositor Caetano Veloso, em 1997, lançou dois produtos culturais: o livro “Verdade Tropical” e o CD ‘Livros’.

 

Conta o compositor baiano que ao concluir a escrita do livro, concluía também o CD, mas então sentiu que estava faltando algo. Por isso compôs a canção-título que se chama exatamente ‘Livros’.

Nessa bela canção, o eu poético lá pelas tantas diz:

 

“Tropeçavas nos astros desastrada
Quase não tínhamos livros em casa
E a cidade não tinha livraria
Mas os livros que em nossa vida entraram
São como a radiação de um corpo negro
Apontando pra a expansão do Universo
Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso
E, sem dúvida, sobretudo o verso
É o que pode lançar mundos no mundo

Tropeçavas nos astros desastrada
Sem saber que a ventura e a desventura
Dessa estrada que vai do nada ao nada
São livros e o luar contra a cultura

Os livros são objetos transcendentes
Mas podemos amá-los do amor táctil
Que votamos aos maços de cigarro
Domá-los, cultivá-los em aquários
Em estantes, gaiolas, em fogueiras
Ou lançá-los pra fora das janelas
Talvez isso nos livre de lançarmo-nos
Ou o que é muito pior por odiarmo-los
Podemos simplesmente escrever um”

Um abraço, prezado escritor e confrade da APLA. Boa sorte.

Obrigado.
 

(Ernâni Getirana, ocupante da cadeira 12 da APLA, patro Epifânio Getirana).

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