Anna Saicali, um dos alvos da Operação Disclosure, investigação da Polícia Federal que mira fraudes na Americanas, disse que vai se entregar às autoridades brasileiras neste domingo, 30, informa a coluna de Malu Gaspar, do jornal O Globo.
De acordo com a jornalista, a ex-diretora da Americanas vai se apresentar à polícia de Portugal, onde vive, na noite deste sábado, 29, embarcar para o Brasil, chegando no domingo, e se entregar à Polícia Federal.
Saicali, que foi incluída na lista de procurados da Interpol – a polícia internacional – solicitou que o pedido de prisão preventiva contra ela fosse reconsiderado ao apresentar sua passagem aérea de volta ao Brasil.
O juiz Marcio Muniz da Silva Carvalho, da 10a Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, determinou que Saicali não será presa ao se entregar às autoridades brasileira, porém, a ex-diretora fica proibida de deixar o País enquanto as investigações da PF não forem concluídas.
Ex-CEO preso
Na manhã de sexta-feira, 28, Miguel Gutierrez, ex-CEO da Americanas, foi preso em Madri, na Espanha. Ele também foi alvo da alvo da Polícia Federal na Operação Disclosure, que investiga supostas fraudes contábeis que chegam a R$ 25,3 bilhões.
Seu nome já havia sido incluído na lista de Difusão Vermelha da Interpol, após a PF não localizá-lo na quinta, 27, durante a ação deflagrada no Rio de Janeiro, em sua casa no Leblon. Gutierrez tem cidadania espanhola, e vivia em Madri há cerca de um ano, quando o caso começou a ser apurado. Ele foi preso pela polícia local.
Quem é Anna Saicali
Formada em artes plásticas pelo Mackenzie e finanças corporativas pela New York University, Saicali entrou na Americanas em 1997 como diretora responsável pelas áreas de gente e tecnologia. Em 2004, foi alçada à diretora presidente da B2W Digital, resultado da incorporação da Submarino.com com a Americanas. Em 2018, se tornou presidente do Conselho de Administração ao mesmo tempo que estava à frente da Ame Digital, a carteira digital da varejista.
Segundo informações do mercado, ela foi responsável pela aquisição do Shoptime em 2005 e pela fusão com o Submarino em 2006, que resultou na criação da B2W, o braço de varejo digital do grupo. Ficou à frente da B2W como CEO até 2018 e como presidente do Conselho de Administração até 2021. Também fundou e foi CEO da AME, a plataforma fintech da Americanas, de 2021 a 2023.
Anna foi afastada de suas funções no dia 3 de fevereiro, mês seguinte à divulgação do rombo bilionário da empresa por Sérgio Rial. Atualmente, ela se define como autônoma e investidora anjo de startups.
Um fato relevante emitido no dia 13 de junho de 2023 pela Americanas afirmava que um relatório feito pelo setor jurídico das Americanas apontava fraude nas inconsistências contábeis apontadas por Rial. “Os documentos analisados indicam que as demonstrações financeiras da Companhia vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior da Americanas”, informava o fato relevante entregue à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
O mesmo fato relevante indicava textualmente a participação de Miguel Gutierrez e Anna Saicali no esquema. Gutierrez negou as acusações. No dia em que seria ouvida na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara dos Deputados, aberta para investigar o rombo nas Lojas Americanas, Anna se valeu de um habeas corpus para ficar em silêncio.
Segundo as investigações, rombo contábil da Americanas chegou a R$ 25,3 bilhões; Polícia Federal deflagrou nesta quinta-feira, 27, a Operação Disclosure, para investigar a suposta participação de ex-diretores.
Operação Disclosure
A Operação Disclosure foi deflagrada na quinta-feira, 27, pela Polícia Federal. De acordo com as autoridades, o objetivo é esclarecer a suposta participação de ex-executivos da Americanas em fraudes contábeis que chegam a R$ 25,3 bilhões.
Os mandados foram expedidos pela 10ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro. Além dos pedidos de prisão e 15 mandados de busca e apreensão, a Justiça Federal também determinou o sequestro de bens e valores destes ex-diretores que somam mais de meio bilhão de reais. Segundo o Ministério Público Federal, as prisões não foram cumpridas devido aos suspeitos estarem fora do País.
O MPF informou que a operação é fruto de investigação iniciada em janeiro de 2023, após a empresa ter comunicado ao mercado a existência de inúmeras inconsistências contábeis e um rombo patrimonial estimado, inicialmente, em R$ 20 bilhões. Pouco tempo depois, o MPF foi procurado pela atual diretora da empresa, que ajudou nas investigações.
A apuração das autoridades aponta que foram praticadas operações de risco sacado, na qual a varejista consegue antecipar o pagamento a fornecedores por meio de empréstimo junto aos bancos.
Ainda segundo a PF, foram identificadas fraudes envolvendo contratos de verba de propaganda cooperada (VPC), que são incentivos comerciais geralmente utilizados no setor. No entanto, neste caso, eram contabilizadas VPCs que nunca existiram.
“A investigação revelou ainda fortes indícios da prática do crime de manipulação de mercado, uso de informação privilegiada, também conhecido como “insider trading”, associação criminosa e lavagem de dinheiro”, afirmou a PF em nota.