Nascemos no mesmo ano – eu em abril, ela em setembro. Desde que nos conhecemos, estamos sempre juntos, unidos pelo mesmo ideal: o da comunicação.
Todos nós temos, de algum modo, uma memória afetiva com ela, a aniversariante deste 8 de setembro – a Rádio Pioneira de Teresina –, seja como ouvintes, entrevistados ou mesmo como profissionais que lá trabalharam ou ainda trabalham.
Ao longo de seis décadas, a Pioneira – a emissora católica de Teresina – tem prestado, ininterrupta e incansavelmente, relevantes serviços ao Piauí e ao povo de Deus.
Nenhum outro veículo de comunicação carrega a magia do rádio. Nenhum outro toca tão de perto o coração do receptor.
Pensar em rádio é ter em mente características básicas como: o uso apenas da linguagem oral, sua mobilidade – tanto de emissor quanto de receptor, seu imediatismo, sua instantaneidade e autonomia, mas, principalmente, sua sensorialidade.
É através da sensorialidade do rádio que se conquista e envolve o ouvinte, através de um diálogo mental entre o emissor e o receptor.
Como o livro, o rádio põe o seu receptor no centro da comunicação. Assim, é ele – o receptor – que completa a mensagem, com os sentidos e a imaginação, da mesma forma que o leitor faz em relação ao livro, quando idealiza seus personagens, as caracteristicas de cada um deles, etc.
O rádio desperta a imaginação através da emocionalidade das palavras e dos recursos de sonoplastia, permitindo que as mensagens tenham nuances individuais, de acordo com as expectativas de cada um.
Uma inspiração
Se fosse fazer uma busca das influências que recebi para definir e iniciar a minha profissão, ainda muito jovem, com apenas 18 anos, eu não teria dúvida em reconhecer que a Pioneira me inspirou decisivamente nesta caminhada.
Foi ouvindo a Grande Revista Noticiosa Pioneira, pela manhã, e o Correspondente Pioneira, ao meio-dia, que me tomei de encanto pelo jornalismo, quando cheguei em Teresina, vindo de Água Branca, em 1978, com 15 para 16 anos.
Aquilo era um espetáculo para meus ouvidos, começando pela execução dos acordes do Hino do Piauí, na abertura do noticiário.
A seguir, entravam as vozes vibrantes de Carlos Augusto e Deoclécio Dantas, na apresentação e análise dos fatos, afinadissimos como um dueto de um tenor e um barítono. O noticiário era encerrado com um movimento da peça Capricho Espanhol (N. Rimsky-Korsakov).
Se fechar os olhos, ainda consigo ouvir perfeitamente aquela dupla incomporável, inconfundível e inesquecível.
Encontro com a memória
Lembrar a trajetória da Pioneira, hoje, é também promover um encontro com a memória e, do mesmo modo, um encontro com a saudade. Saudade dos programas da emissora, das trilhas sonoras, das músicas que marcaram época, das vozes de seus locutores.
Muitos lembram do popular Seu Gosto na Berlinda, com Roque Moreira; outros, se recordam do Domingo Alegre, com Joel Silva; outros, ainda, das emoções das tardes de domingo, nas transmissões esportivas de Dídimo de Castro, Carlos Said e sua inigualável equipe – Aluizio de Castro, Carlos Dias, Gomes de Oliveira, Pedro Ribeiro,Tomaz Teixeira, Valdir Araújo ; e mais recentemente da Cabana do Rei, com músicas de Gonzagão, apresentado por Ana Maria Silva.
Há, ainda, os que se lembram da crônica diária Oração por um dia feliz, com D. Avelar; outros se reencontram com A Cidade Medita, do saudoso padre Raimundo José Airemoraes; e outros ainda com Sinal de Deus, com o padre Tony – estes, todos eles, depois se tornaram membros da Academia Piauiense de Letras.
A tradição da comunicação direta da Igreja Católica com o seu rebanho foi retomada há pouco pelo arcebispo de Teresina, D. Juarez Marques, com o programa Para que todos tenham vida, levado ao ar de segunda a sexta-feira, ao meio-dia.
Outros campeões de audiência
É impossível não recordar a comunicação irreverente de Gomes de Oliveira, no Programa do Galego, de aerrebatadora audiência; o programa Sertão por dentro e por fora, com Pedro Mendes Ribeiro, nas noites de domingo, ouvido em todo o Nordeste; e também o Correspondente do Interior, com Arisvaldo Alencar, e o Prego na chuteira, com Deusdeth Nunes Garrincha e seu humor impagável.
Entre os disque-jóqueis mais festejados, Gilberto Melo, com repertório de muito bom gosto; Weyden Cunha, absolutamente inovador com o seu Das três, simplesmente a melhor… E também Rita Araújo, com sua mensagem musical, e Benedito Machado, o Fortaleza, animado as noites teresinenses.
Ê Pioneira que tem história! Trago estas lembranças como ouvinte. Outros terão as suas, certamente.
Dedico estas lembranças à memória dos que, aos microfones ou nos bastidores, fizeram a história da Pioneira, “uma emissora que não para”, como sentenciou o Magro de Aço.
Nova era
E por não parar, a rádio, em sintonia com os novos tempos, migrou do sistema analógico para o digital (88.7 FM). Está presente também nas plataformas digitais, podendo alcançar hoje todo o planeta.
Nosso incentivo e nosso aplauso aos que dão continuidade à caminhada de nossa querida emissora.
Que tenham êxito em suas missões, pois a Pioneira, mesmo com os seus 62 anos, não é idosa, ela se renova e se destina a levar adiante a sua missão de promover a comunicação para a paz e a educação, através da evangelização e da humanização, seguindo fielmente os ideais e os sonhos de Dom Avelar, seu fundador.
Pela sua rica e exemplar história, a Pioneira já não é mais um patrimônio apenas da Arquidiocese, ou mesmo de Teresina.
É um patrimônio vivo do povo do Piauí e da comunicação brasileira!