O Ministério Público do Rio de Janeiro destacou novas evidências sobre o caso do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, atribuindo a Ronnie Lessa, ex-policial militar e réu confesso, uma série de buscas na internet que sugerem um planejamento detalhado do crime. Segundo a promotoria, Lessa pesquisou rastreadores veiculares, “acessórios” para a submetralhadora HK MP5 — incluindo silenciador e adaptador — e métodos para “dessincronizar a conta de e-mail” do navegador, possivelmente para ocultar dados e dificultar a investigação.
Nesta quinta-feira, 31, o julgamento de Lessa e de seu cúmplice, Élcio Queiroz, também ex-PM, foi retomado após um dia de depoimentos e interrogatórios. Na quarta-feira, 30, o tribunal teve quase 14 horas de testemunhos. A juíza Lúcia Glioche, responsável pelo 4º Tribunal do Júri do RJ, suspendeu os trabalhos pouco depois da meia-noite, convocando as partes e o júri para retornar às atividades nesta manhã. A expectativa é de que a sentença dos réus seja anunciada ainda hoje.
Segundo o promotor Eduardo Vieira, a investigação identificou que, antes do crime, Lessa fez pesquisas específicas no Google relacionadas a equipamentos e locais que indicam uma preparação para cometer os assassinatos.
De acordo com Vieira, entre as buscas realizadas por Lessa estão itens como rastreadores de veículos e acessórios para uma submetralhadora HK MP5, arma que as autoridades acreditam ter sido usada no crime. “Na conta que ele apagou, ele pesquisa rastreador veicular, sistema de radar, silenciador para MP5, adaptador. São pesquisas destinadas, obviamente, a crime”, destacou o promotor.
Além de pesquisar sobre equipamentos específicos, Lessa também buscou maneiras de dessincronizar a conta de e-mail do navegador. A ação, de acordo com o promotor, teria sido uma tentativa de apagar rastros e dificultar o trabalho de investigação.
As investigações indicam que, entre 2017 e 2018, período próximo ao assassinato, Lessa intensificou buscas relacionadas à arma MP5, como acessório de silenciadores. “É a mesma arma cujos estojos coletados na cena do crime foram compatíveis com os encontrados no local onde Marielle e Anderson foram assassinados”, ressaltou Vieira.
Além das pesquisas sobre a submetralhadora, Lessa também acessou informações sobre a vereadora Marielle Franco, seu histórico de atividades e possíveis locais onde ela estaria presente. Entre os dados pesquisados estavam locais e datas que coincidiam com a agenda de Marielle, indicando uma vigilância detalhada e premeditada sobre seus movimentos.
Além disso, entre os dias 17 e abril de 2017 e 20 de fevereiro de 2018, Lessa utilizou o google para fazer diversas pesquisas relacionadas ao então deputado Marcelo Freixo (PSOL), o partido e sua ex-esposa. A partir de 20 de fevereiro, a busca foi por familiares e a identificação da filha do parlamentar.
Durante seu depoimento nesta quarta-feira à noite, Lessa afirmou que Freixo foi inicialmente indicado como alvo pelos mandantes. O ex-PM declarou que considerou a proposta “inviável” e que, meses depois, os mandantes decidiram “eliminar Marielle”, acreditando que ela “atrapalharia a venda de loteamentos na zona oeste”.
Conforme relatado por Lessa, Marielle foi o segundo nome sugerido pelos mandantes do crime, pois ela seria “uma pedra no caminho” dos interesses deles nos loteamentos da zona oeste do Rio de Janeiro, uma área controlada por milicianos na capital fluminense.