Um mês de luta pela vida. Ao Fantástico, Juliana Rangel falou, pela primeira vez, sobre tudo o que passou. Ela ficou todo esse tempo entubada e passou por uma traqueostomia – uma abertura na base da garganta para passagem de ar. Por isso, ainda fala com dificuldade.
Juliana Rangel levou um tiro na cabeça na véspera de Natal de 2024, quando ia com a família do Rio de Janeiro para Niterói. Ela deixou o CTI no sábado (25) e foi para um quarto do hospital, onde continua a recuperação. Em entrevista ao Fantástico, Juliana Rangel diz que se lembra dos últimos momentos antes de ser atingida.
Juliana Rangel: Aconteceu muito rápido. Eu tomei um tiro tentando salvar meu irmão.
Paulo Renato Soares, repórter: Você tem lembrança disso?
Juliana: Tenho.
Repórter: O que você fez dentro do carro, você lembra?
Juliana: Eu mandei o meu irmão abaixar. Abaixar porque ele já é deficiente visual. E eu vendo que ele estava agachado, eu tomei o tiro.
Repórter: Você conseguiu, você lembrou disso nitidamente? Como aconteceu?
Juliana: Lembrei.
Juliana também falou sobre punição para os policiais que quase tiraram a vida dela.
Juliana: Eu quero justiça, gente. Eu lembro que foi policial. Eu olhei para trás.
Repórter: Você olhou?
Dayse Rangel, mãe de Juliana: Você chegou e olhou para trás?
Juliana: Eu olhei, porque quando tu falou que era tiro, eu não acreditei. Aí, você ficou gritando que era tiro, você e meu pai. Aí eu mandei o Daniel se abaixar e eu fui ver quem estava dando tiro. Se era bandido ou era outra coisa.
Repórter: E aí você viu?
Juliana: Vi.
Juliana foi socorrida por dois policiais militares que testemunharam tudo. Os PMs tiraram Juliana do carro e a colocaram em uma segunda viatura da Polícia Rodoviária Federal, que tinha chegado ao local.
Juliana: Também quero agradecer aos policiais que me socorreram.
Repórter: Os policiais militares que foram lá?
Juliana: O policial Fernandes e Leite. Graças a eles eu também estou aqui.
Dayse: Ela chegou no carro da PRF e eu cheguei depois com o carro da PM. Cheguei aqui e ela já estava na mesa de cirurgia.
Os médicos dizem que o socorro rápido realizado pelos dois PMs foi fundamental.
“Primeiro, ela passou em um outro hospital municipal e foi feita uma tomografia de crânio nela lá, e foram feitos os primeiros socorros. Ela foi entubada lá e veio imediatamente transferida para cá”, conta Vinícius Mansur Zogbi, coordenador de Neurocirurgia do Hospital Adão Pereira Nunes.
O neurologista explica que a recuperação de Juliana também se deve ao fato de que a bala não ficou alojada, nem atingiu partes mais sensíveis do cérebro.
“Sem dúvida nenhuma, ela teve muita sorte. Se a direção do projétil tivesse sido diferente, podia ter pego em estruturas que mexem na respiração, mexem nos batimentos cardíacos, vitais para vida”, explica Vinícius Mansur Zogbi.
O diretor do Hospital Adão Pereira Nunes, em Caxias, diz que a recuperação de Juliana surpreendeu até a equipe médica:
“No CTI, ela passou por vários processos de recuperação. E, na verdade, na última semana, nos últimos sete dias, que a gente viu uma melhora significativa do quadro da Juliana. Ela conseguiu voltar a andar. Ela conseguiu tomar banho fora do leito, no chuveiro, com a ajuda da equipe de enfermagem. E, agora, recentemente, por último, a gente conseguiu ouvir a voz da Juliana”, conta Thiago Pereira Rezende.
“Minha filha nasceu de novo. E nasceu ainda para ser uma pessoa melhor do que ontem. Minha filha está aí para nos alegrar e nos trazer essa alegria que ela sempre trouxe. Estou muito feliz, gente. Obrigado pelas orações. Obrigado por tudo”, diz Daisy Rangel, mãe de Juliana.
Em nota, a Polícia Federal disse que “as investigações seguem em andamento, aguardando a conclusão da perícia técnica criminal do local de crime”. Também por nota, a defesa dos três policiais rodoviários federais reafirmou o que eles disseram em depoimento: que durante a abordagem foram ouvidos estampidos e que, naquele momento, os agentes acreditaram que o barulho vinha do carro da família. Isso os levou a efetuar os disparos.