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O valor da poesia de Cordel de João Vitor

Quando de uma oficina de Cordel ministrada por mestre Joames durante o II SALIP2, ele me confessou “professor Ernâni, esse rapaz, o João Vitor, é um bom cordelista e tem um belo futuro pela frente. E quem sou eu para desdizer o mestre? Pelo contrário, endosso suas palavras. Ele mesmo se define:

João Vitor de Andrade Santos é poeta cordelista desde 2017, tendo escrito seus primeiros textos sob influência do também poeta João Ferreira. Atualmente possui um livreto lançado em parceria com a Universidade Estadual do Piauí e dois folhetos publicados frutos de parceria com colegas poetas. É membro do Coletivo P2, presente em todos os eventos organizados pelo grupo, sendo um incansável amante das artes. Participou de quatro edições do Informativo da Licenciatura em Educação do Campo (INFORCAMPO), do Seminário Integrador da Licenciatura em Educação do Campo, participante da coletânea de Homenagens às mães organizada pelo escrito cearense Francisco de Assis, co-autor de livro organizado pelo professor e escritor Raimundo Silva.
Brindo aos meus leitores e leitoras com esse belo poema de JV.


O VALOR QUE A GENTE TEM

Mote: A gente vale o que é  
         E não aquilo que tem.

             I

Seja nascido no ouro
Num berço muito pobre
Não é um punhado de cobre
Que será seu maior tesouro
Seja no chinelo de couro
Todo mundo é gente também
Ninguém é mais que ninguém
E nem melhor inté
A gente vale o que é
E não aquilo que tem.

             II

De nada vale viver
Na ganância, cheio do luxo
Caçando para encher o bucho
Afogado no prazer
Se do nosso irmão esquecer
Sem lhe fazer o bem
Pois o outro é humano também
E liso ou de calo no pé
A gente vale o que é
E não aquilo que tem.

            III

Nascido de pele lisa
Vivendo só de aventura
Ou tostado na quentura
Sempre suando a camisa
Levando da vida só pisa
Sem ter no bolso um vintém
Levante e grite amém
Pois sossegado ou na maré
A gente vale o que é
E não aquilo que tem.

            IV

Cheinho de carro de luxo
Andando na passarela
Ou jogado numa favela
Sem ter nada nem pro bucho
Mesmo de coração murcho
Nem nada que lhe provém
Nós samo pessoa também
Seja homem ou mulher
A gente vale o que é
E não aquilo que tem.

            V

Mesmo sendo matuto
Jogado dentro do mato
Sem ter muito aparato
Mas na vida sempre astuto
E parando um só minuto
Amando o que lhe convém
Sendo dotô ou Zé ninguém
Um amante da vida até
A gente vale o que é
E não aquilo que tem.

            VI

Seja empregado ou patrão
No luxo ou na misera
Bom de prosa e pilera
Sem possuir um só tostão
Ou um ente frio sem coração
Cheinho das nota de cem
Não tá nem aí pra ninguém
Mas seja o que Deus quiser
A gente vale o que é
E não aquilo que tem.

            VII

Não importa nessa vida
Guardar muito dinheiro
Seja feliz por inteiro
No peso certo e medida
Que o amor sirva de comida
Junto do carinho e do bem
Dê valor pro amigo também
E que ao lado sempre te quer
Pois a gente vale o que é
E não aquilo que tem.

            VIII

Num mundo perverso e cruel
Dum povo desleixado
Somos esquecido de lado
Na desigualdade sem véu
Oro e peço a Deus do céu
Pra querer sempre o bem
Que nunca despreze ninguém
Pois seja sabido ou Mané
A gente vale o que é
E não aquilo que tem.

(
João Vitor Andrade, Pedro II, PI, 15.06.2020).

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ERNÂNI GETIRANA (@ernanigetirana) é professor, poeta e escritor. Pertence à ALVAL, APLA e IHGPI. É autor de vários livros, dentre eles “Debaixo da Figueira do Meu Avô”. Escreve às quintas-feiras para esta coluna.

 

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