24.8 C
Teresina
segunda-feira, novembro 25, 2024
Dengue
InícioCulturaNossa Ancestralidade

Nossa Ancestralidade

Todos nós que aqui estamos
Feitos galhos, vimos de algum tronco com muitas raízes
Nosso modo de ver e de sentir
Nosso modo de pensar e de agir
Nosso modo de ficar ou de partir
Tudo isso e muito mais que isso
Está conectado com nossa ancestralidade

 

Os ancestrais são aqueles e aquelas
Que vieram antes de nós e, assim, prepararam nossa vinda
Nossos pais, tios, tias e avós
Mas também muitos outros e outras bem para trás
Num tempo em que nem liberdade tinham
E por isso foram aprisionados, acorrentados em porões de navios
E arrancados de sua terra natal, tiveram que aprender novas línguas, sabores e cheiros
Novas formas de ser e de estar no mundo e de se proteger
Sem, porém, esquecer e renegar sua cultura, suas crenças e sua religião

 

Ancestrais são também aqueles que mesmo estando aqui desde o início
Tiveram suas terras espoliadas, solapadas pela ganância dos civilizados
E escravizados foram também em suas próprias casas
Na terra de pindorama, ‘terra de palmeiras’,
Que era o nome que o Brasil tinha antes de se chamar Brasil

 

E apesar de tudo e de todos, aqui estamos,
Entre atabaques e chocalhos, entre miçangas, tranças e cachos,
Entre maracás e tambores, entre vivências e amores

 

E apesar dos pesares, aqui chegamos de pé e tenazes, de mãos dadas e caminhando
Com nossas memórias e histórias, com nossos corpos negros com suas cicatrizes
Com narizes e bocas e cabelos
Olhos e ouvidos e alma bem abertos e alertas
Com nossos penachos coloridos e vendo e ouvindo a natureza
E o que ela tem a nos dizer em sua sabedoria através das eras
Inscritas na pela do planeta

 

Nossas danças, nossas rezas, nossos instrumentos, nossas vestimentas
Nos fazem únicos e belamente humanos
Guerreiros e guerreiras da paz, mas sem pestanejar
Companheiros dos ecossistemas, dos temas do viver e da fé, da vida, das pessoas,
Em cujo peito ressoa a luta por justiça
Que atiçam o arco, a flecha, o maracá, o atabaque nos embates

 

Que seja assim, que assim seja o tempo do encontro e da conversa
Em pé de igualdade nas idades do planeta
De nós com os outros
Dos outros conosco
E de todos nós com a paz que se preza
Em cada passo do caminho que já se constrói no hoje, sem pressa

 

ERNÂNI GETIRANA  ([email protected]) é professor, poeta e escritor. Autor de livros, dentre eles “Debaixo da Figueira do Meu Avô”. Pertence às academias ALVAL e APLA. É membro do IHGPI (Instituto Histórico e Geográfico do Piauí) e do Coletivo P2, do qual é sócio fundador. Escreve às quintas para esta coluna.

Comentários

Redação
Redaçãohttps://newspiaui.com
PIAUÍ NO NOSSO CORAÇÃO!
VEJA TAMBÉM
- CET -spot_img
- PROCAMPUS -spot_img

MAIS POPULARES

SEBRAE - PI