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‘Festejos da Padroeira’ de Pedro II tornam-se patrimônio imaterial do Piauí

A Paróquia de Nossa Senhora da Conceição dos Matões teria sido criada pela Lei Provincial nº 295, de 26 de agosto de 1851. Vem da doação feita por João Alves Pereira de 1,5 Km2 de terra à Igreja.  O núcleo social ali constituído seguiu o padrão dos demais núcleos populacionais do Estado do Piauí à época, isto é, baseou-se na fazenda e na família.

 

Uma das alcunhas do município de Pedro II é ‘Terra de Nossa Senhora da Conceição’ (padroeira do município). No município há uma segunda paróquia, a de São José Operário, criada em 1990.

A escritora pedro-segundense Maria Luiza Leite (de saudosa memória) assim descreveu o primeiro centenário da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição em seu livro Memórias de minha terra (Teresina: Invista Publicações e Editora, 2007, 166p).

 

Em 1951, no dia 11 de agosto, com uma grande programação, foi comemorado o primeiro centenário de nossa paróquia – Nossa Senhora da Conceição.

Era pároco naquela época padre Áureo José de Oliveira que estando reconstruindo a Igreja Matriz, que havia sido demolida. Fez o lançamento da pedra fundamental da Igreja numa grande comemoração com a presença do Senhor Bispo de então, Dom Hipólito de Sousa Libório. Foram padrinhos da pedra fundamental os jovens estudantes na época: Antonio Benício Freire e Silva, que cursava a quarta série do colégio Diocesano de Teresina São Francisco de Sales e a jovem Antonia Rosa da Silva, que cursava o primeiro ano pedagógico no Colégio Sagrado Coração de Jesus, em Teresina. Toda a programação da festa, atas e relatórios às comemorações daquele centenário, foram enterrados em invólucro adequado junto com a pedra fundamental. Diz-se, com o objetivo de serem desenterrados no segundo centenário da paróquia.

No dia 08 de dezembro de 1881, era fundada a paróquia de Nossa Senhora da Conceição na Vila do Pequizeiro, pelo padre Roberto Aguiar Almeida. Muitos padres passaram por essa paróquia. Eles fizeram casamentos, batizados e celebraram os festejos da Imaculada Conceição. Foi num passado muito distante em que tudo era tão diferente” […].

Voltemos ao nosso texto. Se o centenário da paróquia ocorreu em 1951, significa que nesse ano da graça de 2024, a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição completa exatos 173 anos.

Todas as gerações de pedro-segundenses, sem exceção, têm boas, saudosas memórias dos festejos desde a infância e adolescência. O sabor do quebra queixo, do pirulito comprado do tabuleiro, do algodão doce, das músicas religiosas, das barracas de palha de palmeira, dos parques com canoinhas de balanço, dos namoricos sob os pés de oitis da Praça Domingos Mourão, onde localiza-se a igreja  matriz, enfim.

Ou a lembrança de personagens como a do senhor José Jorge Galvão (Zé Gato, por ter olhos verdes), um homem baixote, atarracado, forte, na casa dos 130 kg, e que era o sacristão e o maior gritador de leilões dos festejos da padroeira desde o tempo de Padre Áureo (1950) até início dos anos 1980, quando migrou para Brasília, vindo a falecer por lá.

As coisas mudaram, os gostos, os sabores, as tecnologias, mas a fé das pessoas na santinha continua inabalável ao longo de mais de um século e meio. Hinos em seu nome foram compostos, como o belo “Hino à Padroeira” de autoria de Hernaldo Monteiro e Antonio Uchoa.  

Eis que esse evento acaba de torna-se patrimônio imaterial do Piauí graças ao Projeto de Lei nº 134/2024, de autoria do deputado Wilson Brandão.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) define como patrimônio imaterial “as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados – que as comunidades, os grupos e, em alguns casos os indivíduos, reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural.” (Portal Iphan).

Trata-se, pois, de um acontecimento do maior significado, que resgata, não apenas para a comunidade católica, mas para a cultura do estado uma dívida secular.

O PL do deputado Wilson Brandão, que é também acadêmico da APL (Academia Piauiense de Letras) e da APLA (Academia Pedro-segundense de Letras e Artes) nos deixa a todas e a todos felizes. A já famosa máxima segundo a qual “o município de Pedro II é um celeiro cultural” ganha mais uma confirmação.

ERNÂNI GETIRANA (@ernanigetirana) é professor, poeta e escritor, autor de livros, dentre eles “Debaixo da Figueira do Meu Avô”. É membro do IHGPI (Instituto Histórico e Geográfico do Piauí), da ALVAL (Academia do Vale do Longá), da APLA (Academia Pedro-segundense de Letras e Artes), do Coletivo P2, além de coordenador o espaço cultural ‘Toca das lendas’. Escreve às quintas-feiras para esta coluna. (27/06/2024).

(PS. A bela fotografia da Igreja Matriz de N.S. da Conceição é de autoria do amigo Marcelo Coleta, a quem agradeço).

 

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