Ontem recebi a notícia de que o poeta Elio Ferreira estava respirando por aparelhos. Coincidentemente tenho livros sempre com a capa voltada para quem entre em meu escritório. Um desses livros é o América Negra e outros poemas afro-brasileiros, do poeta supra citado.
Sobre a obra de Ferreira já escrevi para mais de um par de artigos de jornal. Num deles chamava a atenção dos leitores para seu livro-performance O contra-lei, de 1994. Nesse livro o personagem é fotografado em movimento andando dentro do livro enquanto o poema enorme corta as páginas do livro de ponta a ponta.
Vejamos um parte de um texto publicado em Letras UFMG sobre esse autor:
“DADOS BIOGRÁFICOS”
Elio Ferreira (Elio Ferreira de Souza) nasceu em Floriano, no Estado do Piauí, em 14 de maio de 1955. Poeta, ensaísta, professor de literatura, capoeirista, rapper, e técnico em educação, Elio Ferreira é uma figura múltipla que, como ele próprio afirma, gosta de “viver de acordo com o tipo de poesia q [sic] escreve”1. Durante a época de lançamento do seu livro O contra-lei (O ciclo do fogo), vestia-se com uma capa preta, pintava o rosto e saía pelas ruas carregando uma bandeira do Brasil e um megafone para realizar performances com suas poesias. Além de todas essas profissões, o poeta exerceu, dos nove aos vinte anos, o ofício de ferreiro, que aprendera com o pai. Apesar de ter deixado a profissão para estudar letras em Brasília, Elio Ferreira não deixou de usar o ferro, o martelo e o fogo como instrumentos de trabalho, convertendo-os em algumas das imagens mais recorrentes em sua poesia. A temática de seus poemas, que oscilam entre uma forte influência do concretismo e o uso de formas mais simples, é bastante vasta. Pode-se, no entanto, destacar neles a atestação do impacto da diáspora negra nas Américas, bem como a crítica política e social. E é através desses núcleos temáticos que a tarefa de escrever se define para ele:
“[Escrever] é uma maneira de falar para o mundo, contar a história dos meus antepassados negros e a minha própria história, influindo e participando na transformação da sociedade através da denúncia contra as violências racial e social”
Publicou os seguintes livros de poesia: Canto sem viola (1982), Poemartelos (o ciclo do ferro) (1986), O contra-lei (o ciclo do fogo) (1994), O contra-lei e outros poemas (1997) e América Negra (2004). Publicou também, em 2005, o livro Identidade e solidariedade na literatura do negro brasileiro: de Padre Antônio Vieira a Luiz Gama, com o qual obteve a primeira colocação no concurso de ensaios Mário Faustino, da Fundação Cultural do Piauí – FUNDAC. Estudioso da cultura e literatura afro-brasileiras, concluiu, em outubro de 2006, sua tese Poesia negra das Américas: Solano Trindade e Langston Hughes, recebendo o título de Doutor em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco.
Atualmente, Elio Ferreira é professor de literatura pela Universidade Estadual do Piauí e curador do Projeto Roda de Poesia & Tambores”.
ERNÂNI GETIRANA (@ernanigetirana) é poeta e escritor. Escreve às quintas-feiras para esta coluna.