A voz de uma das principais lideranças políticas da América Latina se calou. O ex-presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica, morreu nesta terça-feira (13) aos 89 anos. A informação foi confirmada pelo presidente uruguaio e seu apadrinhado político, Yamandú Orsi.
Con profundo dolor comunicamos que falleció nuestro compañero Pepe Mujica. Presidente, militante, referente y conductor. Te vamos a extrañar mucho Viejo querido. Gracias por todo lo que nos diste y por tu profundo amor por tu pueblo.
— Yamandú Orsi (@OrsiYamandu) May 13, 2025
Mujica lutava desde abril de 2024 contra um câncer no esôfago que se espalhou para o resto do corpo. Em janeiro, ele afirmou que não adotaria novos tratamentos por conta da idade avançada. Viveu sob cuidados paliativos nos últimos meses e expressou o desejo de ser enterrado sob uma árvore ao lado de sua cadela Manuela.
“O câncer no esôfago está se espalhando para o fígado. Não consigo impedi-lo. Por quê? Porque sou um idoso e porque tenho duas doenças crônicas. Não posso nem fazer tratamento bioquímico nem cirurgia, porque meu corpo não aguenta”, declarou o ex-presidente em entrevista ao jornal Búsqueda.
Quando Mujica descobriu o tumor, a equipe médica disse que o câncer poderia ser controlado. Em novembro, ele passou por uma cirurgia e instalou um stent – equipamento utilizado para facilitar a ingestão de alimentos, situação que havia sido comprometida pelo câncer.
Lucía Topolansky, agora viúva do político, disse em entrevista à rádio uruguaia Sarandí que a situação se tratva de um “final anunciado” e que os médicos estavam fazendo de tudo para que ela se resolvesse da melhor forma.
Nascido em Montevidéu em 1935, José Alberto Mujica Cordano ingressou na política como militante do Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros, grupo guerrilheiro que lutou contra a ditadura militar uruguaia nas décadas de 1960 e 1970. Capturado em 1972, passou quase 13 anos preso, muitos deles em condições desumanas e isolamento, experiência que moldou sua visão sobre a vida e a política.
Com a redemocratização, Mujica ajudou a fundar o Movimento de Participação Popular (MPP), integrado à coalizão de esquerda Frente Ampla. Foi eleito deputado em 1995, senador em 2000 e ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca entre 2005 e 2008, durante o governo de Tabaré Vázquez.
Em 2009, venceu as eleições presidenciais e governou o Uruguai de 2010 a 2015. Seu mandato foi marcado por políticas progressistas tidas como pioneiras, como a legalização do aborto, do casamento igualitário e da produção e consumo de cannabis. Também promoveu o aumento do salário mínimo, a redução da pobreza e o acesso à moradia.
Ganhou reconhecimento internacional por seu estilo de vida simples e por doar grande parte de seu salário presidencial a instituições de caridade, preferindo ser visto como alguém que buscava liberdade por meio da sobriedade, rechaçando a alcunha de “presidente mais pobre do mundo”.
Viveu até o fim de sua vida em sua modesta chácara nos arredores de Montevidéu, ao lado da esposa e companheira de militância.