A iraniana Narges Mohammadi foi eleita nesta sexta-feira (6) Nobel da Paz por sua luta pelos direitos das mulheres e numa mensagem clara por parte de Oslo: a paz apenas pode ser possível com direitos iguais entre homens e mulheres.
A escolha ocorre num momento em que a revolta de mulheres no Irã foi respondida com repressão. Para os organizadores do prêmio, a escolha é também a todas as ativistas e mulheres que lutam pelos seus direitos no planeta.
O anúncio foi seguido imediatamente por uma pressão sobre o regime de Teerã para que liberte a ativista. Um dos apelos veio da ONU, num comunicado emitido nesta sexta-feira. Para a entidade, ela é “fonte de inspiração” para mulheres em todo o mundo. Segundo a porta-voz das Nações Unidas, Liz Throssell, as iranianas tem sido alvo de “intimidação por conta do que eles usam ou deixam de usar”.
Já o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, destacou que “direitos humanos e liberdade são fundamentais para a paz”. A escolha deve aumentar o isolamento do governo iraniano, apontam diplomatas.
Ao longo de sua vida já foi presa 13 vezes, condenada cinco vezes, sentenciada a um total de 31 anos de prisão e 154 chibatadas. Hoje, ela está detida. “O Comitê Norueguês do Nobel deseja honrar a corajosa luta pelos direitos humanos de Narges Mogammadi, pela liberdade e pela democracia no Irã”, disseram os organizadores prêmio.
Segundo Berit Reiss-Andersen, presidente do Comitê do Nobel, a iniciativa “também reconhece as centenas de milhares de pessoas que, no ano anterior, se manifestaram contra as políticas de discriminação e opressão do regime teocrático contra as mulheres”.
“A democracia está em declínio”, alertou a representante de Oslo, apelando para que o governo iraniano “escute seu povo”.
Origem da pressão
No caso iraniano, o movimento “Mulher, vida, liberdade” eclodiu depois da morte de Mahsa Amini, 22 anos, sob custódia da polícia de moralidade por uma suposta violação do código de vestimenta.
De acordo com o Comitê do Nobel, seu assassinato desencadeou as maiores manifestações políticas contra o regime teocrático do Irã desde que ele chegou ao poder em 1979. “Sob o slogan “Mulher – Vida – Liberdade”, centenas de milhares de iranianos participaram de protestos pacíficos contra a brutalidade e a opressão das mulheres pelas autoridades. O regime reprimiu duramente os protestos: mais de 500 manifestantes foram mortos. Milhares ficaram feridos, incluindo muitos que ficaram cegos por balas de borracha disparadas pela polícia”, afirmou Berit Reiss-Andersen.
Nesse contexto, a ativista e jornalista iraniana Narges Mohammadi, que iniciou sua carreira de décadas promovendo a sociedade civil e os direitos das mulheres, passou a ser uma das principais vozes.
Acusada de “espalhar propaganda”, Mohammadi, de 51 anos, está cumprindo 10 anos na prisão Evin, em Teerã. No ano passado, ela publicou o livro Tortura Branca sobre o uso do confinamento solitário e da privação sensorial pelo Irã contra ela e outras prisioneiras.
No aniversário da morte de Amini, Mohammadi e outras lideranças fizeram um protesto dentro da prisão de Evin, queimando seus lenços de cabeça.
Os protestos no Irã desde o ano passado levaram o governo a promover uma ondas de prisões que têm como alvo ativistas, jornalistas e intelectuais. Depois que os protestos eclodiram após a morte de Amini, as autoridades iranianas prenderam cerca de 20.000 pessoas.
Ao explicar o prêmio, o Comitê declarou que Narges Mohammadi liderou a luta “a contra a opressão das mulheres no Irã”.
Com informações da Folhapress