A História é feita de muitas histórias, como nos lembra o historiador inglês Peter Burke*, de 87 anos. No Brasil, até à década de 1980 os livros didáticos de História costumavam trazer uma versão pronta e acabada dos fatos supostamente acontecidos. Estes fatos estavam salpicados de ‘personalidades históricas’, e o resto, bem, o resto não tinha nem rosto, nem nome e muito menos sobrenome.
Mas as coisas sempre estão a mudar. Não no sentido de ficarem sem voz, mas no sentido de não serem amanhã o que ainda são hoje. As cidades mudam, as casas mudam, a tecnologia muda, mudamos todos nós na dialética do espaço-tempo.
Para percebermos a mudança, porém, é preciso dançar com o mundo em sua muda dança. Aprender a ler nas entrelinhas.
Isso requer de nós um esforço de distanciamento mental do cotidiano, embora fiquemos com os pés atolados o tempo todo nele. Mais não digo, mas desenho.
(*) Historiador britânico reconhecido como um dos mais conceituados especialistas em Idade Moderna europeia, Burke aborda assuntos da atualidade e enfatiza a relevância de aspectos socioculturais em suas análises. Professor emérito de História Cultural em Cambridge, é autor de mais de trinta livros, como O que é história cultural? e Formas de fazer História.
ERNÂNI GETIRANA (@ernanigetirana) é professor, poeta, escritor. Membro da APLA, AVAL e do IHGPI. Membro fundador do Coletivo P2. É autor, dentre outros livros, de “Debaixo da Figueira do Meu Avô”. Idealizador do projeto “Tenda da Cruviana” e coordenador do espaço cultural “Toca das Lendas”. Escreve às quintas-feiras para esta coluna.