A morte de uma policial civil e de dois homens em um tiroteio no sábado (16), em São Paulo, evidencia o lado trágico da liberação de armas, afirmou o coronel José Vicente, da reserva da Polícia Militar de São Paulo, ao UOL News desta segunda (18).
“O tal empresário, na verdade, era uma pessoa que tinha indiciamento por homicídio e agressão, que são manifestações criminais graves. No entanto, não houve o cuidado de quem tomou a decisão judicial para que ele cumprisse o processo em liberdade de pedir o cautelamento e a entrega das armas dele.”
“Se ele [o funcionário do empresário] era CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador) ou não, essa é uma das tantas tragédias que existem e vão continuar existindo porque a liberalidade do acesso às armas para pessoas despreparadas, que não basta atirar no alvo, no barranco ou no estande de tiro para qualificar o indivíduo ao uso da arma. Estamos ampliando o potencial de tragédia desse tipo.”
“Não vejo a menor utilidade, em um país violento como o Brasil, que tem menos armas e mata mais que os Estados Unidos, ter categorias tão prestigiadas como caçadores, atiradores e colecionadores. Não têm a menor relevância social para a sociedade e para o país, ter tamanho prestígio e possibilidade de acesso a uma quantidade enorme de armas e munições.”
“Além de crimes como esses, tem problemas e incidentes domésticos devido às armas que aparecem em grande quantidade, sem contar o desvio para grupos de criminosos. Esse é o lado trágico para a liberalidade de armas.”
O que aconteceu
Foram mortos uma policial do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), de 39 anos, o proprietário de uma casa e um vigilante que trabalhava na residência. Segundo informações que o UOL teve acesso, uma equipe da polícia fazia vigia no perímetro quando foi alvejada pelo proprietário da casa.
Um furto no endereço no dia anterior teria motivado a presença da equipe policial na rua. Os agentes estavam fazendo “campana” e tentaram pedir imagens na casa ao lado de onde teria ocorrido o furto. Segundo a SSP, a policial tocou a campainha de uma casa para pedir ao proprietário imagens das câmeras de segurança.
Um vizinho, que teria ficado sabendo do furto, acreditou que os policiais seriam, na verdade, os criminosos —e teria avisado o proprietário da casa. Nesse momento, o dono da casa e um funcionário, que seria CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador), teriam disparado contra os policiais.
O dono da casa, um empresário de 56 anos, recebeu a policial a tiros, segundo a SSP. “O colega dela reagiu e acertou o atirador. Um funcionário, de 49 anos, pegou a arma do chão para atirar nos policiais e também foi baleado”, informou a pasta por meio de nota.
O policial que acompanhava a investigadora também disparou — morreram o proprietário da casa, o vigilante e a agente. As informações foram confirmadas pela SSP (Secretaria da Segurança Pública de São Paulo).
Homicídio, lesão corporal e crime ambiental
O empresário possuía passagens por homicídio, lesão corporal e crime ambiental, segundo a SSP. O caso foi registrado como homicídio e morte decorrente de intervenção policial na Divisão de Homicídios do DHPP, que investigará o caso.
A policial e o empresário foram levados a um hospital, mas não resistiram. Já o terceiro homem morreu no local, que passou por perícia. O resgate foi acionado após a troca de tiros.
As quatro armas envolvidas na ocorrência foram apreendidas. Duas eram dos dois policiais civis e duas do empresário. Na casa, os policias ainda encontraram porções de drogas, informou a secretaria.