Na última quarta-feira, 10, a piloto Juliana Turchetti morreu em um acidente durante uma operação de combate a incêndio nos Estados Unidos. Ela tinha 45 anos e foi a primeira brasileira a voar em turboélice e em uma aeronave modelo Fire Boss, segundo o Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag). Este último modelo era justamente o que Juliana conduzia quando a tragédia aconteceu.
Em sua última postagem nas redes sociais, a brasileira fez questão de exaltar a função dos bombeiros. “Não é só um trabalho, é um chamado”, escreveu. Nascida em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Juliana entrou para a aviação em 2007, quando foi instrutora de voo e, posteriormente, copiloto e piloto em aviões Boeing 727 e 737.
Já a paixão pela aviação agrícola começou em 2013, quando entrou para o segmento. De lá para cá, a piloto fez mais de 6,5 mil horas de voo, conforme cita o Sindag.
Pouco antes de se mudar para os Estados Unidos, a mineira participou do quadro Quem Quer Ser um Milionário?, que na época fazia parte do programa Caldeirão. Da brincadeira, ela levou R$ 5 mil para casa após errar uma pergunta. “Já que eu não fiquei milionária no Caldeirão, espero ficar voando muito”, brincou.
Além da participação em um programa televisivo, Juliana também acumulou muitas “primeiras vezes” no currículo. Isso porque ela foi a primeira brasileira a voar em lavouras nos EUA e também foi pioneira no Brasil na condução de aeronaves de turboélice e do avião agrícola modelo Fire Boss. No país norte-americano, a mineira vivia desde 2018 e foi casada com o piloto estadunidense John Coppick.
A paixão por voar era tão presente em sua vida que até quando decidiu abrir um empreendimento, deu um jeito de citar a aviação. Além de piloto, Juliana era dona da cafeteria Aviatori Coffee House desde 2022. O estabelecimento ficava em Springfield, no Estado de Illinois.
Combate a incêndios
Mesmo com a nova função de empresária, ela continou voando em lavouras e passou a combater incêndios em regiões agrícolas. Segundo o Sindag, Juliana completou o treinamento para operar hidroaviões com chave de ouro. Em fevereiro deste ano, se tornou a primeira brasileira a voar no modelo AT-802F Fire Boss, durante a etapa de treinamento na Flórida.
Sua primeira operação oficial com a aeronave, no entanto, só ocorreu em 4 de julho, data da Independência dos Estados Unidos. Ela foi responsável por combater o fogo em uma região próxima a um aeroporto no Estado de Washington.
No Linkedin, Juliana fez questão de publicar o momento. “Alguns nos chamam de heróis. Bem, esse é um título pesado para carregar. Gosto de dizer que somos pessoas comuns fazendo algo extraordinário”, escreveu na postagem.
Acidente
A tragédia ocorreu no Estado de Montana, no oeste dos EUA. Juliana fazia parte da equipe que combatia as chamas na Floresta Nacional de Helena, cidade do Condado de Lewis e Clark. Às 15 horas do horário de Brasília, a piloto teria sofrido um acidente ao realizar a manobra de scooping.
A operação nada mais é que pousar a aeronave em um lago ou represa e seguir a corrida, captando água para o reservatório. Logo depois, a decolagem é refeita. Segundo relato à imprensa do xerife de Lewis e Clark, Leo Dutton, a brasileira estaria em segundo no circuito de toque, corrida e decolagem quando partiu para realizar o último scooping.
Foi então que o avião pareceu ter batido em algo e afundou na água. As investigações sobre as causas do acidente seguem com o Conselho Nacional de Segurança nos Transportes dos EUA (NTSB, na sigla em inglês).
O corpo da mineira foi encontrado no mesmo dia, às 20 horas do horário de Brasília. Em nota, os governadores de Montana –onde ocorreu o acidente–, Greg Gianforte, e de Idaho, Brad Little, lamentaram a morte de Juliana.
“Estamos profundamente tristes em saber do falecimento da jovem bombeira florestal que tragicamente perdeu a vida respondendo ao incêndio Horse Gulch em Helena, Montana (…) Nós nos juntamos a todos os habitantes de Montana e Idaho em oração pela família e amigos da heroína caída durante este momento trágico”, diz comunicado.
O Sindag também veiculou uma nota de pesar sobre a tragédia. “Juliana representava não somente a determinação e a coragem dos pilotos brasileiros, mas era também um exemplo de profissionalismo pela linda trajetória, valorizando o papel das mulheres no setor e sendo fonte de inspiração para muitos”, destaca.