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Em cúpula do Mercosul sem Milei, Lula critica ‘nacionalismo arcaico’ e ‘experiências ultraliberais’ na região

Ausência do presidente da Argentina na cúpula deste ano desagradou outros chefes de Estado. Javier Milei, no entanto, esteve no Brasil neste fim de semana para participar de fórum conservador.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou, durante a Cúpula do Mercosul no Paraguai, nesta segunda-feira (8), o que chamou de “nacionalismo arcaico e isolacionista”

 

A fala de Lula ocorreu durante a reunião do bloco sul-americano que, pela primeira vez, não conta com o presidente da Argentina como representante do país.

Javier Milei desistiu de participar do encontro e enviou a chanceler argentina Diana Mondino para representá-lo. No entanto, veio ao Brasil no último fim de semana discursar em um fórum conservador em Balneário Camboriú, ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele não se reuniu com Lula.

Tanto Milei quanto Bolsonaro são críticos do Mercosul e de outros fóruns de debate internacionais. Durante a campanha, o líder argentino chegou a ameaçar a saída do país do bloco, e teceu críticas ao presidente Lula, chamando-o de “corrupto” e “comunista”.

Lula, por sua vez, fez críticas a posturas de isolamento dentro do bloco. “Não faz sentido recorrer ao nacionalismo arcaico e isolacionista, tampouco à justificativa para resgatar experiências ultraliberais que apenas agravaram desigualdades na nossa região”, declarou no discurso.

O chefe do Planalto também aproveitou a ocasião para defender grupo das críticas, e lembrar da importância da integração em um cenário global, apesar de eventuais divergências políticas dos chefes de Estado no poder.

“O Mercosul é resiliente e tem sobrevivido aos difíceis anos de desintegração. Pensar igual nunca foi critério para engajamento construtivo nas tarefas do bloco. A diversidade de opiniões, sem extremismos e intolerância, é bem-vinda”, seguiu.

Críticas

Logo após a fala de Lula, o presidente do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou, reiterou a importância da presença dos presidentes para os debates que serão conduzidos no âmbito da cúpula. Lacalle Pou é um político de direita.

“Não importa somente a mensagem. É muito importante o mensageiro e, obviamente, não menosprezo ninguém. Mas, se o Mercosul é tão importante, aqui deveriam estar todos os presidentes. Eu presto importância ao Mercosul. E se realmente acreditamos nesse bloco, deveríamos estar todos”, disse.

O presidente da Bolívia, Luís Arce, agradeceu o apoio recebido pela “maior parte” dos países da região após a tentativa fracassada de golpe e, sem citar Milei, criticou falas sobre um “suposto autogolpe”.

“Lamentamos declarações infundadas e poucos sérias sobre um suposto autogolpe quando lamentavelmente se tratava de um clássico golpe de Estado”, disse Arce.

Milei foi uma das vozes que apontou a tentativa de “autogolpe” de Arce. A versão circulou depois que o general Juan José Zúñiga, líder do movimento golpista, afirmou ter agido a pedido de Arce para aumentar sua popularidade, algo que foi negado pelo presidente boliviano.

O bloco sul-americano é composto por Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai e deve formalizar a entrada da Bolívia. Ao fim da reunião, o Uruguai assume o comando semestral do grupo (leia mais abaixo).

Histórico de embates

Lula e Milei têm uma relação conturbada e nunca tiveram um encontro a dois para discutir agendas em comum entre os países, historicamente aliados em termos sociais e econômicos. O argentino já está no poder há 8 meses. Até agora, eles não se falaram pessoalmente.

Na véspera da cúpula, Milei esteve em Santa Catarina para um encontro de conservadores, quando esteve com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Foi a primeira viagem do presidente argentino ao Brasil.

O Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores) lamentou a ausência de Milei no Paraguai, mas disse que isso não afeta a importância do encontro do Mercosul.

Mercosul x União Europeia

Presidente Lula ao lado de presidentes na cúpula do Mercosul — Foto: Ricardo Stuckert / Presidência da República

Lula mais uma vez defendeu a conclusão das negociações de revisão do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. O presidente disse que é responsabilidade dos europeus a demora.

“Só não concluímos o acordo com a União Europeia porque os europeus ainda não conseguiram resolver suas próprias contradições internas”, disse Lula.

O presidente também citou o acordo de livre comércio com a Palestina e repetiu críticas às ações do exército de Israel na Faixa de Gaza.

“Nos orgulhamos de ser o primeiro país do bloco a ratificar o Acordo de Livre Comércio com a Palestina, mas não posso deixar de lamentar que isso ocorra no contexto em que o povo palestino sofre com as consequências de uma guerra totalmente irracional”, disse.

Clima e fome

Lula também falou das enchentes no Rio Grande do Sul, os incêndios no Pantanal e a seca na Amazônia, e aproveitou para fazer um chamado a “maior engajamento e ambição climática”.

O presidente também citou a aliança contra a fome que planeja lançar nas próximas semanas e convidou os integrantes do Mercosul.

Reino Unido e França

Ao final do discurso, o petista saudou as vitórias das “forças progressistas” nas eleições parlamentares do Reino Unido e na França — o trabalhista Keir Starmer em Londres e a coalizão de esquerda Nova Frente Popular em Paris.
“Ambas são fundamentais para a defesa da democracia e da justiça social contra as ameaças do extremismo”, disse Lula.

O presidente ainda criticou posturas de governos de outros países que trabalham para deixar de fora de documentos de cúpulas palavras que tratam de gênero.

“Apagar a palavra gênero de documentos só agrava violência cotidiana sofrida por mulheres e meninas”, declarou.

No mês passado, a declaração final da cúpula do G7 deixou de fora referência direta ao aborto, após a anfitriã Itália ter se posicionado de maneira contrária à menção do procedimento.

“Ambas são fundamentais para a defesa da democracia e da justiça social contra as ameaças do extremismo”, disse Lula.

O presidente ainda criticou posturas de governos de outros países que trabalham para deixar de fora de documentos de cúpulas palavras que tratam de gênero.

“Apagar a palavra gênero de documentos só agrava violência cotidiana sofrida por mulheres e meninas”, declarou.

No mês passado, a declaração final da cúpula do G7 deixou de fora referência direta ao aborto, após a anfitriã Itália ter se posicionado de maneira contrária à menção do procedimento.

Mercosul

Formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, e, agora, pela Bolívia, o Mercosul foi criado em 1991, e a presidência do bloco é rotativa por seis meses. Ou seja, a cada semestre, um país comanda o bloco.

Além dos Estados membros, também existem os chamados Estados associados, entre os quais Colômbia e Chile. A Venezuela faz parte do bloco, mas está suspensa desde 2017, e o Brasil tem defendido que o país volte a integrar o grupo.

 

 

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