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quarta-feira, novembro 6, 2024
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Na ONU, Lula diz que extrema direita surge dos escombros do neoliberalismo

O presidente Lula (PT) discursou hoje na abertura da 78ª Assembleia-Geral da ONU e disse que “aventureiros de extrema direita” surgem dos “escombros do neoliberalismo”. Lula também criticou a desigualdade social no mundo, cobrando “vontade política” dos países ricos para solucionar o problema, e ressaltou sua volta à Presidência “graças à democracia”.

O que Lula disse

Como esperado, o presidente brasileiro fez um discurso voltado à defesa de mais espaço aos “países em desenvolvimento”, chamados por ele de “sul global”, e com fortes acenos à esquerda. Lula cutucou bilionários, criticou o neoliberalismo e fez referência indireta aos ex-presidentes Jair Bolsonaro (PL) e Donald Trump, dos Estados Unidos.

“O neoliberalismo agravou a desigualdade econômica e política que hoje assola as democracias. Seu legado é uma massa de deserdados e excluídos. Em meio aos seus escombros, surgem aventureiros de extrema direita que negam a política e vendem soluções tão fáceis quanto equivocadas. Muitos sucumbiram à tentação de substituir o neoliberalismo por um nacionalismo primitivo, conservador e autoritário.”

“Para vencer a desigualdade, falta vontade política daqueles que governam o mundo. Se hoje eu retorno na honrosa condição de presidente do Brasil, é graças à vitória da democracia do meu país.”

Lula cobrou responsabilidade direta dos “países ricos” tanto na questão do lento combate à fome e à desigualdade social quanto no aquecimento global. A defesa do “sul global” já tem sido muito tratada por Lula internamente e em reuniões internacionais, como o do G20, e é vista como a principal bandeira internacional do seu terceiro mandato.

“A desigualdade precisa inspirar indignação. Indignação com a fome, a pobreza, a guerra, o desrespeito ao ser humano. Somente movidos pela força da indignação poderemos agir com vontade e determinação para vencer a desigualdade e transformar efetivamente o mundo ao nosso redor.”

“A fome, tema central da minha fala neste Parlamento mundial 20 anos atrás, atinge hoje 735 milhões de seres humanos, que vão dormir esta noite sem saber se terão o que comer amanhã. O mundo está cada vez mais desigual. Os dez maiores bilionários possuem mais riqueza que os 40% mais pobres da humanidade.”

Em tom crítico, disse que a promessa dos R$ 100 bilhões anuais de países ricos para os países em desenvolvimento “permanece apenas isso, apenas uma longa promessa”.

“Não haverá sustentabilidade nem prosperidade sem paz. Conhecemos os horrores e os sofrimentos produzidos por todas as guerras. É perturbador ver que persistem antigas disputas não resolvidas e que surgem ou ganham vigor novas ameaças. Bem o demonstra a dificuldade de garantir a criação de um Estado para o povo palestino. A este caso se somam a persistência da crise humanitária no Haiti, o conflito no Iêmen, as ameaças à unidade nacional da Líbia e as rupturas institucionais em Burkina Faso, Gabão, Guiné-Conacri, Mali, Níger e Sudão.”

Este é o oitavo discurso do presidente na Assembleia-Geral da ONU, em que o Brasil tradicionalmente faz a primeira fala. Ele foi mais aplaudido em três momentos: quando foi anunciado, ao dizer que o Brasil estava “de volta” e ao falar na Amazônia.

“O Brasil está se reencontrando consigo mesmo, com nossa região, com o mundo e com o multilateralismo. O Brasil está de volta.”

Lula tratou ainda da sua pauta mais delicada internacionalmente: a guerra entre Ucrânia e Rússia. O presidente tem pregado paz e criticado posicionamentos de países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) ao fornecerem armas para o país invadido.

Ele e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, vão se reunir pela primeira vez ao vivo depois de meses de negociação. Até então, Lula negou convites de ir ao país e conversou uma vez com Zelensky por vídeo.

“Na Guatemala, há o risco de um golpe, que impediria a posse do vencedor de eleições democráticas. A guerra da Ucrânia escancara nossa incapacidade coletiva de fazer prevalecer os propósitos e princípios da Carta da ONU. A promoção de uma cultura de paz é um dever de todos nós. Construí-la requer persistência e vigilância.”

Além disso, citou vítimas do terremoto no Marrocos e das tempestades na Líbia, comparando com as mortes nas chuvas no Rio Grande do Sul. “Essas tragédias ceifam vidas e causam perdas irreparáveis”, disse.

Reconstrução diplomática

A fala marca a reestreia de Lula na abertura da Assembleia-Geral depois de 14 anos.

O Itamaraty tem buscado retomar posições tradicionais da diplomacia brasileira, reconstruindo pontes que foram abaladas após a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e colocar o país como protagonista da política internacional.

A gestão de Lula também busca se recolocar como negociadores de conflitos em busca da paz. Essa estratégia tem sido seguida no caso da guerra entre Rússia e Ucrânia e nas relações entre EUA e China.

Agenda na ONU

Lula também se reúne com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom, e o presidente do Paraguai, Santiago Peña.

Fazem parte da comitiva do presidente brasileiro os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, o assessor especial da Presidência Celso Amorim e a primeira-dama, Janja da Silva.

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