Um vídeo que viralizou nas redes sociais mostra que um problema que afeta proprietários de Toyota Hilux em São Paulo chegou a outros estados. As imagens mostram que no aeroporto de Confins, em Minas Gerais, a administração local optou por aplicar uma trava neste tipo de caminhonete e em SW4 paradas em seu estacionamento, para tentar coibir uma onda de furtos da picape.
A medida extra de segurança foi tomada depois que a polícia prendeu suspeitos de furtar onze Hilux, seis delas no estacionamento do terminal aéreo. Na prática, ao chegar em seu carro, o cliente percebe uma placa explicando que o equipamento foi instalado por medida de segurança e que os funcionários do estacionamento podem retirá-la.
Apesar de o vídeo com diversas picapes estacionadas e apenas as Hilux com trava nas rodas ter viralizado nos últimos dias, a iniciativa começou em julho deste ano.
“O BH Airport informa que atua para ampliar a segurança de passageiros e visitantes nos estacionamentos do aeroporto. Devido à existência de quadrilhas especializadas em furto de carros do modelo Hilux no Brasil, adotamos, desde julho de 2023, a medida adicional de segurança de travar as rodas desses veículos – uma iniciativa que visa a proteção dos carros durante a passagem pelo nosso terminal”, disse a administração do aeroporto à coluna.
O problema não é novo. Quem vive no estado de São Paulo já deve ter ouvido falar das “Gangues da Hilux”, que no primeiro semestre de 2022 chegaram a levar mais de 800 picapes, segundo a Secretaria da Segurança Pública do governo paulista, ocupando o primeiro lugar absoluto entre as caminhonetes mais visadas pelo crime.
Com a alta dos roubos e furtos, foram feitas diversas ações para coibir a prática, e muitos grupos acabaram mudando para outras capitais. Belo Horizonte é uma das que sofrem com o assunto atualmente.
Por que a Hilux?
Kenia Leknickas, gestora de Operações TrakAssist Monitoramento e Assistência 24h, explica que a caminhonete, que é a mais vendida do segmento, é muito visada por criminosos porque tem peças caras e com alta procura no mercado ilegal. Já o SW4 – versão SUV da picape – compartilha a maior parte das peças com a Hilux.
“Muitos compram uma Hilux e não têm como manter com peças originais, e acabam recorrendo às peças roubadas. Outra questão é que, durante o furto, os bandidos trocam o módulo ECU (computador central do carro) por um pirata, assim conseguem dar partida. Esses módulos para furtar carros são caros, o que faz com que os bandidos invistam em apenas um modelo. O que dá acesso à Hilux já é comum no mercado, há até aluguel desse tipo de peça, produzida por hackers”, explica Kenia.
A especialista esclarece que o foco dos criminosos, e das ações de segurança, é na Hilux porque ela é a que mais demanda peças. “Se o mercado de peças tivesse demanda grande para outra picape, certamente a maioria dos bandidos teriam módulos para ela também”, argumenta.
O crime não acaba, só muda de lugar
Apesar de as ‘Gangues da Hilux’ terem dado uma trégua em Ribeirão Preto e região, Kenia explica que isso não significa que os criminosos tenham parado de furtar caminhonetes e de vender peças ilegais.
“Em 2023, tivemos muitas ações em Ribeirão Preto e outras cidades do interior de São Paulo para coibir o furto de Hilux. Isso fez com que as gangues migrassem para outras capitais e regiões metropolitanas, como Belo Horizonte. No estado de São Paulo, chegou em um momento que muitas seguradoras se recusavam a aceitar Hilux e SW4 devido à incidência de furtos. A polícia agiu, e as associações criminosas foram para outro local”, lamenta.