O diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, foi intimado pela Polícia Federal a prestar depoimento. A oitiva deve ocorrer nesta quinta-feira, 17, e faz parte do inquérito que apura um esquema de espionagem ilegal, que ficou conhecido como ‘Abin Paralela’. As informações são do Blog da Andréia Sadi.
Conforme o site, a PF quer saber se houve alguma eventual obstrução por parte da gestão atual com relação à apuração do equipamento público durante o governo Bolsonaro, em que houve a espionagem de jornalistas, autoridades e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Todas as figuras espionadas eram tidas como desafetos do ex-presidente.
Além disso, a investigação apura se a Abin tinha conhecimento ou autorizou o suposto vasculhamento de autoridades paraguaias. Caos gerou uma crise diplomática.
Corrêa e o atual chefe da corporação, Andrei Netto, que comandou a segurança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante a campanha de 2022, são de extrema confiança do mandatário. Conforme o blog, a intimação coloca ambos em pólos opostos.
O Terra entrou em contato com a Polícia Federal, mas não conseguiu a confirmação da intimação. Em nota a reportagem, a Abin informou que o diretor-geral está à disposição das autoridades competentes para prestar quaisquer esclarecimentos, seja no âmbito administrativo, civil ou criminal, sobre os fatos relatados na imprensa e que remetem a decisões tomadas em gestão anterior da Agência.
Entenda a dinâmica da espionagem
A Polícia Federal investiga o caso no âmbito do inquérito que apura desvios da ‘Abin paralela’, na gestão do ex-diretor Alexandre Ramagem, durante o governo Bolsonaro, com possível uso da estrutura da agência contra opositores políticos do então presidente.

O caso, no entanto, também levantou suspeitas de irregularidades sob a gestão do atual diretor.
De acordo com o agente, a ação usou um programa chamado Cobalt Strike, utilizado para invasão de sistemas informáticos: “O objeto da operação era a obtenção dos valores que seriam negociados do anexo C dos valores de venda de energia produzida por Itaipu”.
A ação não aconteceu a partir do Brasil, mas de servidores virtuais instalados no Chile e no Panamá, montados por agentes da Abin, relatou o servidor.
O agente afirmou que os alvos eram autoridades relacionadas diretamente à ‘negociação e aos valores a serem cobrados por megawatt’. Foram invadidos os sistemas do Congresso do Paraguai, Câmara e Senado, e da Presidência da República.
A ação contou com a captura de senhas e dados ‘de cinco ou seis’ autoridades paraguaias, disse o servidor à PF. As informações seriam usadas para a captura de dados sensíveis sobre as negociações sobre Itaipu. As identidades das vítimas, bem como a data da operação, não foram reveladas.
Ação teve aval de diferentes diretores
Ainda no depoimento, o servidor da Abin revelou que o planejamento foi aprovado pelo então diretor Victor Carneiro, que sucedeu Ramagem no cargo, já no fim do governo Bolsonaro. Contudo, a ação também contou com o aval de diretores seguintes, incluindo o atual, Luiz Fernando Corrêa.
O agente diz ter ‘apresentado pessoalmente’ a ação para Corrêa. “Luiz Fernando teria vibrado, gostou muito, que era a primeira vez que se sentia numa atividade de inteligência”, afirmou à PF.

Delegado aposentado e ex-diretor da Polícia Federal no segundo mandato de Lula, Corrêa foi nomeado pelo petista à direção da Abin em 2023.
O Terra tentou um posicionamento de Victor Carneiro e da direção da Abin sobre o caso. O espaço segue aberto para manifestação.
Governo Lula reconhece espionagem, mas culpa Bolsonaro
Após o caso vir à tona, o governo Lula reconheceu a espionagem, mas afirmou que a operação aconteceu durante o governo de Jair Bolsonaro e foi interrompida após a posse de Corrêa à frente da Abin.
Em nota divulgada no último dia 31, o Itamaraty reconheceu que a operação ocorreu e foi interrompida quando a direção da Abin nomeada por Lula tomou conhecimento do caso.
“A citada operação foi autorizada pelo governo anterior, em junho de 2022, e tornada sem efeito pelo diretor interino da Abin em 27 de março de 2023, tão logo a atual gestão tomou conhecimento do fato”, disse o Ministério das Relações Exteriores.
“O atual diretor-geral da Abin encontrava-se, naquele momento, em processo de aprovação de seu nome no Senado Federal, e somente assumiu o cargo em 29 de maio de 2023”. O Itamaraty também negou que o presidente Lula tenha dado aval à operação.
“O governo do presidente Lula desmente categoricamente qualquer envolvimento em ação de inteligência, noticiada hoje, contra o Paraguai, país membro do Mercosul com o qual o Brasil mantém relações históricas e uma estreita parceria”, disse o MRE.
“O governo do presidente Lula reitera seu compromisso com o respeito e o diálogo transparente como elementos fundamentais nas relações diplomáticas com o Paraguai e com todos seus parceiros na região e no mundo.”