(1) Francisco Miguel de Moura, o Chico Miguel, é daqueles autores que, ao mesmo tempo em que escrevem seus textos (prosa e poesia), também escrevem críticas literárias e textos teóricos. Devo confessar, sem falsa modéstia, que acho que pertenço a esse grupo de escritores.
Sua estreia foi com o livro de poesia ‘Areias”, que mereceu essa observação de nada menos que Fontes Ibiapina: “Tenho em mãos uma estreia. Entramos em contato com um neófito. Mas noviço que não traz em si um conteúdo monótono, insosso ou desenxabido, como sempre sói acontecer aos marinheiros de primeira viagem. Francisco Miguel de Moura (ou simplesmente Chico Miguel como o tratamos na intimidade), com AREIAS, vem de transpor o portão do Parnaso, de pé direito na frente”.
Da última vez que o encontrei foi no lançamento de seu livro ‘Parábola do Reino de Deus’(Editora Nova Aliança), na Academia Piauiense de Letras, em fevereiro deste ano, mesmo dia em que seu colega de academia, Magno Pires, também lançava o seu ‘Piauí: oportunidades de investimento’. Fiz uma foto com o imortal Chico Miguel, sempre gentil e cordato, e trocamos meia dúzia de palavras.
Pois ontem, folheando meus papeis, descubro um desses textos de Chico Miguel xerocopiados da Revista Presença (suprimiram o ano e o número dadita cuja) falando sobre nossa literatura, que ele chama de ‘Literatura do Piauí’.
Reclama do fato de da Costa e Silva ter apenas três poemas publicados em antologias Brasil afora. Diz que Mário Faustino (objeto de estudo de outro imortal, meu ex-professor na UFPI Carlos Evandro, este um crítico profissional) já é meio que assimilado pela crítica e reclama, por fim, do fato de que a literatura do Piauí não ter ainda o destaque que na opinião dele – e na minha também – mereceria ter.
Moura argumenta que os acontecimentos políticos e históricos estão entrelaçados aos acontecimentos literários, para em seguida fechar com o raciocínio de que a Literatura tomada historicamente está atrelada a uma comunidade. No caso da Literatura do Piauí, à comunidade piauiense, lógico. Depois seu texto segue circunscrevendo uma classificação periódica/geracional da Literatura do Piauí que diferi da proposta por outros teóricos, mas disso não tratarei aqui.
Direi apenas que do alto de seus 91 anos, o escritor, poeta e crítico literário Francisco Miguel de Moura, em uma entrevista ao escritor e também acadêmico da APL professor Dilson Lages (Entretexto), confessou:
“Ao pensar a história de uma “Literatura do Piauí”, a partir da primeira edição, minha meta não era classificar autores e obras por datas pétreas como século, por exemplo, como você pergunta. O importante para mim era que as obras fossem escritas por piauiense (natos ou não) e sobre matéria (assunto) e linguagem do Piauí, como está explicito na primeira parte do livro, quando classifico como autor piauiense (logo no início da página, da 2ª edição, que repete a 1ª)” (2)
Leiamos, pois, o Chico Miguel.
Publicou mais de 40 livros, 4 romances. e outros de crítica literária, de contos e de crônicas. Livros de mais sucesso: Areis, Linguagem e Comunicação em O.G. Rego de Carvalho, Pedra em Sobessalto, Universo das Águas (elogiado pelo poeta Carlos Drumond) e Poesia (In) Completa (elogiado por Nely Novais Coelho- São Paulo).
Disponível em: https://www.portalentretextos.com.br/post/literatura-do-piaui-de-ovidio-saraiva-aos-nossos-dias-literatura-do-piaui-de-ovidio-saraiva-aos-nossos-dias
ERNÂNI GETIRANA (@ernanigetirana) é professor, poeta e escritor. Pertence às academias APLA e ALVAl e ao IHGPI (Instituto Histórico e Geográfico do Piauí), é membro fundador do Coletivo P2 de Prosa e Poesia. É autor, dentre outros livros de “Debaixo da Figueira do Meu Avô” (Livraria Entrelivros).