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segunda-feira, novembro 25, 2024
Dengue

Poemas

E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?
                              (Caetano Veloso, Língua)

 

RESOLVÊNCIAS

Ernâni Getirana

Hoje o dia resolveu
Se espichar matreiro
Sobre a réstia de poesia
Que me espreitava da janela oblíqua do olhar dela.
Seus dedos matinais
Colheriam rosas orvalhadas
Que pendiam sonolentas Para além da borda penumbrosa
De um coração sonoro que auscultava o meu.
À tarde os dedos Crispados por dardos solare
Trariam luz e calor
Ao que antes fôra indefinível imprecisão de bocas vorazes
Num banquete de fome. Idos os anéis, ficados os dedos
Mas agora, então, noturnos animais
Esgueirando-se, diáfanos,
Pela luz ausente do quarto
Mergulhados no sono
Mas já quase famintos cretáceos
Esgueirando-se rumo aos róseo-avermelhados tons
Da aurora do corpo dela

REALIDADE PLÁSTICA
Sacos de plástico ao vento
Homens de plástico confusos, transparentes
No lugar do coração o logotipo de alguma multinacional
(fantasia de carnaval?)
No!
Homens de plástico desenhando no espaço
Etapas de um lento m.o.v.i.m.e.n.t.o.
Que parece não ter fim.
Sacos e homens patéticos
E o vento apocalíptico soooprando.
Vento morno des(em)pregando ex-homens metais
Homo-faber que mora no ABC e mal sabe ler.
Impasse, grave greve decretada. Paralização geral.
À mesa, feito água e azeite trocam palavras de bolha de sabão (irredutíveis patrões)
Fortes desejos expostos de importância CAPITAL.
Lá fora sacos de plástico vazios
Vazios os estômagos dos filhos de Adão.
Homens de plástico esmagados ao chão.
Seus filhos famintos entulhados em barracos.
Pares de olhos que desde cedo
Começam a ver um mundo imundo
Bocas fechadas ao protesto e à comida
Corpos esqueléticos, tentativas de vida
Em meio a um voo suicida
Involuntários kamikazes brasileiros.
Lavados pelas correntes de vento
Esboços de homens
Desfilam em c.â.m.a.r.a. l.e.n.t.a
Numa melancólica agonia.

 

LUA FURIOSA

Brilho, brilho, brilho
O que vejo em ti é brilho
Na opaca realidade cotidiana
Sob a derme adormecida
Sob a alma combalida de teus coronéis
Brilho, brilho, brilho
Corpos ardentes, a Deus tementes,
Perdidos nas escuras alcovas
Das damas de outrora e seus anéis
Brilho, brilho, brilho,
Que vem das profundezas de tuas entranhas
Das estranhas coisas que somos:
Pedra sem dono, carrosséis

ERNÂNI GETIRANA (@ernanigetirana) é professor, poeta e escritor. Pertence à APLA, ALVAL e IHGPI. Participou recentemente do Bate-papo literário com o prof. Luiz Romero falando sobre o Salão do Livro de Pedro II, SALIP2, ocorrido em março de 2024 naquela cidade.

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