O presidente Lula (PT) afirmou nesta terça-feira (30) que não houve “nada de grave” ou “de assustador” nas eleições da Venezuela no final de semana e que a contestação da reeleição de Nicolás Maduro pela oposição é “um processo normal”.
É a primeira vez que Lula se manifesta sobre o pleito, realizado no último domingo (28). A fala foi em entrevista à TV Centro América, filiada da Rede Globo em Mato Grosso. Lula vai na quarta (31) a Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Ele irá acompanhar ações de combate ao Pantanal em Corumbá (MS) pela manhã e, à tarde, vai às regiões de Sinop (MT) e Cuiabá para ver obras de infraestrutura de aeroporto e de habitação, respectivamente.
Este não é um reconhecimento de resultado pelo governo brasileiro, segundo o presidente. Em conversa com Maduro, o ex-chanceler Celso Amorim, assessor especial da Presidência enviado para acompanhar a votação, reforçou o pedido de cobrança de atas, e o governo só deverá se pronunciar após uma revisão interna.
A eleição está resvalando em Lula desde antes do pleito. Aliado histórico de Maduro, Lula demorou a reconhecer que as prévias do processo eleitoral estavam passando por processos questionáveis, com duas candidatas da oposição impedidas de disputar o pleito.
Entrevista não constava na agenda oficial da Presidência na manhã desta terça. A agenda foi atualizada às 17h27 (horário de Brasília), só após as falas começarem a ser reproduzidas pela GNews, para incluir o compromisso.
O presidente também comentou sobre a nota divulgada pelo PT. O partido disse ter considerado a eleição pacífica, democrática e soberana. Para Lula, o partido “fez o que tem de fazer” e o comunicado é um “elogio ao povo venezuelano pelas eleições pacíficas”. Protestos têm se intensificado com violência e repressão.
Veja falas de Lula sobre a Venezuela
“Lógico que vou reconhecer [a vitória de Maduro] a hora que for consagrada a vitória. Estou com meu ministro Celso Amorim na Venezuela desde sexta. Ontem à noite, ele teve uma conversa com presidente Maduro e com o candidato da oposição. Na conversa com Maduro, Celso disse que as coisas só vão ficar definidas quando apresentar a ata. Ele falou, vou apresentar a ata. Só não disse quando, mas disse que vai apresentar”.
“Então tivemos processo eleitoral que teoricamente foi pacífico, não houve violência, não houve nada disso, teve um resultado apertado. Sempre que tem resultado apertado as pessoas têm dúvida, você viu aqui no Brasil o que aconteceu”.
“O PT não tem que pedir pro governo para fazer as coisas. O PT é um partido que tem autonomia, embora seja meu partido, não precisa pedir licença para mim, faça o que se sentir melhor fazendo. E o governo faz aquilo que se sente melhor fazendo. Na hora que tiver apresentado as atas, e for consagrada que ata é verdadeira, todos nós temos obrigação de reconhecer processo eleitoral na Venezuela”.
“Há uma proposta que Brasil, México e Colômbia assinassem uma nota conjunta [sobre a Venezuela]. Acho que não é necessário muita coisa, não, acho que não é necessária, o presidente Maduro sabe perfeitamente bem que quanto mais transparência houver, mais chance ele terá de ter tranquilidade para governar a Venezuela. Porque nos, eu enquanto cidadão do planeta Terra, cidadão brasileiro e enquanto presidente, acho que é preciso acabar com ingerência externa nos outros países”.
“Acho que a Venezuela tem o direito de construir seu modelo de crescimento, de desenvolvimento, sem que haja bloqueio. Bloqueio que mata Cuba há 70 anos, que penaliza o Irã, penaliza a Venezuela. Para com isso. Cada um constrói seu processo democrático, cada um tem seu processo eleitoral”, Lula, em entrevista a filiada da Globo.
Fonte: Folhapress