Em 2007 eu entrevistei muitas pessoas em Pedro II sobre a gema de opala para meu mestrado. Uma delas foi o senhor Francisco Silvino Mendes, conhecido como Simão que. à época, ia completar 83. Reproduzo uma pequena parte da conversa que tivemos. O Sr. Simão faleceu parece que em 2012. Oficialmente foi a primeira pessoa a encontrar uma gema de opala naquele município. Eis um trecho da longa conversa que mantivemos.
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Pesquisador: Seu Simão, eu queria saber o nome completo, a sua idade e depois eu queria saber como é que o senhor achou a primeira opala em Pedro II
Sr. Simão: Meu nome é Francisco Silvino Mendes, né? Minha idade é 83 anos. Eu nasci em 1924. No dia 20 de dezembro de 1924.
Pesquisador: Certo. Então, um dia desses eu estava lendo sobre a opala em Pedro II num livro da professora Tangneth Galvão, e lá vi o seu nome. E aqui agora falando com o seu amigo Sitõe ele falou: “O seu Simão é ainda uma pessoa viva e mora ali no bairro [Boa Esperança], se quiser pode conversar com ele”. Eu fiquei muito emocionado porque realmente é interessante falar com o senhor.
Sr. Simão: O Sitõe é o que mora aqui, bem aqui?
Pesquisador: Exatamente.
Sr. Simão: É até desses Mendes …
Pesquisador: Exatamente isso.
Sr. Simão: Sobrinho do Miguel Mendes…
Pesquisador: Isso mesmo. É que eu queria que o senhor contasse sua história. Como é que o senhor encontrou a opala?
Sr. Simão: (Risos) Eu vou contar agora. É o seguinte: eu estava trabalhando, limpando o mato, né? Quando encontrei a opala. A pedra de opala, que eu nunca tinha visto. Eu achei a pedra muito bonita, peguei pra casa e botei lá no caritó. Passou, passou aí depois os meninos derrubaram a pedra lá do caritó e minha mãe levou no cisco pro mato. Lá pro lascador de lenha.
Aí um dia, eu fui cortar um pau de lenha pra fazer um café meio dia, vi uma coisa esquisita no chão, né? Aí eu olhei, aí eu digo: ah, minha pedra que tá aqui. Aí tornei guardar. Aí eu conversando com o Cazuza Pequeno, que era o rapaz que trabalhava com capitão Lauro [Cordeiro], ele disse: “Rapaz, o capitão Lauro¹ [Cordeiro] anda atras de quem tem pedra preciosa, deixa eu olhar essa tua pedra. Aí quando olhou, se espantou: “Rapaz, isso daqui é opala!”. Eu me espantei (risos). Digo “Rapaz, isso aí é uma opala?”. Porque eu já tinha ouvido falar em opala também, né?
Pesquisador: Ah, quer dizer que o senhor já tinha visto falar em opala?
Sr. Simão: Eu já tinha visto falar.
Pesquisador: Tá certo.
Sr. Simão: É. Aí, aí .. “Rapaz, agora você faz questão para eu apresentar ao capitão Lauro? Porque ele anda atras de pedra preciosa em uma trilha aí em qualquer lugar…”, disse o Cazuza Pequeno. Eu disse: “Não, eu faço questão não”. A pedra pesava bem uma quarta [250 g]. Pedra bonita! (risos). Tá ciscando fogo, né? . Aí ele trouxe a pedra, né? Aí quando o capitão Lauro [Cordeiro] viu a pedra disse: “Isso aqui é opala !”. Aí Que ele fez? Arrumou, ajeitou logo uma dúzia de homens, né? No outro dia chegou o cangaço, lápara explorar aonde eu tinha achado a pedra. Aí continuou.
Pesquisador: Como era o nome do lugar?
Sr. Simão: Aquilo é Boi Morto, hoje tá por Boi Morto. Mas o nome era Crispim. Mas depois da mina de opala. Mudaram o nome para Boi morto. Por que o senhor já ouviu falar, né? A mina do Boi Morto.[continua]
(Obs: ¹ Lauro Cordeiro foi prefeito de Pedro II)
ERNÂNI GETIRANA (@ernanigetirana) é professor, poeta, escritor. Proprietário do Espaço Cultural ‘TOCA DAS LENDAS’. Autor de vários livros, dentre eles “Debaixo da figueira do meu avô”, 2019 [ISBN 978-85-509-0453-5] e na Amazon. Escreve àsquintas para essa coluna.