O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) negou o pedido de habeas corpus feito pelas defesas do médico Luiz Antonio Garnica e da mãe dele, Elizabete Arrabaça. Os dois eram marido e sogra da professora de pilates Larissa Rodrigues, morta envenenada com chumbinho em março deste ano em Ribeirão Preto (SP), e estão presos desde terça-feira (6) por suspeita de participação no crime.
Na decisão que manteve a prisão de Luiz, o relator Luis Augusto de Sampaio Arruda argumentou que não há informações suficientes que apontem para alguma irregularidade na prisão temporária e que justifiquem a revogação dela.
“A medida liminar em Habeas Corpus é cabível quando o constrangimento ilegal é manifesto e constatado de plano, pelo exame sumário da inicial, o que não ocorre no presente caso, impossibilitando a análise cuidadosa dos fatos e documentos”, diz trecho.
O g1 não obteve acesso à íntegra da decisão relacionada à Elizabete.
Advogado de defesa do médico, Júlio Mossin ressaltou que a liminar foi indeferida e que aguarda a análise final de mérito.
Já Bruno Correa, que defende Elizabete, afirmou que recorrerá ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Médico nega comportamento violento
Em depoimento dias após a morte da esposa, negou brigas no relacionamento.
“A gente nunca brigou. Isso é uma coisa que eu tenho comigo, em 18 anos, a gente nunca ficou um dia sem conversar”, disse à Polícia Civil.
As declarações foram dadas no dia 31 de março, nove dias após a professora de pilates Larissa Rodrigues morrer no apartamento do casal. A EPTV, afiliada da TV Globo, teve acesso à gravação nesta sexta-feira (9).
Apesar de ter passado a noite anterior à morte de Larissa com a amante, Garnica disse que tinha a intenção de terminar o relacionamento extraconjugal descoberto pela vítima dias antes.
O médico também contou que a mãe esteve no apartamento na noite anterior porque Larissa estava com um quadro de diarreia.
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Ao delegado Fernando Bravo, responsável pelo inquérito, Garnica disse que o casamento estava abalado por vários fatores, entre eles as mortes recentes da irmã dele e da mãe da esposa. Apesar disso, o médico contou que eles não brigavam e eram carinhosos um com o outro.
“A gente nunca brigou. Qualquer coisinha de casal a gente sempre resolvia, não dormia sem dar um beijo, nunca dormiu sem dar boa noite.”
Na noite anterior, Garnica disse que manteve contato com a esposa pelo celular até por volta da meia-noite. De acordo com o depoimento, ele dormiu no apartamento da amante e seguiu para casa na manhã do dia seguinte.
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A imagem da câmera de segurança no prédio do casal mostra o médico entrando no elevador às 9h57 do dia 22 de março. Ele contou que chegou com alguns pães para o café da manhã da esposa e que a encontrou caída desacordada no box do banheiro ao entrar no quarto.
“Me agachei no chão, gritei por ela, comecei a fazer massagem, fazer respiração boca a boca nela, tudo na sequência correta, no chão do banheiro dentro do box. Eu fiquei ajoelhado no box, eu devo ter ficado ali, não sei, 20 minutos, meia hora, não sei quanto tempo”, disse.
Garnica disse que tentou falar com a mãe por telefone, mas não conseguiu. Então ligou para a irmã, que chamou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Outra imagem da câmera do elevador registrou a chegada da equipe às 10h34.
Uma médica do Samu constatou a morte de Larissa às 10h40. Ao descrever o momento à polícia, Garnica chorou.
Denúncias contra o médico
Em março, o caso foi registrado como morte suspeita, mas denúncias feitas à Polícia Civil, apontando Garnica como responsável, levaram à investigação sobre a hipótese de homicídio. As declarações dadas pelo médico em depoimento contradizem o teor das acusações.
Um dos relatos feitos à polícia por um denunciante no dia 24 de março aponta que, por várias vezes, Garnica foi agressivo e coagiu Larissa, espionando-a e se descontrolando. Ele teria falado que a mataria com uma injeção letal caso ela o deixasse.
Em outra denúncia, no dia 26 de março, a afirmação é de que Larissa estava sendo traída e que a traição havia sido descoberta no dia 8 de março. A professora teria pedido o divórcio, negado pelo marido que já tinha ameaçado colocar fogo em casa.
Na mesma denúncia, a pessoa disse que Larissa começou a passar mal no dia 15 de março e que, nesta mesma data, a sogra Elizabete Arrabaça passou a fazer comida para a nora.
Chumbinho e sogra presa
Elizabete foi presa na última terça-feira (6) junto com o filho por suspeita de participação no crime. Segundo o relato de uma testemunha à Polícia Civil, 15 dias antes da morte, ela recebeu um telefonema da idosa perguntando se tinha chumbinho na fazenda ou se sabia onde poderia encontrar para comprá-lo.
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O laudo toxicológico apontou a presença da substância no organismo de Larissa.
Elizabete e o filho estão presos temporariamente. O Ministério Público suspeita que a professora de pilates tenha sido morta após pedir o divórcio ao médico.
Uma troca de mensagens na véspera mostra que Larissa propôs ao marido encontrar um advogado na segunda-feira para tratar da separação.