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Mestre Araújo e mestra Verônica

Qualquer bom dicionário nos dirá que “Artesanato é a atividade de produzir objetos com as próprias mãos, utilizando técnicas e saberes específicos”. A prática do artesanato remonta a tempos imemoriais. Todos os povos estudados pela antropologia, de uma forma ou de outra tiveram/têm seu artesanato.

 

Assim um artesão, ou artesã, é um(a) profissional especializado(a) que executa um ofício individualmente ou em grupo, com o objetivo de transformar matéria-prima em produtos acabados utilizando principalmente técnicas manuais.

Na Idade Média (do século V ao século XV), por exemplo, os artesãos viviam de suas atividades artesanais, das quais participavam todos os membros de sua família, as crianças inclusive, pois eram consideradas adultos em miniatura.

Uma característica importante do artesanato é que seus produtores participam de todas as etapas da realização de seu trabalho. Assim, as cesteiras selecionam as melhores sementes das árvores que lhes darão a palha, que elas colhem, batem na pedra, separam os fios, e tecem sua cestaria. A mesma coisa com os artesãos do barro, e assim por diante.

Com o advento da Revolução Industrial, que foi um período de enorme desenvolvimento tecnológico e econômico iniciado na Inglaterra no século XVIII, o modo de produção manual (empregado pelos artesãos) perdeu espaço para o modo de produção mecanizado (industrial). 

Mas isso não significou o fim do artesanato. Aliás, contemporaneamente, os produtos artesanais têm tido um aumento de vendas, sobretudo devido ao seu consumo por turistas. Para ser mais preciso, a onda se iniciou com a juventude dos anos 1960 que, numa ‘rebeldia ao Capitalismo’, começou a produzir ‘bugigangas’. Trata-se da geração hippie.

No município piauiense de Pedro II, por exemplo, o artesanato da rede, do barro, da madeira e da opala ganharam tal notoriedade que são conhecidos não somente no estado, mas no País como um todo. Em Teresina, por exemplo, o bairro Poty Velho é uma referência nacional em artesanato. Em suma, em todos os estados brasileiros há artesãos e artesãs de mão cheia.

Mas não poderia terminar esse texto sem prestar uma homenagem aos artesãos e artesãs de Pedro II. São muitos, são tantos que preciso escolher uma dupla para representar a todos/todas. Estou falando do Mestre Araújo e de sua mulher, Verônica.   

José Joaquim de Araújo nasceu em 1952 de uma família com tradição na arte de trabalhar a madeira. Ele começou o trabalho como artesão no ano de  1961, na cidade de Domingos Mourão (PI),basicamente com a confecção de ex-votos.

Em suas próprias palavras,  “Fazia minhas peças e guardava. Eu tinha dez peças guardadas na caixa de ferramentas quando vim para Pedro II, em 1970. Vim fazer a carroceria do caminhão de um empresário de mina de opala.
Ele viu as imagens e comprou todas. Logo depois, em 1973, Mestre Dezinho e meu tio, Mestre Expedito, me convidaram para ajudá-los na construção da igreja da Vermelha em Teresina (PI). Comecei a pegar encomendas e não parei mais. Deixei de ser marceneiro e segui a tradição do meu tio. Hoje, sou um mestre santeiro

Casado com Verônica Amorim da Silva, que também iniciou-se na arte da escultura em madeira. Mas, como ela mesma diz, enquanto o marido esculpe santos, ela esculpe figuras mundanas.

Inicialmente ela só observava o mestre trabalhar, mas depois de três anos de casados, começo a pegar uns restos de madeira e a esculpir figuras de quinze, vinte centímetros de altura e hoje é uma mestra também.

Nas palavras dela  “Eu nunca repito as peças. Faço as coisas que vejo aqui neste sertão. As mulheres buchudas amamentando, lavando roupa, vendendo coco babaçu. Eu tenho o sonho de que um dia vou fazer uma exposição. Nesse dia, a peça que tem oito anos que estou trabalhando nela ficará pronta.”

19 de março é o Dia de São José, que foi, segundo a tradição católica, também um carpinteiro, um artesão. É por isso mesmo que nesta data se comemora o Dia do artesão, da artesão.  Eles e elas são homens e mulheres do povo, gente simples de grande inventividade, mística e de enorme capacidade de trazer à vida e à beleza a matéria bruta.

Ernâni Getirana (@ernanigetirana) é professor, poeta e escritor. Membro criador do Coletivo P2, pertence às academias APLA, ALVAL e ao Instituto Histórico e Geográfico do Piauí. É autor, dentre outros livros, de “Lendas da Sereia de Pedro II”. Escreve para o Portal News Piauí às quintas-feiras.

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